29/01/15

"PORTUGAL EM ROMA" - O REI NO EXÍLIO (II)

(continuação da I parte)

Rei D. Miguel de Portugal, O Tradicionalista
Veja-se agora o que diz J. P. Miguéis de Carvalho a A. J. Freire, em 9 do mesmo mês: "Em primeiro lugar S. A. partiu de Génova com passaporte em que era designado com o título de D. Miguel I chegou de Viterbo na manhã de 3 do corrente, e entrou em Roma na manhã do dia seguinte pelas 9 horas - 4 de Setembro. Apeou-se com a sua comitiva, 16 indivíduos na estalagem da Vila Paris, onde o estava esperando Camilo Luís Rossi, o qual com o Marquês de Lavradio se dirigiu pela volta do meio-dia a casa do Cardial Secretário de Estado.

Pelas duas horas da tarde apresentou-se a S. Alteza o Major da Praça para oferecer-lhe uma Guarda de honra, que não foi aceita, e cumprimentá-lo da parte do General das Armas, o qual mais tarde compareceu em pessoa. Pelas 6 horas veio cumprimentar S. Alteza o Cardial Secretário de Estado, e dizendo-lhe S. A. que tencionava não sair de casa sem primeiramente ver o Santo Padre, respondeu o Cardial que trataria de o livrar da prisão quanto antes. Junto das Avé-Marias jantou S. A. em companhia do Marquês do lavradio à direita, António Joaquim à esquerda, Conde de Soure e D. Bernardo de Almeida. Quando S. A. Começou a jantar apresentou-se Mons. Fieschi, Mestre de Câmara do Papa, para cumprimentar S. A. em nome de Sua Santidade. Alguns Cardiais foram à noite cumprimentar S. A.".

O mesmo ao mesmo no dia 9 de Setembro: "O Cardial Secretário de Estado disse a alguns indivíduos do Corpo Diplomático que o Sr. D. Miguel se achava quase sem meios de subsistência, que lhe não pegavam a sua Pensão, e que tinha vendido uma parte dos seus brilhantes. Corre voz que o Papa mandara pôr à disposição de Sua Alteza 50 mil escudos romanos. Pelo contrário consta que S. A. traz não pequena quantidade de dinheiro consigo, além de que se diz ter à sua disposição em Londres e Paris. Quando S. A. chegou, entre a pouca bagagem que consigo trazia, se viu descarregar uma caixa que com muita fadiga dois homens puderam conduzir para o 1º andar da Estalagem. Esta caixa foi aberta para pagar os Postilhões, e se observou que estava cheia de peças de ouro de 20 francos. Nesta moeda se fizeram aqueles seus pagamentos, e se deram algumas esmolas, assim como se tem subministrado ao Mestre de Casa, Mordomo do Marquês de Lavradio o necessário para as despesas correntes."

Eis como Carvalho e Brito se refere à audiência do Santo Padre: "Sua Alteza entrava na sala onde o esperava o Papa, se prostrou a seus pés para lhos beijar, o que S. Santidade impediu, entendendo o braço com que o levantou. O Sr. D. Miguel começou a falar, mas não entendendo o Papa, entrou o Marquês de Lavradio a dizer: que Sua Majestade não entendia ter renunciado aos seus direitos ao Trono; que a convenção fôra obra da força para salvar a vida, e evitar outros males: que esperava que Sua Santidade continuasse a considerá-lo como Rei de Portugal, que fizesse em seu favor quanto estivesse de sua parte; que em Génova e Milão tinha recebido cartas de Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia em que se lhe assegurava que os Soberanos das três potências do norte não deixariam perder a ocasião para reintegrá-lo.

Diz-se também que pediram ao S. Padre que fulminasse quanto antes a excomunhão, e que o Santo Padre respondera, tanto a este como aos outros artigos, evasivamente, ainda que mostrando-se muito irritado contra o procedimento do governo em matérias eclesiásticas: prometeu contudo de considerar o Senhor D. Miguel como Rei, e o Marquês como seu Embaixador.

O Papa ainda até hoje (12 de Setembro) não pagou a visita ao Senhor D. Miguel, e ainda que se diz por motivo de uma pustula que tem no beiço superior Sua Santidade se acha sempre impedido para sair, contudo crê-se que a moléstia seja mero pretexto para diferir a visita."

D. Miguel partiu para Génova no dia 12 de Setembro, pelas duas horas e meia da tarde, num carro tirado a quatro cavalos de Posta, levando em sua companhia cinco pessoas. Miguéis de Carvalho, curioso, procura Mons. Capaccini que lhe diz:
- Já sei porque vem aqui.
- Qual?
- Saber o motivo da partida de D. Miguel.
- E qual foi?
- Rir-se-á; mas o verdadeiro motivo é a chegada a Génova de uma mulher que foi sua ama de leite, e que ele quer conduzir para Roma onde estará de volta em 8 ou 10 dias. Fez-se o possível para o desviar desta puerilidade, mas todos os esforços foram inúteis.
A família de S. Alteza deixou ontem (15 de Setembro) a Estalagem que ocupava, e passou a alojar-se no palácio Marescotti".

(continuação, III parte)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES