26/11/14

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XXXV)

(continuação da XXXIV parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

II Livro
O Mundo Interior

Cap.X
Agradecimento a Deus Pelas Suas Graças 

1. Para que buscas descanso? Prepara-te mais para sofrer do que para ser consolado; mais para levar a cruz do que para receber alegria. Que homem mundano não aceitaria de boa vontade a consolação e a alegria espiritual se sempre a pudesse ter?
Na verdade as consolações espirituais excedem todas as delícias do mundo e todos os deleites da carne.
Todas as delícias do mundo ou são vãs ou torpes; só as do espírito são suaves e honestas, geradas pelas virtudes e infundidas por Deus nos corações puros.
Ninguém pode, entretanto, lograr estas divinas consolações à medida do seu desejo, porque é diminuto o tempo em que não há tentações.

2. Um dos grandes obstáculos às consolações celestes é a falsa liberdade da alma e a presunçosa confiança que ela deposita em si mesma.
Deus não beneficia consolando-nos por Sua graça; nós, porém, andamos mal, não lhe agradecendo a divina dádiva com expressões fervorosas do nosso coração.
Não correm para nós, liberalmente, os dons da graça, porque somos ingratos ao seu Autor, não os atribuindo à fonte original. O reconhecimento das graças recebidas é sempre remunerado com a concessão de novas graças. Deus nega ao soberbo o que costuma dar aos humildes.

3. Não quero consolação que me tire a compunção, nem quero contemplação que me leve ao desvanecimento.
Nem tudo o que é alto é santo, nem tudo o que é doce é bom, nem todo o desejo é puro, nem tudo o que o homem ama é amado por Deus.
De bom grado aceito a graça, que me faz mais humilde, mais timorato, melhor disposto à renuncia de mim mesmo.
O homem instruído pela graça e castigado com a sua perda já não ousará atribuir a si mesmo qualquer valor. Pelo contrário, confessar-se-á pobre e desprovido de tudo.
Dá a Deus o que é de Deus e a ti o que é de ti.
Rende graças a Deus pelas graças que te tem dado; a ti só atribui a culpa reconhecendo-a digna de castigo.

4. Põe-te sempre no último lugar e alcançarás o primeiro. Porque neste não estarás sem aquele.
Os maiores santos diante de Deus são aqueles que menos presumem de si próprios. Quanto mais glória têm, mais humildes se fazem. Como estão cheios da verdade e da glória celeste, não cobiçam a glória vã do mundo.
Os que se fundam e se firmam em Deus, de nenhum modo podem ser soberbos. Os que atribuem a Deus todo o bem que recebem, não buscam a glória uns dos outros, mas ´so querem a glória que vem de Deus. Nada desejam, com mais ardor, do que ser Deus louvado neles, como em todos os santos; e estes desejos são renovados em cada momento.

5. Sê, pois, agradecido ao Senhor pelas menores graças e merecerás receber as maiores.
Tem em muito o pouco e seja-te preciosa a dádiva que parece pequena. Atendida a grandeza de quem dá, não parecerá jamais pouco o mínimo recebido. Nunca é pouco o que dá um Deus soberano.
Devemos agradecer-Lhe os próprios castigos que nos envia, pois que sempre ordena para nosso bem tudo quanto permite que nos aconteça.
Quem deseja conservar a graça de Deus, seja agradecido pela que recebeu e paciente pela que se lhe tirou; ore para que se lhe restitua e seja circunspecto e humilde para que não a perca outra vez.

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