28/11/14

CONTRA-MINA Nº 3: Planos do Jacobinismo, ou Maçonismo (IV)

(continuação da III parte)

ARTIGO 6º

Exércitos

"Enfraquecê-los, e desorganizá-los de maneira que pondo-os à discrição dos Representantes, nem o Rei nem os Ministros possam dispor deles; e por outra parte fazer subir o número das guardas nacionais, dando-lhes maior consideração que no Exército."

Eis aqui a paga, que os Revolucionários costumam dar aos Exércitos, por terem sido os agentes, e consumadores das suas empresas. A França actual não recomenda outra coisa mais fortemente, que o seu decautado milhão de Guardas Nacionais, ao mesmo passo que tem um grande Exército, que muito bem podia aliviar o Povo Rei de tão pesado encargo, qual é o serviço militar. Escuso de trazer à memória o entusiasmo dos Cívicos Lusitanos, de que só me lembro de passagem para que se veja, que todos os Revolucionários lêem pela mesma Cartilha; vou porém referir uma anedota, que vem muito ao caso, e que poderá servir de recreio a certos leitores quiçá desgostosos ou enfadados de tantas políticas vulgaríssimas, e sabidas de todo o mundo. Lá por esse anda errante, e vagabundo um Titular deste Reino, jovem por certo de grandes esperanças, e já as dava quando fez grandes actos, ou actos grandes nesta universidade. Tocou-me censurar-lhe as Conclusões Magnas de ordem do Excelentíssimo Bispo Conde, e meu sinalado, benfeitor, que nunca tive, nem terei outro semelhante, D. Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho. Das muitas Liberais Teses, era uma, a inutilidade e prejuízo dos Exércitos Permanentes, que no conceito do tal Estudantinho se devia proscrever para sempre.....

D. Francisco Pereira Coutinho, Bispo Conde de Coimbra
É para ver se as coisas são coerentes ou não, e se os Exércitos interessam muito ou pouco na existência dos Tronos? Basta por agora, que o Exército Português dará cedo larga matéria a um dos mais importantes Número deste Periódico.

ARTIGO 7º

Moral do Povo

"Tirar o freio às paixões, dedicar impunes os maiores alentados, conceder as honras de uma solene apoteose, aos que mais se distinguirem no crime."

Que tal e este? Sendo o último na série, que tenho adoptado, é talvez o primeiro em género de maldade, assim como também é o de mais fácil aplicação ao que temos visto, e ouvido já na 2ª Constituição Lusitana, já na 2ª Revolução Francesa. Não repetirei agora o que já disse no tocante à geral desmoralização, promovida nos fatais anos de 1826 e 1827, por quantos modos, e ates poderia sugerir o próprio Satanás, quando houvesse trasladado a sua residência infernal para este Reino; mas limitar-me-hei a certas perguntas soltas? Que castigo tiveram as façanhas constitucionais, desde os gravíssimos e pesadíssimos insultos feitos ao Bispo de Olba, ao D. Prior Mór de Cristo, e a outros Varões Ilustres que seguindo a voz de sua consciência, defenderam a boa Causa? Que castigo tiveram, os da sempre memoranda função dos Archotistas?.... Ou mereceram louvores, ou conseguiram absolvições triunfantes.

Quem deixa de saber como se faz, e celebrou na igreja de S. Domingos de Lisboa, a soleníssima apoteose dos pretensos Mártires do Campo de S. Ana [de Santana]? Quem ignora que outra que tal apoteose foi agora celebrada em Paris com inumerável concurso de Pedreiros em honra de quatro Réus de Lesa Majestade, que foram convencidos e justiçados por esta Causa? Pergunto mais, estimará o Povo, ou quererá fazê-lo Rei, quem o tornar escravo das mais sórdidas paixões, instrumento dos mais nefandos sacrilégios, e mais parecido a uma alcateia de Lobos, que a uma associação composta destes racionais? Desengane-se por uma vez este Povo, de que os Liberais, ou Pedreiros debaixo do pretexto de o livrarem de opressões, ou cadeias, não tratam de outra coisa mais que do enganar, e perverter, como se tem visto por uma contínua, e assaz cruel experiência de todos os Séculos, e de todos os Reinos, onde o espírito Revolucionário chegou a atear os seus incêndios; e para que se lhe torne mais fácil o desengano, lançarei aqui duas palavras do Jacobino Mór, já muitas vezes citado, e nunca bem definido senão em certo Epitáfio, em que se representa o Demónio enfadado de tal hóspede, e querendo expulsá-lo a todo o custo de seu tenebroso Reino; quero dizer, o Marquês de Mirabeau. "O Povo, dizia ele, é um rebanho estúpido, é necessário desencaminhá-lo para longe, procurando-lhe pastos, para o fazer esquecer do seu curral, ou estrebaria antiga, e fazer-lhe perder toda a lembrança de voltar para trás."

Daqui se colhe evidentemente o juízo, ou conceito, que os Liberais fazem, e farão sempre do seu querido, e tantas vezes mui pomposamente elogiado Povo, que no meu entender não pudera menos do que o Rei, em combater, e destruir o espírito Revolucionário. Já era bem fácil tirar esta consequência do que tenho exposto, e defendido, mas por ver o quanto grassa um certo erro, que já foi bem prejudicial à Europa nos fins do Século passado, tomarei a meu cargo desvanecê-lo por quantos meios estiverem ao meu alcance. Ninguém pode negar, que todos os Reis, designados pelos odiosos nomes de tiranos e déspotas, são aqueles, para quem se apontam os primeiros tiros da Facção Liberal, ou Pedreira; mas é absurdo pensar, que a Causa é somente dos Reis, pois deste modo, e talvez com segunda tenção se faz crer ao Povo, que a Causa é toda pertencente aos Reis, e que se eles caírem não terá o Povo nada que sentir, antes muito de que, se aplauda, e se chame ditoso, porém os factos clamam e gritam em contrário de tão louca, e perigosa asserção. O fim dos Revolucionários é já tão conhecido nomeadamente depois da Revolução Francesa de 1789, que deve ser contada entre os axiomas "Acabas com todas as distinções sociais, (assim escrevia em 1793 o grande Político, e grande Sábio Mallet Dupan) com todas as distinções, saquear todos os Proprietários, a Nobreza depois do Clero, os Lavradores depois da Nobreza, os Capitalistas de envolta com os Lavradores, o Comércio com os Capitalistas, e os Rendeiros com o Comércio. Esmagar os Proprietários com as mais excessivas e pesadas contribuições, até chegar o momento de serem com violência expulsos de seus Patrimónios. Conseguidos estes fins, entregar a Soberania, o poder, a força, os empregos, e os dinheiros ao Sans-culotes (ou Mações) exclusivamente."

Um texto assim não precisa de comentários, nem eu de mais argumentos para mostrar aos Povos, (os quais às primeiras labaredas do incêndio costumam pagar centos, e milhares de vítimas) que interessam, e pode ser mais que os Reis, em obstar quanto neles fôr, à propagação dos sofismas Revolucionários; e que estes nem se espalham às mãos cheias, nem se encaminham a outro fim mais que a tornar os homens todos escravos da maçonaria, está-se vendo, e como apalpando em todos os papeis, que saem das principais forjas da Seita. Não há muitos dias que eu li um fragmento do Patriota Francês, em que se estranha, e mui, acerbamente, que o Rei de Inglaterra ainda se obstine a dizer "o meu Povo, o meu Parlamento", quando só devia mudar de linguagem, ou dobrar a língua reconhecendo na Falha do Trono a essencial Soberania do Povo! É para ver se arestos de Novembro de 1830 são os mesmo de Junho de 1789! Não só vêem a ser os mesmo, o que já era muito para nos decidirmos pela mais rigorosa identidade das duas Revoluções, mas cumpre ainda notar, que das sete figuras, que muito influíram na redacção, e execução do plano da primeira, ainda vivem, e tem agora luzido consideravelmente nada menos que duas, que foram das menos principais em 1789, e anos seguintes.

Ah clemência dos Reis, clemência dos Reis quanto és nociva em certos casos, e mil vezes pior que a própria crueldade!!!

E não se deverá ela então antes chamar clemência para os maus, e crueldade paras os bons?

Coimbra, 9 de Dezembro de 1830
[ver Índice da Obra]

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