20/05/13

ALEXANDRINA DE BALAZAR - COLÓQUIO DE 18 de Maio de 1945

"Bendirei ao Senhor.
Recebi de Jesus neste mês bendito da querida Mãezinha mais um miminho que veio abrir-me a sepultura e mais espinhos que vieram cravar-se na chaga do meu coração sempre a sangrar, não a deixando assim cicatrizar. De vez em quando é avivada fortemente.
Bendirei sempre a Jesus e à Mãezinha, mas confesso: se não fossem as graças do Céu, teria desesperado e morrido.
Que grande amor o de Jesus! Quanto Vos devo, meu amor! Convosco venci e vencerei sempre! Não pude ter uma palavra de queixume; ainda mais mereço pela minha miséria.
Estou como a pombinha de bico aberto, a bater as asas prestes a perder-se, sem ter onde pousar. Tenho sede de luz, tenho sede de conforto.
Já que na terra me tapam todos os caminhos, deixai-me, Jesus, deixai-me, Mãezinha, entrar nos Vossos Corações amantíssimos; ainda que nada sinta, deixai-me ao menos a certeza que vivo neles.
Lá estou livre de ódios e perseguições, lá estou certa de que Vos amo e não Vos ofendo.
Se o meu corpo pudesse encobrir-se nas trevas para não ser mais visto nem lembrado, como nas trevas foi encoberta a minha alma, assim morreria, não seria falada, como são os desejos do meu Prelado. É com todo o amor que aceito e obedeço às suas ordens. Não nasceu dentro de mim a mais pequenina sombra de ódio contra ele e contra os seus companheiros. Antes pelo contrário, dizia:
Meu Jesus, compadecei-Vos deles, não compreendem mais, não conhecem os sofrimentos de uma alma.
Meu Jesus, se pudesse prostrar-me diante de Vós e de mãos levantadas soubesse agradecer-Vos os miminhos que me dais!
Com o coração a sangrar de dor, não pude com os lábios rezar a «Magnificat», mas rezei-a com o pensamento.
Dai-me forças, Jesus, para sofrer e não me condeneis Vós, porque a sentença dos homens nada vale a não ser para meu maior martírio.
Foram os homens que me prepararam o sofrimento de hoje, para mais me assemelhar a Jesus e acompanhá-lo no caminho do Calvário.
E lá vou eu, presa com cordas, mas com amor, abraçada à cruz. Sou vítima das opiniões dos homens, sou vítima das lágrimas dos meus. Se eu pudesse sofrer sozinha!
Bendirei ao Senhor, não quero perder um momento.
Os meus olhares continuam a não ser meus. Fitam-se cheios de ternura num e noutro coração que mais se deixa compenetrar destes olhares tão cheios de doçura e amor. Os olhares não vão para todos por igual; os corações, a sua correspondência, é que fazem merecer tudo quanto estes olhares encerram.
Tinha tanto para dizer neste ponto! São tantos os que queria atrair e abraçar a mim!
O que é isto, meu Jesus? É sempre a minha cruz. Neste conjunto de sofrimentos, o meu calvário com o de Jesus, o coração oprimido com o peso esmagador da dor abafava, não resistia.
Poderei vencer, Jesus? Resistirei tanto? Só com Vós. Valei-me. Tenho medo.
Sentia tanto o meu abandono e o de Jesus! O meu corpo sangrava, dava as últimas gotas de sangue.
Ele veio.
Amo-te tanto, minha filha! Assemelhei-te a Mim e o teu calvário é o meu. Tem coragem. Os espinhos que te ferem foram os meus. As varas que te açoitam foram as minhas e a cruz minha foi também.
Foi o amor a causa dos espinhos, dos açoites, da cruz, do Calvário, da morte. Prendeu-Me o amor à cruz, prendeu-Me ainda nos sacrifícios até ao fim dos séculos. E tu, minha pomba bela, à minha imagem presa foste também; prendeu-te o amor ao meu Divino Coração, prendeu-te o amor às almas. Deixa-te ferir, minha amada; cada espinho que te fere sai um da minha sagrada cabeça e do meu Divino Coração. Vês como tenho tantos!
Jesus apresentou-me a sua sagrada cabeça e o seu Coração Divino. Que grande sebe agudíssima o feria! Enterneci-me tanto por Jesus e disse-Lhe:
Aceito tudo o que seja dor, mas quero tirar de Vós todos esses espinhos e não deixar sinal algum dos ferimentos.
Principiei a tirar espinhos de Jesus que tinha ao meu dispor. Em poucos instantes desapareceram todos e nem a sagrada cabeça nem o Coração Divino ficaram chagados: nem um sinal de sangue. Tudo desapareceu.
Vês, minha esposa querida, como o teu novo sofrimento cicatrizou todas estas feridas que Eu tinha? Coragem! Anima-te! Eu não te falto. Duvidar de Mim é ofender-Me.
Ainda que te dissesse que o que te prometi vinha já, não te enganava, não te enganava ainda que levasse anos, pois os anos, em comparação com a eternidade, representam um já. Mas não demoro, confia.
Vou deixar-te, minha filha, um pouco mais libertada do demónio; para poderes resistir, preciso de operar milagres. Se soubesses com os combates do demónio as almas que arrancaste dos abismos e conduziste a Mim! Estão firmes, não voltam a ofender-Me gravemente; salvam-se.
Para resistires ao teu penoso calvário, vou vir a ti frequentes vezes, mais delas silencioso. São êxtases de amor, mas deles receberás sempre, sempre toda a abundância das minhas graças, ternuras e amor.
És rica de Mim, és rica de virtude. É por isso que os teus olhos atraem, têm carinhos, têm doçura, têm prisões, têm amor.
É por isso que o teu sorriso tem meiguices, tem tudo o que é do Céu. Não vives, vivo Eu. São meios de salvação e chamamentos para as almas.
Não é por acaso verdade, minha filha, que Eu no meu Calvário possuía duas vidas, humana e divina? Até nisso te pareces comigo. No teu calvário tens também a vida divina; é Cristo que está em ti. Nada temas.
Vem o Jardineiro divino ao seu jardim a ver as maravilhas que nele operou e o fruto de tantas canseiras. Vem o Rei ao palácio da sua esposa, o Redentor divino à sua redentora, à nova salvadora da humanidade.
As minhas maravilhas em ti não ficam ocultas, não consinto no seu escondimento. Hão-de brilhar! São a minha glória; são salvação das almas. Tudo será conhecido, minha doutora das ciências divinas, tudo será conhecido no livro da tua vida.
És a heroína do amor, a heroína da dor, a heroína da reparação, a heroína dos combates, a rainha dos heroísmos.
Recebe conforto, filhinha, recebe o Meu amor divino. Quando vier a ti nos Meus colóquios, uno-Me a ti com este amor. Venho dar vida e conforto ao teu coração, ajudar-te nas tuas trevas.
És minha sempre e Eu sempre em ti habito!"

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