MEDITAÇÃO XX
DA DOMINGA DE RAMOS
Veja-se a Meditação XIX da Quarta feira, a qual se pode aplicar à Sagrada Comunhão, ponderando o recebimento, que o Senhor teve este dia em Jerusalém com ramos, e aclamações, com o recebimento, que hoje tem em minha alma, quando nela entra Sacramentado; e acomodando as propriedades dos ramos, que aqueles lançavam para o Senhor passar, às virtudes, com que a alma deve estar adornada para o receber.
MEDITAÇÃO XIX
DA ENTRADA DE CRISTO EM JERUSALÉM COM RAMOS
I Ponto: Considerar como entra Cristo nosso Redentor em Jerusalém como triunfando, para dar princípio ao negócio da nossa Redenção. Pondera o gozo, e a alegria, com que Cristo caminha para as desonras, afrontas, e tormentos de sua Paixão, só porque é princípio de nosso remédio; a tristeza, e a repugnância, com que os homens tomam os trabalhos, que Deus lhes dá para seu bem. Pondera também a humildade do jumento, em que entra: para que aprendas, que o triunfo de Cristão é a humildade, e desprezo da glória mundana.
II Ponto: Considera o aplauso, festa, e alegria, com que o Senhor foi recebido: lançavam por terra suas roupas, cortavam ramos de palma, e de oliveira para passar; chamavam a altas vozes "Hossanna filio David, benedictus qui venit in nomine Domini". Pondera a devoção desta gente; a humildade de Cristo engrandecida, como se dispõem com estas glórias para as ignomínias da Cruz; para que tanto maior fosse então a ignomínia, quanto era a glória maior.
III Ponto: Considera como esta gente, que agora recebe a Cristo com tanta desta gente, que agora recebe a Cristo com tanta festa, e na mesma, que daí a cinco dias lhe há-de procurar a morte com muitas afrontas. Pondera a variedade dos corações humanos, cotejando as honras, vozes, e alaridos dos que depois lhe pedirão a morte, hoje o honram com suas vestiduras, depois o despojam das próprias, e o vestem com vestiduras de escárnio; agora com ramos, depois com espinhos; agora, Bendito Filho de David, depois maldito, e pior que Barrabás. (Meditações Para Todos os Dias da Semana, pelo Exercício Das Três Potências da Alma, Conforme Ensina Sto. Inácio...". Pe. Alexandre de Gusmão. Lisboa, 1689)
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