13/08/14

JUAN ALVAREZ MENDIZÁBAL - O Dinheiro do Antro ... (IV)

(continuação da III parte)

Entretanto, em Espanha, a luta política recrudescia e o Primeiro-ministro, Conde de Toreno, visando acalmar as reivindicações liberais, e a conselho do plenipotenciário britânico em Madrid, convida Mendizábal para ocupar a pasta das Finanças. Escudando-se, a princípio, acaba por pedir a sua exoneração ao Governo Português, sendo substituído por José Jaime Gama de Castro. Em 17 de Agosto de 1835 segue em Londres para Madrid, escalando em Lisboa, onde D. Maria o "condecora" [aspas minhas para indicar que só rei legítimo pode condecorar com a respectiva Ordem] com a Grã-Cruz da Ordem da Torre e Espada.

Aplicando medidas radicais, Juan Alvarez revelou-se personagem marcante da história espanhola. Procurando valer-se das amizades portuguesas, de Madrid escreve a Silva Carvalho, requisitando o envio de homens para combater as tropas carlistas (Setembro de 1835).

Após a queda de Toreno, apropria-se de todas as pastas ministeriais e inicia o famoso processo espanhol de desamortização (abolição do clero regular e consequente venda pública dos bens eclesiásticos). Sem apoio parlamentar, Mendizábal acabou por demitir-se, tendo-lhe sucedido o moderado Isuriz y Galliano.

Até ao final da vida ocupa, por duas vezes, a pasta da Faenda, não sem antes sofrer, de novo, o exílio. Regressa definitivamente em 1847, fixando-se na capital madrilena, onde sucumbe, seis anos mais tarde.

Enfim... provas que não refutam
e não provam...
O estado crítico dos derradeiros momentos bem como a confirmação de morte foram sucintamente noticiados em Portugal (Revolução de Setembro, 7 de Novembro de 1835, pp. 3, e 8 de Novembro, p, 2): "Na manhã do dia 3, pelas oito horas e vinte e cinco minutos, faleceu em Madrid D. Juan Alvarez y Mendizábal. Tendo de receber o Viático, dispôs que nesse acto se cobrisse o seu leito com a colcha que no seu tinha, quando morreu, o duque de Bragança D. Pedro, e que fora um presente da "família real" [não é a Família Real, que essa estava no cativeiro] portuguesa a Mendizábal, como testemunho dos eminentes serviços prestados ao torno constitucional da Senhora D. Maria "II" [aspas minhas]."

Desaparecia desiludido e nostálgico com um regime que ajudara a reimplantar, mas que o votava à pior das penas, o esquecimento. No dizer de seu primo e testamenteiro, José Alvarez, Mendizábal receava falecer sem pode defender-se das acusações proferidas contra si (avidez financeira, atraso no cumprimento de ordens estabelecidas pelo governo liberal, envio de tropas "à formiga"); Agostinho José Freire, ministro da Guerra, falara mesmo em "mãos untadas", com o dinheiro do espanhol (Memórias da Vida, p. 348). Se Mendizábal perdera o seu pecúlio, desejava, ao menos, "vingar a honra ultrajada".

Neste sentido se insere a publicação encertada por José Alvarez dum folheto, onde se defende a acusação do agente financeiro, contra o desinteresse e negligência dos liberais. Segundo Alvarez, o jornalista do Times, Andrw O'Brien, enviado por Mendizábal, permanecera vários meses em Lisboa, sem receber a mínima atenção do "ministro da Fazenda" [aspas minhas], Silva Carvalho.

Divulgado publicamente na imprensa antes da sua apresentação para lamentar, o relatório da comissão nomeada pelo Tribunal do Tesouro Público levantara suspeita sobre a actuação do agente financeiro. Silva Carvalho considerou as suspeitas injustas e ingratas - por extensão, ele era também acusado de penhorar Portugal à finança estrangeira (Oliveira Martins, Portugal Contemporâneo, vol 2, p. 28)

Em plena "câmara dos deputados" [aspas minhas], o Conde de Tojal reputa a Mendizábal o boicote da operação de conversão, ocultando provas e partindo para Espanha, sem prestar contas ao "governo português" [aspas minhas, por ser ilegítimo governo e contra Portugal]. Pelo seu cômputo ao Erário petenceiam 200 mil libras sonegadas por Mendizábal (Diáario da Câmara dos Deputados, sessões de 5 a 16 de Outubro de 1840 e 30 de Janeiro de 1841). Do mesmo modo, o Barão de Lagos apontava um débito de 4800 contos, contrariando as reclamações de José Alvarez.

A situação agrava-se em 1858, quando é reclamada ao "estado português" [aspas minhas] a quantia de 2000 contos. Implantada a ordem política liberal, as causas financeiras internacionais exigiam, agora, o respeito por compromissos assumidos durante a guerra civil. No entanto, as responsabilidades não podem recair exclusivamente sobre o espanhol. No período indeciso da luta, todos ansiavam pelas miraculosas e avultadas verbas. Ao criticarem Mendizábal invejavam o seu aventureirismo e ousadia, assumidos no modo como articulava finanças e política.

Citando José Alvarez: "Jamás nación alguna igualó al Portugal en olvidar sericios tan eminentes como los suyos, con tan negra ingratitud". (José Alvarez, Reseña del Negocio..., p.41)."

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