05/11/13

DA UNIDADE DA VERDADEIRA RELIGIÃO (I)

Pensamentos Theologicos Próprios Para Combater os Erros dos Filósofos Livres do Século

Obra Utilíssima tanto aos Ecclesiásticos, como aos Seculares, para viverem desabusada e christtâmente.

M. R. P. Nicolau Jamin

(Monge da Congregação de S. Mauro, e antigo Prior da Abbadia Real de S. Germano de Pres)

[Oferecido ao "Illustrissimo Principe Guilherme, Príncipe do Rhin, Duque de Bayern, Conde de Veldents e Sponhein"]

1770

Com Licença da Real Mesa Censória



Capítulo III
DA UNIDADE DA VERDADEIRA RELIGIÃO

1. Pretender que Deus seja honrado por todas as religiões que há na terra, é um tolerantimso concebido pela liberdade, produzido pela impudência, e destruído pela razão. Não há no mundo mais que uma só Religião, assim como há só um Deus; e só ela é capaz de honrar o Ser Supremo.

2. Uma religião, que acredita serem todas as outras permitidas, não é uma religião, mas um derisão, que se faz ao culto religioso; pois reputa a Divindade como um Ídolo, a quem basta qualquer culto. Pois o pagão que adora muitos deuses; o judeu, o cristão, o maometano, que não adoram mais que um só: o cristão que zomba de Maomé, como de um impostor; o maometano, que o honra como o maior dos profetas; o judeu que crucificou a Jesus Cristo, como blasfemador; o cristão que o reconhece por Messias anunciado pelos profetas, desejado pelas nações; o deísta que nega a revelação; o judeu, o cristão, o maometano que a admitem; o cristão, que adora a Jesus Cristo, como o filho de Deus, consubstancial ao seu Pai; o sociniano que o coloca na classe das criaturas; todos finalmente oferecem à divindade um obséquio que lhe fosse igualmente agradável? Exterminemos de nós esta horrorosa blasfémia. O Ser Supremo não pode aprovar cultos, que se destroem; é um Deus cioso.

3. O tolerantismo para o povo grosseiro, e ignorante, é um monstruoso agregado de superstições; mas para os que discorrem alguma coisa, é a ruína de toda a Religião. A razão ensina a todos os que a consultam, que um semelhante culto é ilusório, e injurioso a um Ser infinitamente perfeito, qual é Deus.

4. Debalde se quer justificar a tolerância, mascarando-a com o véu da moderação. Ela, falando com propriedade,é uma caridade sem luz, uma doçura cruel, uma falta de paz. A Religião não é um sistema, nem uma filosofia, sobre a qual se permita variar, mas é sim, uma capital obrigação. Desditoso de quem não segue a verdadeira!

5. Nenhuma admiração causa que Roma pagã, nomeio dos seus triunfos, introduza no seu seio o tolerantismo; que senhora do universo obrasse todas as superstições (Cum pone omnibus dominaretur gentibus, omniumserviebat erroribus, et magnam sibi videbatur assumpsisse Religionem, quia nulla respuebat falsitatem. Sact. Leo. Magnus, serm I natal Apost. Petr. & Paul.), ministrando no famoso Panteão todos os deuses da Itália, da Grécia, do Egipto, e de todas as nações; que exclua de sua tolerância só a verdadeira Religião. É natural que erros sucedam 2 erros, as trevas se conciliem com as trevas, mas que a verdadeira Religião consinta as outras! Isso implica: a verdade é inimiga capital da mentira.


6. Porque causa se declara a seita dos Espíritos Fortes pelo tolerantismo em matéria de religião? As paixões humanas só reduziram este problema. Para tranquilizar a consciência, não querem estar sem religião: e para satisfazer o seu apetite sem inquietação, não se abraça alguma em particular. Um fantasma de religião geral ocupa o seu lugar, e ensurdece aos remorsos, que lhes ocasionaria a infracção das obrigações de uma religião particular: é deste modo, que o artifícioso apetite leva os homens aos seus fins.

7. Os novos filósofos sempre pregam a tolerância,e não querem tolerar a Religião do seu próprio país. Que inconsequência! E merecerão se escutem doutores, que intentam arruinar por uma parte, o que pela outra edificam; e com tudo escutam-se? Ó tempos! Ó costumes!

8. Sim; a verdadeira Religião é intolerante, mas a sua intolerância não é sanguinária: ela somente consiste a crer o que está fora do seu seio, se não pode esperar a salvação, e a gemer sobre a futura sorte aos que a não seguem. A Religião não faz violência a ninguém; ela se persuade. (Piae Religionis est proprimum non coagere, sed suadere. S. Athan. in Apol. 2). Ciosa de possuir os corações, ele rejeita todo o obséquio forçado. Quem a professa sem a sua vontade, de nenhum modo a professa.

9. A maior desdita que pode acontecer a um homem, é de se enganar na escolha de religião. Sem castigo senão despreza a verdadeira. A verdadeira, diz um Padre (Bonum est homini ut eum veritas vincat volentem, quia malum est homini, ut eum veritas vincat inviatum. Nam ipsa vincat necesse est, sive negantem, sive confitentem. S. Aug. Epist. 238 ad Pasch. cap. 5 n 29), triunfará de nós, quer o queiramos, quer não. A maior miséria do homem é que a verdade triunfa dele mesmo sem o querer.

10. A verdadeira Religião é o verdadeiro culto do verdadeiro Deus, veri Dei verus cultus. É um comércio entre Deus, e o homem, que une estas duas extremidades, que uma distância infinita parece separar; que faz conhecer ao homem o que é Deus a seu respeito, e o que é ele a respeito de Deus; tudo o que ele deve, e pode esperar. mas que meio de reconhecer o verdadeiro culto? Levaremos esta questão ao tribunal da filosofia? Não: Deus não tem entregado a Religião aos caprichos dos homens. Ele mesmo foi quem regulou os obséquios, e adorações, que lhes devemos prestar.

(continuação, na II parte)

2 comentários:

Cláudia disse...

Salve Maria!


Verifique as palavras: "imprudência" e "blasfemador",acho que elas estão "equivocadas" rsrs. Só para te avisar.

PS:Não precisa postar isso...melhor: NÃO POSTE ISSO POR FAVOR :)

anónimo disse...

Salve Maria.

Cláudia,

Obrigado por comentar,e dar o seu contributo.

As palavras em questão são afinal "blasfemo" e "impudência" (ou "impudícia"). Corrigi o "blasfemo", e ficará a "impudência".

Volte sempre.

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