(continuação da parte a)
Maçonismo
O Maçonismo [maçonaria] é um sistema de impiedade [ímpios] geral; ou um colossal agregado de todas as maldades, que reúne em si todas as depravações, todos os erros, todas as discórdias dos séculos passados; ele se parece àquela árvore que viu Plínio, na qual estavam enxertados dos frutos de todas as árvores; ou aquela estátua de Baco, como diz Ausónio, que tinha uma parte de todos os Deuses, a qual por isso chamaram Pantheon. Mas não se contentou o maçonismo em reunir todas as maldades, assim como quer; ele as reuniu em grau heroico,tomando as de maior quilate, e peso, e desprezando aquelas, que são de medíocre vulto, desprezando aquelas, direi mais claramente, que menos ofendem a sociedade: não quer o maçonismo, o que é meramente mau; ele ama, o que é altamente péssimo. As durezas do Judaísmo, as grosserias do maometismo,as discórdias do hereticismo, as porcarias do epicurismo, as barbaridades do ateísmo, os absurdos, e delitos do filosofismo, tudo o maçonismo chamou a si, e de tudo formou um monstruoso corpo, com o qual quer meter debaixo de si tudo o que Deus criou, tudo o que a Religião aperfeiçoou, tudo o que a sociedade conserva. Ele no seu maior grau envergonha-se de ser judeu, peja-se de ser maometano,aborrece-se de ser herege; somente lhe agrada ser porco com os epicúreos, ser bárbaro com os ateus, ser louco com os filósofos: para ele é o crer, seja no que for, uma baixeza da razão; ser pacífico uma humilhação da dignidade do homem; todavia ele afecta ser virtuoso, e olha para a virtude como para um crime; finge ser religioso, e na Religião vê um monstro; parece aborrecer a guerra, e somente odeia a paz; tolerante de todos os erros, só a verdade não tolera; indulgente com todos os crimes, só a virtude não perdoa: ele se fez um sistema de aquietar-se com todos os cultos, e a todos eles têm um ódio figadal. Esta definição, ou descrição do maçonismo parecerá a alguns, que nasce só da minha imaginação; pois que os mais experientes, e versados neste sistema das traficâncias da incredulidade sabem que ele agrega a si, alista, e adopta pessoas, não só de todos os países, mas de todos os cultos; e por isso se o ateísmo fosse o seu elemento, esta sociedade agrega de profissões, e de doutrinas tão diversas não poderia ter tanta permanência, e universalidade, nem se haveria ramificado tão longa, e largamente. Por isso mesmo, digo eu, esse sistema atura tanto tempo, e se tem estendido tão infinitamente: da mistura de pessoas, e da diversidade de cultos nasce a confusão, e da confusão o engano, enganando-se uns a outros, e todos a si mesmos, sem que saibam onde vão, ou por onde caminham, mas querendo cada um a sua causa, que é a liberdade absoluta, e completa de todas as paixões; e prometendo-lha assim, os que os dirigem, ou os que estão em alto grau, sem que esses mesmos tenham ânimo de lho cumprirem, nem possam; daí, dessa falta de cumprimento das promessas nasce entre eles tanta divergência, e discórdia, pelejando muitas vezes entre si, dividindo-se, e dando lugar ao seu desbarato, e ruína, o que mais de uma vez tem sucedido, e eu farei ver mais adiante.
Porém, agora, insta que, guardando alguma ordem nestas ideias avulsas, diga o modo, porque o maçonismo se formou, quais foram as suas vistas, ou tensões, se bem que ele cambiou de face sucessivamente; que instrumentos ele escolheu, quais os meios, que aproveitou, que é o que ele quer, e por que vias se encaminha ao seu fim. Eu falo aos povos, e duvido muito que me acreditem sobre a minha palavra, porque os sábios bebendo as suas ideias da sua fantasia, e não das mesmas coisas, se tem persuadido que o maçonismo é o mesmo Judaísmo, sendo assim que há muitos judeus alistados no maçonismo, mas também há muitos mais mações, que não são judeus, sendo muito piores que eles: Porém os mações de alto grau, digo, os mestres, chefes, ou directores do maçonismo, sabem que eu não minto, dizendo que eles não dão um real por um judeu, ainda que se aproveitam dos seus reais; dizendo outro sim que eles nada querem do turco, do apóstata, e do herege, senão os seus serviços; que eles nada pretendem dos cristãos de nome, senão que eles não pelejem pela Religião; que eles dos Povos só desejam empobrecê-los, e aniquilá-los, para que lhes não possam ser contrários. Se me perguntarem, por onde sei o que os mais não sabem? Não responderei como o Abade Barruel "porque sou apóstata do maçonismo", responderei sim que quiseram, quando ainda não contava quatro lustros, perverter-me, o que não conseguiram, graças a Deus, e à educação que me davam entre os monges Bentos, onde me alistei por minha livre vontade; e foi então que estudei a sua linguagem, sem aprender as duas ideias; e com a sua linguagem soube muitas vezes o que eles querem, o que eles projectam, e o porquê pelejam, que é: nada de Deus, nada de Rei. Mas então me dirá alguém: Que é o que eles querem? Respondo que este século o vai dizendo, e dirá, e que também o direi; mas, para não deixar os povos em jejum, digo em princípio que os mações de alto grau não querem culto algum, nem soberano, ou governo, ou sociedade, seja qual for a sua forma, ainda mesmo que republicana seja, que proteja o Culto. E querem agora os povos saber porque os mações não querem o Culto? Eu lhes o digo; porque os povos, que têm Culto, pois sem ele não podem existir os povos, dão assim cabo dos mações logo que os conheçam. Assim que, se o turco, se o judeu, se o herege, se o mau cristão se persuadissem desta verdade, a saber que os pérfidos mações não querem algum culto, eles mesmos se reuniriam com todos os que o queremos, e já o maçon não existiria. Mas entre os mações há alguns que querem o Culto, replicar-me-á alguém: eu o confesso, entre os mações de baixo grau, quero dizer entre os de 1º, 2º, 3º e 4º, porque os do 5º duvidam de todos os cultos; os de 6º toleram algum culto por necessidade, e os do 7º, que são os mestraços do maçonismo, sofrem, os que assim pensam, com raiva, e desespero: e esta discordância, divergência, e desunião entre eles é, o que me induz a persuadir-me, que eles a não levam avante, se é que não chegou o fim do mundo. Prova desta minha persuasão é que eles mil vezes, e por mil formas a têm tentado; e no melhor da festa a sua alegria se voltou em lágrimas; o decurso deste Semanário oferecerá os factos passados à recordação dos presentes,para que os vindouros tomem a lição, de que o passado é a regra do presente, e que o que uma vez aconteceu há-de acontecer mais; a saber, a impotência do maçonismo contra Deus, e contra o Rei [o Altar e o Trono..]. Isto acontecerá sempre em Portugal, enquanto adorarmos a Deus dos nossos pais, e avós, e enquanto amarmos, como devemos, o Rei, que peleja por Deus, e por nós; é a dizer, enquanto formos portugueses: nisto está toda a defesa de Portugal contra as agressões estranhas, e domésticas; em invocarmos os auxílio de Deus, que nunca faltou aos Portugueses, e em apelidarmos a voz d'ElRei, que entre portugueses cristãos só é, e pode ser o Muito Alto, o Muito Magnífico, o Muito Poderoso Senhor S. MIGUEL I a quem Deus enviou a estes Reinos, para Senhor, e pai deles, protector da Religião, Coluna da Igreja, terror dos inimigos, e admiração do Mundo.
Rebolosa 16 de Julho de 1831.
Alvito Buela Pereira de Miranda
Rebolosa 16 de Julho de 1831.
Alvito Buela Pereira de Miranda
Sem comentários:
Enviar um comentário