08/02/13

O NOSSO REI REQUIÁRIO (I)

REQUIÁRIO DE BRAGA
O PRIMEIRO REI CATÓLICO DO ORBE LATINO

Pelo Dr. Sérgio da Silva Pinto



Requiário, o primeiro cristão a cunhar moeda
1. Uma Biografia em Causa

Em outros estudos ou artigos (1), mostraremos que, nos princípios do séc. V, ao entrarem os Bárbaros na Península, o Bispo de nome Balcónio, que então existia em Braga, capital romana da Galécia, era já Metro polita de toda a Província - do Douro ao Cantábrico -, vulto proeminente de ortodoxia, entre as heresias desenfreadas; e que durante a prelazia do mesmo, e na própria sede episcopal, sob a sua direcção, os Suevos, com o Príncipe Requiário à frente, se converteram ao Catolicismo.

Assim este Povo germânico, que primitivamente se havia localizado na região de Entre-Douro-e-Minho, e depois ocupado toda a Galécia e todo o Ocidente, juntando-se aos Lusos-Galaicos, constituiu o primeiro Reino católico do Orbe latino.

Porque seria que esta verdade histórica tão notável, que se extrai de elementos heurísticos absolutamente positivos, se não exarou em termos claros nas mais antigas crónicas? O carácter sucinto e esquemático destes escritos não explica, só por si, a omissão. Menendez y Pelayo dá-nos, sem dúvida, a melhor resposta: "a Monarquia sueva foi quase olvidada por nossos historiadores, antentos só ao esplendor da visigoda" (2). Esta é, por certo,a principal causa de se ter esfumado na História tão extraordinário acontecimento.

Nem Idácio, nem Santo Isidoro o referem, directamente: dizem só que Requiário já era católico no momento em que sucedeu ao pai (3), e mencionam, com indignação, a queda subsequente dos Suevos na heresia ariana, durante o reinado de Remismundo (4).

Ora isto - a aversão dos piedosos cronistas pela queda transitória dos Suevos na apostasia, - também nos explica porque se apagaram nas brumas do tempo os nomes de Balcónio e Rquiário.

A falta de fontes de origem suévica, ou pelo menos sem tendências contrárias (5), fazem dos Suevos "um povo desconhecido e sacrificado", como bem diz Mgr. Augusto Ferreira (6). Além disso, o preconceito goticista da historiografia espanhola ainda nos leva geralmente a reboque.

Requiário, sem embargo de ter sido o primeiro Príncipe bárbaro a aceitar o Catolicismo, e a perseverar nele, e a fazer da sua nação o primeiro Reino católico do Mundo romano, é ignorado, senão maltratado, na literatura histórica da Península, decerto por não ser visigodo; e, na Europa, talvez por não ser franco.

No entanto, o Estado católico dos Suevos, no Ocidente peninsular, criado por Requiário, assinala, no perfeito comentário do Dr. Francisco José Velozo "o verdadeiro começo da Idade Média... Prenuncia o batismo de Clóvis e dos Francos... marca o início da Era católica romano-germânica da Europa" (7).

Impõe-se, assim, rever sériamente a figura histórica de Requiário. Teria sido um bárbaro na acepção vulgar do termo: selvagem, imoderado, deleal aos pactos, como soem pintá-o; ou antes um Principe já embuído da civilização romana e da mensagem do Cristianismo?

Mas previamente esclareça-se um equívoco.

Marcelo Macias chega a contestar a prioridade da conversão de Requiário: "antes dele, abraçou a fé católica o vândalo Geiserico" (8). Há porém que distinguir. Geiserico (se é exacto ter sido alguma vez católico) apostatou, mal começou a reinar; não perseverou na fé, nem encaminhou para ela a sua nação; antes foi perseguidor feroz e sanguinário do Catolicismo. Se algum dia se converteu, foi uma conversão individual e frustrada. Será, proventura, justo assemelhá-lo a Rquiário?

Consideremos, sem mais delongas, e dentro do seu quadro histórico, com a maior objectividade, a biografia deste Rei suevo.

(continuação, aqui)

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