Três géneros de ministros têm todos os príncipes do mundo ao serviço, uns são diabos, outros são homens, e outros são anjos. Os primeiros são lisonjeiros, dos quais falámos já na respectiva lição, os segundos são aqueles que não vão pelo caminho largo e comum da lisonja nem pela apertada vereda da verdade e do desengano (homens frouxos e pegados às temporalidades, que vivem segundo o tempo, acomodam-se à miséria do século, não têm valor para dizerem desenganadamente o que sentem, nem, por outra parte, pretendem adiantar-se nos lugares aprovando o mal como se fora bem, conhecem os danos e perdas que causa o mau governo, porém não se atrevem a censurá-lo e menos em representá-lo ao Príncipe, se bem talvez, ou muitas, o murmuram com seus confidentes e particulares e mostram no exterior que aprovam sua resolução, justificando-se em segredo com as partes dizendo-lhes que contra o que entendem executam as ordens superiores mas que como são mandados não podem deixar de obedecer). Destes foi aquele terceiro príncipe quinquagenário por quem o perverso rei Ocozias mandou prender o santo profeta Elias: viu por uma parte a tirania e resolução do rei, com tudo, ainda que tal, não se atreveu a replicar-lhe para não lhe dar ocasião de desgostar-se com ele, por outra vendo claramente que Deus acudia pelo seu profeta, abrasando com fogo do Céu aos outros dois ministros que lhe haviam precedido em comissão, temeu o mesmo castigo e, chegando ao profeta com grande demonstração de humildade, disse-lhe como se lê no lib. 4 dos Reis, cap I num 13 e 14: "Varão de Deus, não desprezes minha vida, nem a destes teus servos que estão comigo; contra os outros dois baixou fogo do Céu que os abrasou a eles e aos seus soldados; por tanto peço-te que te compadeças de minha vida". Se tanto temias covarde ministro o rigor da divina justiça, e conhecias a tirana resolução do teu príncipe, porque com a devida submissão e reverência lhe não dissestes: "Olhai senhor o que fazeis, que este é profeta e Ministro de Deus, o qual não consente que aqueles que O servem sejam oprimidos e mal tratados": e a estes tais, que não tem resolução, para que, quando vejam que o seu príncipe, ou os tribunais superiores lhes mandam algumas ordens, das quais pode resultar dano ao pública, ou particular contra o que pede a justiça, possam com a devida submissão e modéstia de verdadeiros vassalos, representar a inconveniência que das tais ordens resulta, se devem deixar do tal serviço, que assim o faz Deus, como se lê no cap. 3 do Apocalipse num. 16 17 com o Bispos de Laodiceia.
(a continuar)
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