27/11/14

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XXXVI)

(continuação da XXXV parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

II Livro
O Mundo Interior

Cap.XI
São Poucos os Que Amam a Cruz de Cristo

1. Tem Jesus muitos que amam o Seu reino, mas poucos os que querem levar a Sua cruz.
Tem muitos que querem consolação, mas poucos que desejem participar de Suas penas.
Acha muitos que O acompanhem na mesa, poucos que o sigam na abstinência.
Todos querem alegrar-se com Ele, poucos os que, por Ele, querem sofrer alguma coisa.
Muitos O seguem até o partir do pão, poucos até ao cálice da amargura.
Muitos se maravilham com os Seus milagres, poucos se conformam com a ignomínia da cruz.
Muitos O amam enquanto não há adversidades, muitos O louvam e exaltam, enquanto d’Ele recebem benefícios. E, se Jesus deles se esconde, deixando-os por algum tempo, logo se queixam e se entregam ao desânimo.

2. Aqueles, porém, que amam a Jesus, por amor de Jesus e não de suas próprias consolações, do mesmo modo O louvam tanto nas penas como fora delas. Estes, de tal sorte se acham dispostos, que, ainda quando jamais os consolasse, não deixariam de O louvar e de Lhe render contínuas acções de graças.

3. Quanto é poderoso o amor a Jesus, quando puro e isento do próprio interesse!
Porventura não se hão de chamar mercenários os que querem servir em troca de benefícios?
Não se há-de dizer que mais amam a si que a Jesus, aqueles que sempre estão pensando nas próprias comodidades?
Onde se achará um homem que queira servir a Deus de graça?

4. Mesmo entre as pessoas espirituais, raramente se encontra uma que viva inteiramente desapegada de tudo. Quem descobrirá, pois, esse pobre de espírito, essa alma nua do amor de todas as criaturas? É necessário ir ao fim do mundo para encontrar esse tesouro. E se alguém der toda a sua fortuna por Ele, ainda é nada. Se fizer penitência, ainda é pouco. Se adquirir toda a ciência, está longe ainda. Se tiver grandes virtudes e devoção fervorosa, mesmo assim muito lhe falta; falta-lhe uma coisa que é sumamente necessária. Qual? Depois de haver deixado tudo, deixar-se a si próprio, sair totalmente de si, nada conservar do amor-próprio e, depois de fazer tudo quanto crê dever fazer, persuadir-se de que nada tem feito.

5. Estima em pouco que te avaliem por grande e confessa-te ingenuamente por servo inútil, segundo a palavra da Verdade que diz: "Depois de fazerdes tudo o que vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis."
Quando o homem chegar a este ponto, poderá chamar-se verdadeiro pobre de espírito e dizer com o Profeta: "Eu sou o único pobre."
Ninguém, contudo, é mais rico nem mais poderoso, nem mais livre do que ele, pois sabe deixar-se a si e a tudo o mais, considerando-se, por sua humildade, inferior a todos.

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