16/10/13

CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA - Comentário ao artigo de Taylor Marshall

Um amigo mostrou-me agora um artigo publicado por João Silveira a respeito da consagração da Rússia. Na verdade é uma tradução, cujo original é de Taylor Marshall.

No artigo é criado o artifício de duas opiniões que se degladiam: os que dizem que a consagração da Rússia não foi feita, os que dizem que a consagração da Rússia foi feita. Achei graça porque Taylor Marshall às tantas chama aos primeiros aqueles que dizem que a consagração da Rússia "não foi bem feita", mas esqueceu de chamar aos outros aqueles que dizem que a consagração da Rússia "foi bem feita"... De qualquer das formas, há que aclarar que NUNCA houve tal disputa realmente, porque em sede própria isso nunca foi uma dúvida que merecesse debate ou maior cuidado. Nunca um Papa disse que a consagração pedida por Nossa Senhora foi satisfeita, e pelo contrário, aquela que levou alguns senhores a supor que ela já estaria realizada (a de 1984) foi dada como não satisfatória pelo próprio consagrante: João Paulo II. Portanto, embora seja didático e faça boa figura, o método do lado a lado escolhido por João Silveira já é um injusto reforço à opinião dos que dizem que a consagração foi feita.

Transcrevo do dito artigo:
"Como lembrete, aqui fica o texto das palavras de Nossa Senhora relativamente à consagração da Rússia ao seu coração: "Para evitar isto, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados. Se os meus pedidos forem ouvidos, a Rússia converter-se-á e haverá paz; se não, ela irá espalhar os seus erros pelo mundo fora, causando guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados; o Santo Padre vai ter muito que sofrer; várias nações serão destruídas [Nossa Senhora não disse "destruídas" mas sim "aniquiladas"]. No fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre vai consagrar a Rússia a mim e ela converter-se-à e um período de paz será concedido ao mundo."

"Virei pedir a consagração..."!?...Faltou no artigo acrescentar quando e como Nossa Senhora faz o prometido pedido. Eis o que falta:

“É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração.” (13 de Junho de 1929)

Retemos indubitavelmente que:
1 - É Consagração;
2 - Da Rússia;
3 - Feita pelo Papa;
4 - Em união com todos os Bispo do mundo;
5 - Ao Imaculado Coração de Maria.

O Taylor faz uma lista de consagrações papais ao Imaculado Coração de Maria. De todas as consagrações listadas nenhuma reúne o conjunto dos 5 pontos do divino pedido. Isso é claríssimo sem discussões: o pedido não foi bem ou mal satisfeito, o pedido nunca foi satisfeito porque nunca estiveram satisfeitos os 5 pontos. Não andemos aqui a engonhar, nem a brincar com coisas sérias!... Mas Taylor deu a volta... veremos...


O autor encosta-se à "opinião" (desculpem, mas eu não acredito que se este tema fosse a debate com pena de 5000€ ao perdedor Teylor ariscasse - eu arrisco e convidaria a tal) de que a consagração foi feita realmente! Isso mesmo... Mas como, se nunca foram reunidos os 5 pontos do PEDIDO DIVINO!? Simples... o autor faz passar Deus por um ente relativo, evita comparar o que Deus pede com aquilo que os Papas fizeram ou não fizeram, e vai à periferia recolher migalhas com as quais constitua "evidências" de infalível humanidade. Mas, sim senhor, vamos então entrar no mesmo método para convencer a fundo as mentes mais imaginativas! Eis as migalhas periféricas:

- Diz que a Irmã Lúcia afirmou que a consagração da Rússia tinha sido feita por João Paulo II a 25 de Março de 1984. Dá um argumento de autoridade "se alguém sabia era a Irmã Lúcia, ela é que recebeu a mensagem de Maria". Pois sim, portanto, se a Irmã Lúcia tivesse dito que o pedido não foi satisfeito embora será que Taylor mudaria de opinião? Não, porque aqueles 5 pontos condicionais dados por Deus foram transmitidos pela mesma Irmã Lúcia, ou seja, Taylor retira autoridade à Irmã Lúcia num dia e dá-lha noutro dia seguinte! O próprio João Paulo II, a 25 de Março de 1984, no momento da consagração, interrompeu o texto escrito e improvisou o seguinte "iluminai especialmente aqueles povos cuja consagração e confiada entrega Vós ESPERAIS DE NÓS."! A 27 de Março (2 dias e 2 horas depois da consagração), na Basílica de S. Pedro, perante 10000 pessoas, o Papa pediu a Nossa Senhora que abençoasse "aqueles povos para quem Vós mesma estais à espera do nosso acto de consagração e de confiada entrega". Mas isto são palavras de um Papa que não recebeu a mensagem de Nossa Senhora, é certo. Em Setembro de 1985 a revista Sol de Fátima, publicou a entrevista onde a Irmã Lúcia diz que a consagração da Rússia ainda não tinha sido feita, explicando que a Rússia não foi o objecto expresso da consagração de 1984 e que os Bispos do mundo inteiro não participaram nela. A revista Visão, não tenho presente o mês nem o ano, publicou uma entrevista onde um sacerdote do convívio da Irmã Lúcia diz que ela lhe contou que a consagração como Deus a tinha querido ainda não fora feita (isto foi depois da consagração de 1984);

- Taylor conta-nos que "a Santa Sé, na revelação do Terceiro Segredo a 26 de Julho de 2000, indicou que a consagração foi feita." É falso, o segredo nunca foi revelado. No ano 2000 estava anunciado que o segredo iria ser revelado, e no dia em que João Paulo II veio a Fátima (todos esperávamos ansiosamente) aconteceu algo estranho. Para a missa o Papa tinha escolhido a leitura do Apocalipse (a passagem do dragão que varre um terço das estrelas, e da mulher vestida de Sol ...etc.), fez o sermão sobre este mesmo tema, mas quando depois tocou ao Cardeal Sodano a parte esperada... todos nos sentimos enganados (e sabe-se hoje que fomos enganados): o Cardeal leu um resumo do que Lúcia tinha escrito sobre a visão, dizendo que um Bispo Vestido de Branco "cai como morto", e que esse Bispo era João Paulo II. Esta mesma versão foi a que a Santa Sé passou, dando por encerrado e cumprido o caso de Fátima. Acontece que depois, a muito pedido de bastantes fiéis, o Card. Ratzinger acedeu em publicar uma cópia do escrito da Irmã Lúcia, pelo qual ficámos a saber que o Cardeal Sodano tinha falseado a visão (não há outra possibilidade) trocando o "caiu morto" do texto por um "caiu como morto" com o qual fez a lamentável ligação ao atentado a João Paulo II (que caiu, mas não morreu). Esta foi a versão oficial da Santa Sé, e não do Papa João Paulo II que escolheu para o dia em que destinou revelar o segredo verdadeiro aquela leitura apocalíptica sobre a qual fez todo o sermão! O autor diz que foi revelado o segredo, mas já deveria saber a esta altura que aquilo que foi muito mal revelado no ano 2000 foi o texto da VISÃO, e não do segredo. Eu já expliquei isto aqui no blogue, mas resumo: A Irmã Lúcia escreveu o segredo que enviou para Roma, e mais tarde, a pedido do Bispo de Leiria, escreveu o resto, ou seja, a visão, que o Bispo lhe pediu para enviar para Roma. Portanto, a Roma chegaram duas cartas em datas bastante distantes, uma contendo o segredo e a outra contendo a visão (por isso se explica o "etc." do texto da visão, porque o restante estava já contido no texto do segredo enviado antes). Em suma, Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos e dava-lhes visões, tal como segredos, e neste caso Lúcia enviou o segredo apenas (primeira carta) e mais tarde a visão correspondente. Hoje apenas conhecemos a visão escrita pela mão da irmã Lúcia para dano do Cardeal que ajudou ao que tentou ser a versão oficial que colocaria fim a Fátima. A Santa Sé tinha dado o caso "Fátima" por encerrado, e no pacote incluiu a consagração feita e tudo mais. Mas se a Santa Sé falou infalivelmente, porque motivo Bento XVI em Portugal afirmou o contrário? O Papa disse-nos que Fátima não é um caso encerrado, não está cumprido ainda, e fez uma alusão a 2017 por motivos de ser o centenário. Mas se João Paulo II admitiu que a consagração da Rússia em 1984 não correspondeu àquela que Deus pediu, qual teria sido então a consagração que a Santa Sé em 2000 considerava satisfatória!?... De 1984 a 2000 não houve mais consagrações!? ... e agora !? Se Taylor Marshall dá força de verdade a algumas destas afirmações tem obrigatoriamente pela moral de dar como falsas todas as afirmações contrárias! Já colocou a Irmã Lúcia contra ela mesma, e agora coloca o Cardeal Sodano e a Santa Sé contra Bento XVI e João Paulo II. Tem lógica ?! ... Nada.... nada aqui tem lógica...não é hora de passar sobre a verdade explícita para andar a recolher migalhas e arranjar argumentos de autoridade em contradição com a autoridade. Não vale...

Pego nas mesmas palavras do autor alterando o necessário: "Como podem ver, aqueles que dizem que a Rússia [foi consagrada como Deus quer] têm que dizer que a Irmã Lúcia, a receptora da mensagem de Maria, ou se enganou ou estava a fazer algum tipo de reserva mental para enganar todas as pessoas nesse assunto [quando transmitiu a forma como havia de ser feita a consagração]. É preciso dizer também que o Cardeal Ratzinger, o futuro Papa Bento XVI, teria usado uma discrição enorme para enganar o mundo [se nos tivesse deixado a sós com a deturpação do Card. Sodano e não tivesse feito publicar a cópia da carta onde a Irmã Lúcia revela a visão]."

Repito, Taylor Marshall, desde o início preferiu deitar fora a vontade de Deus levada por Nossa Senhora e guardada e transmitida a nós pela Irmã Lúcia, vontade que nos dá 5 pontos a cumprir, relativamente à consagração. Preferiu contrapor a isto umas migalhas contraditórias e um enganado recurso à autoridade contra a autoridade.

A consagração da Rússia, com os 5 pontos revelados à Irmã Lúcia, nunca aconteceram, unicamente porque nunca aconteceram! Basta olhar!...

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