06/04/13

A MORTE É O FIM DE TODAS AS GRANDEZAS - Sto. Afonso de Ligório

2ª Consideração

TUDO ACABA NA MORTE

II
A Morte é o Fim de Todas As Grandezas

Quando Filipe II, rei de Espanha, estava prestes a expirar, mandou chamar o seu filho e descobrindo-lhe o próprio peito roído de vermes, disse-lhe: "Vêde, príncipe, como se morre e como acabam todas as grandezas do mundo!" Teodoreto disse com razão que nem riquezas, nem guardas, nem púrpura podem deter a morte, e que todos os homens, príncipes ou vassalos, estão sujeitos à lei da corrupção. Por isso aquele que morre, ainda que seja um rei, nada leva consigo para a sepultura ; deixa toda a sua glória no leito em que expira.

Refere Santo Antonino que, à morte de Alexandre Magno, um filósofo exclamara : "Eis o que ainda ontem calcava a terra com os seus pés, e hoje é a terra que o cobre e oprime ; ontem era pequeno para a sua ambição o mundo inteiro, e hoje sete palmos de terra lhe bastam ; ontem passeava os seus exércitos por todo o universo hoje é levado a enterrar por alguns servos". Mas escutemos de preferência o próprio Deus : Não vês, ó homem, que "és pó e cinza? Donde te vem esse orgulho?" (Quid superbit terra et cinis? - Eccli. 10, 9). Para que consomes o teu espírito, para que gastas os teus anos a elevar-te neste mundo? Virá a morte, e "então se dissiparão todos os projectos e todas as grandezas": In illa die peribunt cogítationes eorum (Ps. 145, 4).
 
S. Paulo ermita
Ó quanto a morte de S. Paulo ermita, que tinha vivido sessenta anos retirado numa gruta, foi mais suave que a de Nero, que vivera em Roma no trono imperial ! Quanto a morte de S. Félix, simples irmão capuchinho, foi mais feliz que a de Henrique VIII, cuja vida decorrera no meio dos maiores esplendores, mas também na inimizade de Deus !
 
Mas não o esqueçamos: para merecerem tão bela morte, os santos deixaram tudo, — a pátria, as esperanças que o mundo fazia brilhar aos seus olhos. Abraçaram uma vida pobre e desprezível, sepultaram-se vivos neste mundo, para não serem sepultados no inferno depois da morte. Ao contrário, os mundanos passam a sua vida no pecado, nos prazeres terrenos e no meio das ocasiões mais perigosas, — como poderiam esperar uma boa morte? Cairá sobre eles a ameaça que Deus dirige aos pecadores: "Haveis de procurar-me e não me encontrareis": Quaeretís me, et non invenietis (Jo. 7, 34).
 
Não haverá então mais tempo de misericórdia e chegará o da vingança, conforme a advertência que nos é feita: "Eu me vingarei, quando o tempo chegar": Ego retribuam in tempore (Deut. 32, 35). De resto, bastaria o bom senso para nos convencer disso. À hora da morte, o espírito encontra-se fraco e obscurecido; o mundano tem o coração demasiado endurecido por um longo hábito de pecar; as tentações assaltam-no com mais violência do que nunca: como lhes resistirá ele, que quase nunca tentou fazer frente ao inimigo, antes no decurso da sua vida foi vítima passiva de frequentes derrotas?
 
Seria necessária uma graça extraordinária que de repente lhe transformasse o coração. Mas estará Deus obrigado a conceder-lhe uma graça tal? Ou acaso a mereceu esse pecador com uma vida de desordens? E contudo lá vai ele ou para urna felicidade eterna, ou para uma ruína sem remédio! Será possível que um homem, que tem fé, pense nisto e não se decida a deixar tudo para se dar sem reserva a esse Deus, que há de julgá-lo e retribuir a cada um segundo as suas obras?

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES