28/06/14

OS MÁRTIRES DA IMPIEDADE

S. Sebastião, mártir
A Este firmíssimo, argumento tendente a provar a divindade da nossa Fé, pretendem responder loucamente os ímpios ou os néscios que as outras "religiões" tiveram seus mártires.

Quais mártires, nem meios mártires! Para ser tal bastará derramar o sangue num patíbulo? Se assim fosse, os facinoras e criminosos também seriam mártires gloriosíssimos. Não, querido leitor; para que se possa dar o nome de "mártir" a qualquer urge que morra pela verdade, que morra como um santo, e não como um demónio.

E se não, vamos a contas: quem foram esses mártires? Já sabemos: alguns, pouquíssimos, hereges queimados por orgulhosa obstinação e pertinácia, segundo as leis penais que estavam em uso nesse tempo, e tudo por castigo de terem escandalizado o povo com suas deletérias doutrinas perturbando a paz das consciências e a boa ordem da sociedade. E como morreram? Não, morreram, certamente, com a inalterável paz, própria dos santos mártires, mas cheios de furor e ira, e com a indignação própria de homens criminosos, ou raivosos como demónios.

Os autores que nos relatam, como testemunhas oculares, os suplícios dos nossos santos mártires; afirmam-nos sempre, e como coisa pública e notória, que aquelas vítimas inocentíssimas sofreram os mais terríveis tormentos com tranquilidade de espírito tão admirável, e com semblante tão agradável e alegre, que aumentava a fúria dos tiranos, espantava os carrascos, e infundia admiração e pasmo ao povo que assistia àquelas horríveis carnificinas; porquanto os cruéis soldados e esbirros cevavam neles a sua bárbara selvajaria, e deslocavam-lhes os ossos nos equeleos, rasgavam-lhes as carnes com unhas de ferro, punham-lhes sal nas chagas, queimavam-lhes as costas, com lâminas candentes, davam-lhes a beber chumbo derretido, e os queimavam em grandes fogueiras ou a fogo lento para que mais prolongada fosse a dor acerba do suplício, eles não soltavam um queixume, nem perdiam sua venerável compostura, nem diziam palavra senão para louvarem a Deus, ou para pedirem por seus inimigos. E esta incrível fortaleza, esta paciência invencível, não se admirava apenas nos homens adultos e robustos, mas nas mulheres, nos meninos e meninas mimosos e frágeis; e isto espalhava tal espanto e respeito entre os próprios pagãos, que, muitas vezes, se convertiam só com estes milagres da constância, não carecendo doutros estupendos prodígios que o Senhor frequentemente operava nos seus mártires.

Inútil será, dizer-te que, na morte dos hereges que sofreram tormento pela causa de sua seita, nada disso se notou; ao contrário como declaram os próprios que os viram morrer, tiveram morte desastrada e inglória. Alguns que alardeavam valor, e andavam apregoando que queriam morrer como filósofos estoicos, quando estavam na fogueira e sentiam a violência do fogo, mostravam semblante feroz e horrendo, soltavam gritos lamentosos e destoados, faziam gestos ameaçadores e descompostos, fazendo, em tudo, compreender ao povo que expiravam no maior desespero e que Deus não estava com eles. E se algum deles revelou extorso maior por seu caráter robusto e extremado fanatismo, a verdade é que nenhum edificou o povo com seu exemplo e virtude sobrenaturais, e que a maioria deles não tiveram ânimo para nada o mais vulgar e comesinho era renegarem logo e logo todos seus erros para obterem o perdão, e prometerem a emenda da vida quando se lhes lia a sentença, ou quando sentiam já o espirrar da fogueira, e empalideciam quais tímidas e fracas mulheres na presença dos tormentos.

Tais foram os mártires que a moderna impiedade festeja, e tais os assomos de heroísmo, pelos quais os distinguem, com o apelido de espíritos fortes.

Se a este resumidíssimo número de hereges, que morrem como animais raivosos, juntamos uma turba de revolucionários e facciosos, que, engodados mais por ódio à Religião verdadeira, morreram desgraçadamente em diversos recontros por detrás das barricadas, teremos traçado todo o martirológio da impiedade moderna. Uns "santos" dignos das tua orações! Se não tens melhores patronos à hora da morte, já nada te falta para que te levem os demónios, que, seguramente carregaram com eles.

Vês, pois, caro leitor a que se reduz toda a força e sacrifício dos inimigos da Religião. Para assassinarem padres e frades, mostraram eles muito valor, mas para morrerem demonstraram assás que, pouco ou nada valiam. E não é isto extraordinário, porque bastantes corifeus seus estão fartos de confessar que suas teorias não merecem que por elas se morra. Porque é que alardeiam então no nosso tempo, tanta impiedade? Sabes a razão disso? Porque ninguém lhes vai à mão, ou lhes toma contas; porque cuidam que, por essa forma, se tornam homens notáveis; porque muitos nescios há que os elogiam rasgadamente e acima de tudo, porque julgam que assim hão-de medrar, sabendo que se tornou moda a irreligião, e outros porque exploram maravilhosamente o pobre povo, escrevendo nos jornais democráticos barbaridades incríveis contra tudo o que há de mais santo e sagrado, sabendo que lhes agradam coisas fortes e picantes tais como a aguardente, o vinagre e a pimenta.

No dia, porém, em que se lhes não ligasse atenção e importância, nem tivessem esperanças de encher as algibeiras à custa do povo, crê-me caro amigo, que nesse mesmo dia, terminarão as patranhas anticlericais, e as já nojentas cenas de frades e freiras, e, com medo de alguma boa carga de pau, retractariam todos os seus erros, e venderiam a peso, para as tendas, os seus livros de ateísmo e impiedade.

(A Nossa Religião é Divina - Propaganda Catholica; Peniche, 1898) Com licença da autoridade eclesiástica.

1 comentário:

joão disse...

Excelente.

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