03/04/13

OFÍCIOS DIVINOS QUE TINHAM OS PORTUGUESES EM FEZ E MARROCOS

Como em Fez e em Marrocos tinham os Cristãos Missa e pregação e os mais Ofícios Divinos.

"Em que ainda mais resplandeceu o cativeiro dos Cristãos em Fez e em Marrocos, para honra de Deus, foi o favorecê-los o Xarife, como atrás dissemos, e dar licença de se celebrar o culto Divino, o qual se fazia com muita solenidade dos Ministros e devoção dos ouvintes; com isto se consolavam as almas dos devotos, porque além de dizerem cada dia missas rezadas e cantadas na semana, também havia pregação com que se animavam a sofrer o terrível cativeiro. Nas Quaresmas e em outros dias pregava o Pe. Fr. Vicente da Fonseca da ordem dos Pregadores, que depois foi Arcebispo de Goa, e o Dr. Pedro Martins da Companhia de Jesus, que se perdeu indo à conversão dos gentios da Índia na mau S. Tiago, onde Fernão de Mesquita ia por capitão; Fr. Tomé de Jesus, Religioso de Sto. Agostinho, irmão da Condessa de Linhares, e Fr. Luís das Chagas, frade de S. Francisco, os quais, e outros Sacerdotes seculares e regulares, que lá havia ouviam muito frequentemente as confissões a todo o género de católico cativo, administrando-lhes os Sacramentos, com o qual exercício se consolavam muito, e chegou a liberdade dos Cristãos a tanto que fizeram o Ofício das Endoenças a canto de órgão com todo o aparato como se fôra na Cidade de Lisboa, e esteve o Santíssimo Sacramento encerrado em um cálice dourado por não haver custódia, o qual cálice Martim de Castro do Rio resgatou em Fez da mão dos mouros com uma grande quantidade de relíquias de ossos de muitos santo que em Lisboa eu tive nas mãos; mas porque não faltasse alguma coisa, ordenaram os Cristãos uma procissão em quinta feira de endoenças à noite, onde houve muitos disciplinantes; e ordenaram na manhã da Ressurreição fazer procissão muito alegre, com que os Cristãos davam graças a Deus. Desta maneira andavam os Cristãos cativos muito a alegres, que quase não sentiam seu cativeiro; não faltaram a estas obras outras de sepultar os mortos, visitar os enfermos, e suprir com esmolas aos necessitados." 

(DA MOURA, Miguel. Chronica do Cardeal Rei D. Henrique, Lisboa 1840. Cap. XXXII)

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