11/10/14

MUITOS JUDEUS SE CONVERTERAM, OUTRO NÃO, E OUTROS TRAIRAM

Com a transcrição do prólogo que segue quero salientar que:
1 - Houve cristãos novos exemplares;
2 - Houve judeus que se fingiram conservos por apego, e de forma disfarçada quiseram viver entres os cristãos;
3 - D. Manuel não foi "coagido" à expulsão, como hoje muitos querem fazer acreditar;
4 - Antes de Castela, já Portugal tinha anteriores exemplos de significativas conversões de cristãos novos.

Aqui vão as palavras de D. Fernão de Aragão, Arcebispo de Braga, Primaz das Espanhas, no séc. XVII:

"Parecendo-me que para acabar de se extinguir este tão grande mal da heresia, e pravidade judaica que anda neste Reino, bastava a piedade e vigilância ordinária da Igreja, e que assim ficava servindo mais o remédio da dissimulação e do tempo que o de canteiros de doutrinas: não tratarei de tomar a pena contra ele: esperando que o mesmo tempo em breve o consumisse, como havia feito em toda a outra parte, em semelhantes conversões: mas vendo agora que em lugar de se acabar com o tempo o mal; tomou mais força e penetrou, e calou; destruindo não somente o enfermo, e fraco, mas o são, e forte, e que estava já quase seguro; acho-me obrigado da trompeta que me soa cada hora nos ouvidos, e chama a juízo: a que ponha o peito ao maior mal, e acuda ao Reino, a quem sou mais obrigado com o talento que recebi de Deus, assim do conhecimento do mal, como do remédio fundamental dele.

Mas antes de entrarmos nesta obra se há-de advertir, que entrando ElRei D. Manuel de boa memória no governo deste Reino no ano de 1495, e achando nele uma cópia de gente do povo hebreu que ElRei D. João seu predecessor havia metido nele; desejando ganhar aquelas almas para Deus; movido de santo zelo buscou traças, e modos para levar ao fim seu intento; e favorecendo Deus alcançou ver baptizar-se uma grande parte dela, e receberam a fé com grande alegria e fervor, e fazerem muito fruto nela. Mas porque a ordem de ElRei, foi que os que não recebessem a fé fossem lançados fora do Reino, sucedeu como bem se deixou ver pelo efeito ao diante, que alguns que estavam duros em sua cegueira, estando afeiçoados à terra tomaram baptismo fingidamente, e não de coração, e como a tais pela vigilância dos Prelados no princípio e depois pela da Santa Inquisição descobriram-lhes com o tempo suas maldades, e sempre se foi achando depravação entre eles, e mau zelo, e ruins intentos; ficando por outra parte os que haviam tomado a Fé de verdade assim nesta conversão, como nas mais antigas, luzindo como estrelas no meio da geração prava sem se achar mácula neles em nenhum tempo: Mas não lhes valendo sua inocência, o mal dos maus lhe fazia dano, tomando ânimo o povo para os morder, e chamar contra eles, pelo mal que viam nos maus; cumprindo-se de alguma maneira neles aquilo dos figos do Profeta Jeremias que os bons eram óptimos, e os maus péssimos, como costuma ser onde haja emulações em religiões contrárias. Esta conversão que ElRei D. Manuel fez no ano de 1497, não foi a primeira que se fez do povo judaico à Fé Católica neste Reino, e muito menos em Espanha, porque antes dela se haviam feito muitas outras, como é notório e consta pelos Concílios antigos da Hispanha, onde se trata delas, e nas Ordenações velhas deste Reino está declarado, que das famílias que descendiam de conversões mais antigas que a de 1497 não fossem chamados com nome de Cristãos novos, senão de Cristãos velhos, e que aquele nome ficasse com os da conversão de 1497. Assim foram passando uns e outros largo tempo, os bons de cada vez mais alegres e constantes na Fé, e os maus com indiferença: porque houve tempo que o mal não andava senão em gente baixa e inculta, e era de tão pouca força que havia esperanças que em breve fosse extinto; e outras vezes ressuscitou, e levantou chama de modo que os ifcionados e os fracos pediram perdão por três vezes, e dando-se indulto geral para todo o passado, a última delas que foi no ano de 1605 encheu o Reino de gente de fora corrupta, e ensinada, e destra em seus erros, e desatinos: e a entrada destes foi causa do grande incêndio que depois se achou em muitos lugares do Reino, como estava antevisto: tendo eles como matreiros arte, e mancha com que não somente corromperam os de suas famílias inficionadas, e outros muitos de famílias limpíssimas, mas a muitas outras pessoas nobres e quase sem raça e que haviam tido limpa criação de seus passados: tão danoso é o trato destes lobos; principalmente quando vêm cobertos com pele de ovelhas, como o são quase todos os penitenciados. Pois o zelo de remediar tão grandes males, assim o da heresia, que tão vergonhosa e injustamente vai por diante, como o do mui grave dano que com a mesma injustiça se perpetua e cresce com a errada linguagem do vulgo contra infinita gente limpa e de mui Católico, de e honrado procedimento, e conhecida por essa: foram os dois motivos que me obrigaram a romper pelas dificuldades contrárias de minha pouca saúde, e as mais, e por o peito à empresa: pondo os olhos no prémio que posso esperar de Deus: Ele que só dá incremento aos bons, ponha sua virtude no que disser para que frutifique, e cresça." (Prólogo do "Doutrina Catholica Para Instrucção, firmação dos fiéis: Extincção das seitas supersticiosas, em particular do judaísmo", de D. Fernando Ximenes de Aragão - Arcebispo Primaz das Espanhas. Lisboa, 1630)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES