11/01/14

SEDEVACANTISMO - contributos

Alguém mostrou-me este artigo publicado pelo site do Mosteiro de Santa Cruz (Nova Friburgo - Brasil), e que reflecte bastante a minha opinião a respeito do sedevacantismo:

SUPLEMENTO
Nº 3
O SEDEVACANTISMO

A questão do sedevacantismo foi levantada por muitos, e Dom Lefebvre, ele mesmo, se perguntou como era possível que um Papa presidisse à destruição da Igreja. “Pois, enfim, um grave problema se impõe à consciência e à fé de todos os católicos desde o pontificado de Paulo VI, dizia Dom Lefebvre numa entrevista concedida ao jornal Figaro em agosto de 1976. Como um Papa, verdadeiro sucessor de Pedro, ao qual não falta a assistência do Espírito Santo, pode presidir à destruição da Igreja, a mais profunda e a mais extensa de toda a sua história, num espaço de tempo tão curto, coisa que nenhum heresiarca jamais conseguiu fazer?”(1) “Temos verdadeiramente um Papa ou um intruso sentado sobre o trono de Pedro? Bem-aventurados aqueles que viveram e morreram sem ter que formular uma tal questão”. (2)

Mas Dom Lefebvre não deixou essa pergunta sem resposta. Mesmo se não é possível esclarecer inteiramente essa questão, ou melhor, por isso mesmo, por não se ter um ensinamento infalível do magistério a esse respeito, uma atitude de reserva se impõe. “Fora as ocasiões em que ele usa o seu carisma de infalibilidade, o Papa pode errar. Por que então se escandalizar e dizer: ‘Então ele não é Papa’, como Ario que se escandalizava a respeito das humilhações do Senhor que dizia na sua Paixão: ‘Meu Deus, porque me abandonaste?’ e Ario concluía: ‘Então, ele não é Deus!’ Nós não sabemos até onde um Papa levado por não sei que espírito ou formação, submetido a não sei que pressões ou por negligência pode arrastar a Igreja a perder a Fé, mas nós constatamos os fatos. Eu prefiro partir deste princípio: nós devemos defender nossa Fé; eis aí o nosso dever. Quanto a isso não há a menor sombra de dúvida”. (3)

Mais claramente, Dom Lefebvre se perguntava: pode-se afirmar a heresia formal do Papa? Quem tem autoridade para declarar isso? Quem fará as monições previstas pelo Direito Canônico, necessárias para esta constatação? Além disso, se o Papa não é Papa, em que situação se encontra a Igreja? Quem nos indicará o futuro Papa? Como poderá ele ser designado se não há mais cardeais, já que o Papa atual não é Papa e portanto não pode criar validamente novos cardeais? E Dom Lefebvre conclui: “Este espírito sedevacantista é um espírito cismático”. E ainda: “A visibilidade da Igreja é por demais necessária à sua existência para que Deus possa omiti-la durante décadas”. (4)

Por essas razões, Dom Lefebvre dizia a seus padres e seminaristas: “Eu não posso admitir que, dentro da Fraternidade, alguém se recuse a rezar pelo Santo Padre e, portanto, se recuse a reconhecer que há um Papa. Ser+ia entrar num caminho que é um impasse. Eu não quero conduzir os senhores a um impasse, pôr os senhores numa situação impossível”. (5)

Mas, então, por que na diocese de Campos alguns acusam ou suspeitam os padres da Fraternidade São Pio X de serem sedevacantistas? A resposta; por mais curiosa que possa parecer, é a seguinte: aqueles que acusam os padres da Fraternidade São Pio X de serem sedevacantistas raciocinam da mesma maneira que os próprios sedevacantistas. Para eles; ou o Papa é Papa, e então tudo o que ele diz é certo e tem que ser acatado, ou então, se ele ensina erros graves, ele não é Papa. A verdade é que este dilema é um falso dilema. A verdade é que o Papa, mesmo sendo Papa, pode errar. Fora os casos em que o Papa engaja a sua infalibilidade, ele pode errar. Hoje vemos o Papa errar e difundir o erro e mesmo heresias. Denunciá-lo não é sinal de sedevacantismo mas sim de catolicismo. Além do mais todos os padres da Fraternidade São Pio X assinam um documento, antes de sua ordenação, dizendo que reconhecem Bento XVI como Papa e que rezarão publicamente por ele. Portanto os que atacam a Fraternidade por causa disto não sabem o que dizem.

Quanto aos que defendem o sedevacantismo temos um conselho a dar. Um conselho de prudência e de humildade. Se a Santa Igreja não definiu as condições em que um Papa deixa de ser Papa, convém não se avançar neste terreno, pois isto seria também amar novidades, e abandonar os caminhos seguros da doutrina já definida. Amar a Tradição da Igreja é justamente rejeitar novidades e firmar-se no terreno firme do ensinamento do magistério infalível da Santa Igreja. Deve-se também levar em conta o caráter próprio do modernismo e do liberalismo, que admitem uma infinidade de matizes e de graus. Além disso, as heresias do Papa reinante não são necessariamente heresias formais; mas podem ser apenas materiais, como no caso daqueles que não têm noção de estar indo contra o magistério da Igreja. Em seguida, mesmo em caso de heresia formal, resta a questão de saber se o Papa perde o pontificado nesse caso e como. Tudo isto nos convida à sobriedade, e o exemplo de Dom Lefebvre e de Dom Antônio de Castro Mayer deviam ser suficientes para nos preservar desta conclusão, que peca por excesso ao querer dar, para não dizer impôr, solução definitiva a uma questão à qual a Santa Igreja não só não deu ainda solução.

O perigo do cisma é certo para os que seguem as doutrinas sedevacantistas. A experiência mostra que isso não é apenas uma hipótese. Já há vários Papas eleitos pelos sedevacantistas. Mais de dez, ao que parece. Isto devia ser o suficiente para inspirar maior sobriedade aos defensores de uma posição que leva a tais loucuras, pondo em risco certo a salvação eterna de suas almas, e de muitas outras.

1- Mgr. Tissier de Mallerais – Marcel lefebvre, éditions Clovis, pág. 515
2- Ibidem – pág.533
3- Ibidem – pág.534
4- Ibidem – pág. 536
5- Ibidem – pág. 536

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