18/11/13

ISRAEL E ANGOLA: O INCRÍVEL ENVIO DE JUDEUS

Acabei de receber o artigo que vai seguir, postado pelo blogue nonas. Trata-se de uma notícia publicada em 1993 e redigida por Ribeiro Cardoso. Antes de colocar o texto, vou introduzí-lo com um comentário feito a ele no blogue nonas:

Comentário: "Ainda me lembro vagamente do meu pai ter falado uma ou duas vezes neste assunto. Eu era contudo na altura demasiado nova para ter prestado suficiente atenção ao assunto. Mas recordo-me, creio que a propósito de uma notícia saída num jornal relacionada com este assunto, do meu pai tê-lo trazido à conversa. Salazar foi sondado por diversas vezes, quando as potências vencedoras tentavam arranjar uma pátria para alojar este povo, sobre a hipótese dele aceitar a ida dos judeus para uma determinada região de Angola à sua inteira escolha. As contrapartidas eram fabulosas. Foi sugerido a Salazar, entre outras regiões, o enclave de Cabinda. Salazar recusou terminantemente esta ou qualquer outra hipótese. Mesmo com as contrapartidas que, repete-se, eram absolutamente fabulosas.
O Professor Vasconcelos Marques era um dos médicos pessoais de Salazar. Por coincidência também o foi do meu pai. Entre ambos houve conversas, ainda que breves, sobre política. Esta foi uma delas.
Maria"

Artigo:

O plano secreto entre Israel e Angola: o envio de judeus falashas

O extinto jornal Tal&Qual publicava, há 15 anos atrás, esta curiosa e interessante notícia assinada por Ribeiro Cardoso e que passo a transcrever na íntegra.

«O plano foi negociado secretamente – e prevê a instalação de colónias-modelo em Angola. Judeus negros vão chegar ao ritmo de 100 mil por ano. Serve às duas partes: Israel resolve um problema e Luanda esfrega as mãos de contente.

Milhares de judeus negros, que há poucos anos foram da Etiópia para Israel, preparam-se para “invadir” o sul de Angola. Mais concretamente, o Cuando Cubango, que pode virar o “celeiro de África”. Para que isso aconteça falta apenas que a situação no terreno o permita – e já não deve faltar muito, pois Telavive, Washington e Pretória estão apostados nisso mesmo. E Luanda está de acordo, pois claro.


O compromisso foi assinado há alguns meses e mantido em rigoroso segredo. E não prevê apenas judeus negros nem exclusivamente o Cuando Cubango. Isso é só numa primeira fase. Atendo ao que se está a passar no Médio Oriente e ao que se passou nos países de Leste, Israel prepara-se para mandar judeus para Angola ao ritmo de 100 mil ano.

Na sequência de contactos que se iniciaram quase por acaso há cerca de quatro anos e acabaram no estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países (ver caixa), Israel mostrou disponibilidade e interesse em avançar com projectos comuns de desenvolvimento agro-pecuário.

À fome juntava-se a vontade de comer. Isto é, tudo se conjugava para que o acordo se efectuasse e tivesse êxito – Telavive tinha o know how e muita gente para colocar o plano de pé (cada vez há mais judeus do Leste a quererem ir para Israel), mas não tinha terra; Angola, por sua vez, tinha terra a dar com um pau, mas não possuía técnicos nem experiência no campo da agro-pecuária.

No que ao Cuando Cubango respeita – uma área semi-desértica duas vezes maior que Portugal – foi elaborado um grandioso projecto de aproveitamento das águas dos rios que permitirá a irrigação permanente do solo e duas colheitas anuais.

Para que o projecto possa ir para a frente falta, porém, resolver um “pequeno” pormenor: acabar a guerra. Nem mesmo aos judeus falashas – os judeus negros que há alguns anos atrás, com o acordo do então presidente Mengistu, Israel transferiu em massa da Etiópia – estão dispostos a avançar para as terras prometidas do Cuando Cubango enquanto os canhões continuarem a ter voz.

Ora, as eleições foram um sinal de esperança – mas no final não passaram de um pesadelo. E com o comportamento da UNITA chegou ao fim o tempo das dúvidas, das hesitações, do jogo duplo de algumas potências sempre atentas e/ou envolvidas no conflito – pelo menos ao que parece.

De acordo com as informações recolhidas pelo T&Q em meios diplomáticos, a cooperação de Telavive com Luanda, nomeadamente nos campos militar e das informações, tornou-se a partir daí mais profunda: a Mossad, há muito instalada discretamente no terreno, deu indicações preciosas que evitaram a tomada do aeroporto de Luanda pelos homens de Savimbi; os conselheiros militares israelitas desembarcaram em maior número na capital angolana; e nos céus de Angola há agora alguns experimentados pilotos judeus.

Ao mesmo tempo, e a provar que algo de fundamental mudou na guerra Angola, Pretória está em sintonia com os seus amigos israelitas – e o satélite americano que até há pouco estava ao serviço da UNITA dá agora informações ao governo de Luanda, permitindo que a artilharia e a aviação das FAA atinjam em cheio os seus objectivos.

É neste contexto que, embora por enquanto apenas em sectores muito restritos, começa a falar-se com algum pormenor do acordo Israel-Angola. Um acordo que, pelas suas implicações e dada a situação internacional existente, pode revelar-se decisivo para o desfecho da guerra angolana.

Mas o mais curioso de tudo é que o interesse dos judeus por Angola não é novo. No tempo da I República, a Organização Mundial Sionista, com sede em Viena, apresentou uma proposta concreta ao Governo português para “a compra do Estado de Angola” (sic). E mais tarde, na segunda metade dos anos 30, numa iniciativa a que a Sociedade das Nações foi alheia, Stefan Zweig veio a Portugal, ao que consta, com idêntica finalidade. Nessa altura havia já muitos judeus perseguidos na Alemanha e Angola foi uma das hipóteses avançadas para terra prometida.

Por uma dessas ironias em que a História é fértil, ainda que de contornos diferentes e com actores que então nem pensavam subir ao palco – os judeus negros da Etiópia – podemos estar hoje a assistir àquilo que não foi possível concretizar meio século atrás.


Ribeiro Cardoso»

In Tal&Qual, 03.09.1993.

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