11. A verdadeira Religião deve pois anunciar-se por caracteres divinos. Ora nós não notamos no mundo, mais de quatro religiões; o paganismo, o judaísmo, o cristianismo e o maometismo. Qual é a que traz os finais da divindade? Entremos no exame.
12. O paganismo não me oferece mais que um caos de ilusões, de mentira, e de iniquidades; criaturas colocadas no trono da divindade para nele receber as nossas adorações; deuses culpáveis de maiores crimes, um Júpiter adultero, uma Vénus impúdica, um Mercúrio ladrão... honras divinas tributadas a Imperadores famosos pelas suas desenvolturas; o homem prostrado diante das obras das suas mãos; enfim, festas celebradas por jogos profanos, e muitas vezes sanguinosos, ou por desenvolturas. Uma religião tão favorável à corrupção dos costumes, não podia ser a Religião verdadeira, que procuramos aqui.
13. O maometismo nada me mostra que não seja digno de desprezo; tanto pelo seu autor, como pelo seu código, e pelos seus fins.
Maomé, seu fundador, começa com um impostor, continua como um tirano, acaba como um malvado. E como este embaiador, não podendo provar a sua missão de profeta por milagres, persuade a sua mulher, e por ela a muitos outros, que os acidentes de epilepsia, a que era sujeito, eram extases causados pelo comércio extraordinário, que fingia ter com o Anjo Gabriel. Acreditada assim a sua autoridade, se levantou como um homem inspirado, propaga a sua religião pelos caminhos os mais violentos; os seus apóstolos são, não mártires, mas soldados, que anunciam as suas loucuras com a espada na mão. Finalmente morreu, não pela sua doutrina, mas empeçonhado por uma mulher, que havia embaiado, e que por este meio quis saber se ele era na verdade um impostor, ou um profeta.
O Alcorão, que é o código das suas leis, está cheio de fábulas pueris, de ignorância, e de contradições. Nele confunde a Santa Virgem com Maria irmão de Aaron: diz que os judeus quiseram matar Jesus Cristo; mas que Deus o livrára milagrosamente, e que outro foi crucificado em seu lugar; Acredita a Moisés, a Jesus Cristo, e a Bemaventurada Virgem. Ora se o Evangelho é verdadeiro, Maomé é um ímpio pelo mesmo Evangelho. Se o Evangelho é falso, porque causa diz ele que é necessário dar-lhe crédito, e que ele seio a confirmá-lo? Toda a sua religião consiste a orar com o semblante voltado para a parte, aonde está Meca, a sacrificar uma camela aos seus pés, a matar os infiéis, a ter tantas mulheres, quantas se podem sustentar, a se lavarem muitas vezes, a abster-se de alguns animais, e a crerem Maomé seu grande profeta.
O fim, a que esta religião se encaminha, é revoltante. A Bemaventurança, que ela promete, é infame; cuja lembrança basta para amedrontar todas as pessoas castas. O estabelecimento pronto, e rápido desta religião é todo humano: ele é o triunfo do apetite, da violência, da política, da desordem, da ignorância; e de todos os vícios. nada admira que o coração humano, corrompido como está, lhe seja favorável. não; uma relegião tão grosseira não pode ser a verdadeira.
14. Volto-me para o judaísmo: Eu descubro muitos caracteres da divindade, uma doutrina sublime, uma moral pura, leis sábias, um seguimento de grandes homens distintos pela virtude, taumaturgos, e profetas. mas eu ao mesmo tempo descubro sinais não equívocos de reprovação. Eu vejo sequazes depois de dezassete séculos sem templo, sem Altares, sem Sacerdotes, sem Sacrifícios; dispersos no meio das nações, sem se confundir com povo algum. Eu creio de ver concluir uma maldição espantosa, que os persegue por um grande delito de seus pais ("Et respondendens universus populus dixit: sanguis ejus super nos, et super filios nostros". Mat. 6 27 v. 25). É necessário, digo eu a mim mesmo, que Deus escolha outro povo para entre ele estabelecer o seu culto. Mas quem é este povo?
15. São os cristãos. Que caracteres de divindade não brilham no cristianismo? A incompreensibilidade de seus mistérios, cujo conhecimento é infinitamente superior aos espírito humano; a pureza, e a severidade de sua moral, que revolta todas as paixões; as profecias claras, precisas, e evidentemente completas, que o tem anunciado; os milagres multiplicados, públicos, e incontáveis, pelos quais seus fundadores têm provado sua missão; o estado vil, e desprezível daqueles, que o tem feito conhecer; a força incrível de uma infinidade de mártires de todo o sexo, de toda a idade, de toda a condição, que o têm testemunhado pela efusão do seu sangue, sua proporção com as necessidades do homem.... Que provas, que devem subjugar a razão de todo o homem que pensa!
16. Primeiro caracter da divindade do cristianismo: É a incompreensibilidade de seus mistérios. O que é infinitamente superior à razão, não pode ser o objecto das suas indagações. Ora os Mistérios da Religião cristã são infinitamente superiores à razão. Tais são uma natureza simples, e única, existente em três pessoas realmente diferentes; umFilho tão antigo como o Pai; um Deus feito homem no ventre de uma Vírgem; um Deus morto pelos pecadores; e que por si mesmo resuscitou; uma Ressureição geral, que há-de abrir todos os túmulos no fim do mundo; um pecado cometido por um só e comum a todos. O Plano da Religião cristã não é uma obra humana, em quanto à sua invenção, e muito menos enquanto à usa execução. Um ajuntamento de dogmas incompreensíveis não pode ser persuadido a homens por homens; se Deus não coopera para isso.
17. Segundo caracter da divindade: É a pureza, e autenticidade da sua moral. Ela nos impõe as obrigações mais severas, e as mais extremas, pelo que respeita a Deus, ao próximo, e a nós mesmos.
- A respeito de Deus: nós prescreve que o amemos sobre todas as coisas; que o adoremos; que lhe dirijamos todas as nossas acções, que prefiramos a sua glória aos nossos interesses, que renunciemos tudo, até a mesma vida, antes que violar o menor preceito deste Soberano legislador.
- A respeito do próximo: manda que o amemos como a nós mesmos, que tratemos a todos os homens, como quereríamos que nos tratassem; que não façamos a outrem o que esperaríamos que se nos não fizesse; que sejamos para com todos humildes, agradáveis, oficiosos, caritativos; que lhe suportemos os seus defeitos; que de bom grado lhes perdoemos as injúrias, que deles receberíamos; que amemos até aos nossos mais cruéis inimigos; que respeitemos os superiores; que demos a César o que é de César; que obedeçamos, como ao mesmo Deus, aos soberanos, ainda aos mais cruéis; que antes consintamos que se nos tire tudo, que nos revoltemos contra os soberanos.
- A respeito de nós mesmos: manda-nos que sejamos sóbrios, temperados, castos; proíbe-nos até o pensamento do crime, os desejos impuros, as imaginações desonestas, os discursos licenciosos; ordena-nos que renunciemos a nós mesmos, que combatamos as nossas inclinações; lutemos de contínuo contra nossas paixões; desprezemos os bens terrestres, que os possuamos sem afinco; e estejamos sempre prontos a deixá-los. Põe-nos diante dos olhos a humilhação, a obscuridade, os desprezos, os sofrimentos, todos os trabalhos da vida, como meios, que conduzem à verdadeira felicidade, que é toda espiritual. Felizes, diz ela, os que choram, porque serão consolados! ("Beati qui lugent, quoniam ipsi consolabuntur." Mat. 6 5 v. 5)
Que moral! Quanto é sublime! Quanto é pura! Quanto é santa? Mas também quanto é dura! Quanto é austera! E que! Contrafazer-se sempre, violentar-se, refrear sempre as paixões, e isto debaixo de pena de ser eternamente desgraçados? Homens poderiam persuadir esta moral ao mundo? Não; isto não é a obra dos homens, é só de Deus!
(continuação, III parte)
(continuação, III parte)
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