06/10/14

LEGITIMIDADE DOS FILIPES?

Os Filipes de Espanha não foram legítimos reis de Portugal. A afirmação de que estes teriam sido legítimos apareceu nos ambientes LIBERAIS (a corrente jurídica de inspiração iluminista basta-se com dizer que "legítimo" é tudo o que está dentro da lei emanada por uma "autoridade política"), foi assimilada pelos adeptos da hispanidad (devido às necessidades e situação mitigada da monarquia),  continuou a ser gradualmente aumentada pela maçonaria e república (para "legitimarem" os seus próprios desacatos).

Desculpe-se aos elementos do Integralismo Lusitano pela absorção do erro que aqui se avisa. Este movimento sempre portou deficiências de esperar pelo pensamento da época, e circunstâncias. Por melhor que pudesse ser a intenção, estes movimento e a militância da hispanidad acabam por reflectir determinados defeitos de doutrina, que guardam muito "religiosamente". Guardado e defendido o bem, ficam tais erros defendidos e guardados.

Infelizmente, os arautos da hispanidad julgam que os 3 Filipes foram legítimos em Portugal. Pior: chegam a acham que os Filipes regeram Portugal como integrado na Espanha. De vários adeptos da "hispanidade" tenho ouvido dizer que, nesse tempo, teria havido uma unidade (Portugal integrado na Espanha!), e que teria sido Portugal a quebrar a unidade por rebelião; e aplicam o mesmo a D. Afonso Henriques, como D. João I, e ainda D. João IV. Paremos aqui, que o delírio não é campo onde queiramos entrar de médicos, tratemos apenas de repor o conhecimento onde a ignorância fez estrago. Para alguns dos militantes da "hispanidad" estes reis portugueses não teriam sido legítimos; e para outros deles apenas D. Afonso Henrique foi legitimo, por não lhes permitir o riso dos sensatos contornarem a Bula Papal Manifestis Probatum (23 de Maio de 1179). Portanto... contas feitas, acharão talvez que os Filipes teriam sido os 3 legítimos, e que os outros 3 Reis de Portugal não o teriam sido, e com eles todos os restantes! Os liberais, depois a república e maçonaria, quase dizem o mesmo, com a diferença seguinte: louvam o que acreditam ser "rebelião" dos nossos 3 reis de Portugal, enquanto que os da hispanidad atacam essa inexistente "rebelião" (que parecem querer fazer existente). Por fim, muitos destes assim almejam que Portugal e Espanha sejam UM (excomungue-se o Santo Condestável!!), e mais: que Espanha comande! D. Afonso Henriques é Venerável da Santa Igreja (grau antes de Beato), apoiado pelo muito milagroso S. Teotónio; D. João I, Mestre de Ordem Religiosa de Cavalaria, apoiado pelo Santo Condestável de Portugal (D. Nuno Alvares Pereira, de onde nasceu depois a Casa de Bragança); D. João de Bragança (João IV) foi bem anunciado em visões celestiais (Venerável Irmã Leonor Rodrigues) por Sta. Teresa de Ávila, e quem coloca Portugal aos pés e guarda da Imaculada Conceição, a quem coroa. São estes os "ilegítimos" daqueles que querem fazer "legítimos" aos estrangeiros.

Ora bem.... em Portugal, antes do liberalismo roubar os Tronos da Cristandade (e Portugal foi o último entre todos os Reinos cristãos - 1834), sabia-se que aqueles nosso 3 ilustríssimos Reis não foram rebeldes, mas legítimos e heróis. Este conhecimento prevaleceu naqueles que foram conhecidos em Portugal chamados "absolutistas" (já quando o liberalismo "governava" por todo o lado).

Clarificando:

Como estrangeiros, e por mais sangue português que tivessem, os Filipes não podiam herdar o Trono de Portugal. Principalmente, resignámo-nos a estes reis, por termos gasto parte da Nobreza (batalha de Alcácer Quibir), outra parte em "venda".

D. Filipe, negociou (Côrtes de Tomar): respeitaria a independência de Portugal, ele ficaria à Coroa de Portugal (mantendo ao mesmo tempo a da Espanha), Portugal manteria a suas Côrtes, governação e autonomia. Enfim... um Rei com duas cabeças, em cada qual sua Coroa.

É legítimo aos portugueses tolerarem assim um rei ilegítimo, desde que se mantenha mais alto o dever de tentar devolver rei legítimo ao Trono. Não permite a nossa catolicidade de portugueses fazer propaganda ao tolerável, mas sim ao legítimo.

Filipe II de Espanha, ilegítimo Rei de Portugal
Com os 3 Filipes, houve gradual descontentamento: Portugal ia de inicialmente bem tratado a mal tratado, os espanhóis acabavam por interpretar o nosso como deles, e a situação chegou ao lastimável. A Nobreza há muito se tinha recuperado já das perdas de Alcácer Quibir, e os que se tinham deixado aliciar pelas promessas espanholas não queriam ficar com "cebolas do Egipto". A Casa de Bragança era a mais notável, e D. João, Duque de Bragança o maior dos Senhores, e cerca por sangue. Convergiam as condições para que a Nobreza devolvesse Rei legítimo ao Trono de Portugal - era a hora. Assim, reuniram-se os 40 Fidalgos, assim se orquestrou e fez, assim devolvemos Rei legítimo ao Trono de Portugal. Não houve uma revolução, houve uma REPOSIÇÃO.

Este acontecimento foi no séc. XX aproveitado pelos rebeldes, que o interpretam como revolução: com a finalidade de fazer entender que "agora sim há independência, tal como a tinha havido naqueles tempos de D. João IV", dizem; o mesmo fazem com a fundação de Portugal, e com a subida de D. João I aoTrono.

É verdade que nos tempos de D. João IV ouviu-se falar em "independência", como vemos em alguns escritos da época. Mas isto justifica-se por outros motivos que não os de revolução, ou sequer de suposta dependência oficial a Espanha. A "dependência" não sendo sequer oficial, como sabemos, foi gradual e circunstancial. Ao ripostarem militarmente, os espanhóis ameaçavam já colocar Portugal sob verdadeiro jugo; por isso, a vitória militar portuguesa tinha contado já com esta ameaça (a dependência apenas prática viesse depois a ser oficial, com duros castigos e possivelmente com alterações às Côrtes de Tomar). Por fim, há da nossa parte toda uma propaganda de exaltação depois da subida de D. João IV ao Trono: é notório certo uso dramático de "independência": quanto mais terrível é mostrado o perigo derrotado, mais alta fica pintada a vitória.

Não ousem alguns integralistas, não ousem os liberais-"monárquicos", não ousem os militantes da hispanidad usar o modelo daquela ilegitimidade. Olhai o que aconteceu sempre que fizemos tais unidades, e colocamos espanhóis no mando: qual armada invencível, vencida, onde forçados a lutar contra aliados antigos (camaradas na brilhante batalha de Aljubarrota, contra os castelhanos). Sempre que os espanhóis nos lideram, mais dia menos dia a derrocada dá-se, e é profunda. Por outro lado, quando somos convidados a auxilia-los a vitória é quase certa (veja-se o exemplo da batalha do Salado, ou o auxílio dado por D. Miguel I aos carlistas).

António Sardinha dizia que o nosso costume de ter muita atenção ao que vem de Espanha é exagerado. Mas é preferível o costume de séculos apoiado poe santa gente, e outras provas dadas, do que à opinião acidentada e passageira de um mal-convertido forjado em terra alheia.

2 comentários:

VERITATIS disse...

Caro Ascendens,

Segundo me lembro, a tese de António Sardinha – provavelmente influenciada pelos carlistas, visto que esteve 2 anos exilado em Espanha – era esta:

1) D. Filipe I de Portugal (II de Espanha) era rei legítimo.
2) A dinastia filipina era uma monarquia dual: um rei, duas coroas, dois reinos.
3) D. Filipe III de Portugal (IV de Espanha) abusou da sua condição de rei e começou a misturar os dois reinos, como se fossem um só, o de Espanha (ex: Cortes de Ayamonte, etc).
4) Pelo seu abuso, D. Filipe III tornou-se rei estrangeiro e foi legitimamente destronado.
5) D. João IV tornou-se legitimamente Rei de Portugal.

Como é evidente, a tese falha porque o 1º ponto não é verdadeiro.

Mas mudando de assunto, não percebo a relação entre a Restauração e o 5 de Outubro. A Restauração eclodiu a 1 de Dezembro e D. João IV foi aclamado a 15 de Dezembro. A Guerra da Restauração vai de 1 de Dezembro de 1640 a 13 de Fevereiro de 1668. Onde surge aqui a data de 5 de Outubro?

Cumprimentos.

anónimo disse...

Reaccionário,

Obrigado por comentar.

Datas actualizadas.

Limitou-se a dar opiniões contrárias ao artigo, e resolvi dar-lhe espaço as expor.

Cortes de Lamego: um estrangeiro não pode ser nosso rei. Assim não o foi D. Pedro quando passou a "imperador" do Brasil (e lutou contra as tropas de Portugal), assim não foram reis de Portugal os Filipes.

Volte sempre.

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