30/01/14

Sto. Afonso de Ligório - SERMÃO do III DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA (b)

(continuação da parte a)
3. Ai quantos golpes de faca vão ser para o coração do danado por tantos benefícios recebidos, no momento em que ele se vir na prisão do inferno e se aperceber que acabou o tempo que lhe dava possibilidade de emendar-se e evitar a ruína eterna! É portanto verdade, dirá ele com os seus companheiros, na desgraça que a estação da colheita passou e que o Verão acabou e nós não fomos salvos. O tempo de colher os frutos para a eternidade já decorreu, a estação em que tínhamos a possibilidade de nos salvar já acabou; o Inverno eterno em que somos condenados a viver eternamente desgraçados e desesperados, sem recursos, tanto quando Deus será Deus.

4. Insensatos que fomos, diria ainda ! Se as penas que eu tive para satisfazer os meus caprichos, tivessem sido empregados para servir a Deus; se as fatigas que aguentei para me condenar, as tivesse suportado para me salvar, qual não seria hoje a minha alegria! E agora o que me resta senão os remorsos e as dores que me laceram e me lacerarão eternamente. Podia ser feliz para sempre e agora eis que sou desgraçado para sempre! Este único pensamento atormentará os condenados mil vezes mais do que as chamas e os outros suplícios do inferno.

II Resumo:
Por Quão Poucas Coisas Se Condenou

5. O Rei Saúl, estando no seu campo, ordenou sob pena de morte, que se deviam abster de qualquer alimento. Ouvindo que o seu filho Jonatão, apressado pela fome, comeu um pouco de mel, quis que lhe fosse aplicada a pena prevista e que fosse executado. O desgraçado filho, vendo-se condenado à morte, derramava lágrimas e dizia: Provei um pouco de mel, com a ponta do bastão que tinha na mão; vou morrer por causa disto? (1 Samuel 14, 43). Todo o povo comovido de compaixão para com ele interpôs-se junto do seu pai e conseguiu o perdão dele. O desgraçado danado não encontra e nunca encontrará alguém que tenha compaixão dele e que intervenha junto de Deus para o libertar da morte eternado inferno; toda a gente, pelo contrário, se alegrará deste castigo muito legítimo, porque por uns prazeres dum instante consentiu a perder o Céu e Deus.

6. Depois de se fartar do caldo de lentilhas, pelo qual vendeu o seu direito de primogénito, Esaú, diz a Sagrada Escritura, se sentiu tão penetrado de dor e de remorsos, por causa da perda que acabou de fazer, que desatou a gritar com clamor (Gen. 27, 34.) Quão mais horrorosos vão ser os bramidos e os urros que soltarão os danados, ao pensar que por alguns prazeres efémeros e envenenados perderam o reino eterno do Paraíso, e que para sempre serão condenados a uma morte contínua.

7. Sem cessar terá no pensamento a causa da sua danação. Nós que vivemos na terra, a vida passada nos parece apenas um instante, um sonho. Ai! Que serão aos olhos do danado os cinquenta ou sessenta anos passados no mundo, quando se encontrar nas profundezas da eternidade, quando já aguentou cem milhares de anos nos tormentos, e se aperceberá que a sua eternidade apenas começa por ele! Mas o quê!... Estes cinquenta anos não foram para ele uma corrida incessante de muitos prazeres? O pecador seria sempre alegre no meio dos prazeres, vivendo na desgraça de Deus? quão pouco duraram os prazeres do pecado? Um instante só; e para aqueles que vivem afastados de Deus, todo o resto do tempo é apenas desgosto e angústias. Ora, o que parece aos danados este momento de prazer agora que estão mergulhados neste vórtice de fogo?

8. De que nos aproveitou a soberba? De que nos serviu riqueza com a jactância? Todas estas coisas passaram como sombra como uma notícia que corre veloz (Sabedoria 5, 8). Desgraçado que eu sou, exclamará ele, na terra eu vivia segundo o meu capricho e satisfazia os meus desejos; de que me serviram todos estes prazeres? Duraram apenas um instante e derramaram sobre a minha existência inquietação e amargura e agora me reduz a arder para sempre nesta fornalha ardente, desesperando e abandonado de todos.

(a continuar)

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