11/02/13

DA OBEDIÊNCIA (IV)

(continuação da III parte)



 


LIÇÃO XIV
Da Obediência

Não só aos pais se deve obedecer mas aos mestres, aos velhos, tal como cantou Wem nos seguintes versos:

Ne saeva canos Juvenis convitia fundens,
Sed subito assurges, te reverent, senem.

Especialmente deve-se obedecer aos supremos Pontífices, ao soberano Rei com grande resignação da própria vontade em suas mãos, e de seus ministros segundo a superioridade de cada um, de maneira que, aplicando a obediência aos espiritual, os fregueses obedeçam aos Párocos, aos Bispos, e seus ministros; os Bispos ao Núncio, e o Núncio ao Pontífice: e aplicando-a ao Político, os moradores obedeçam aos Juízes, os Juízes aos Corregedores, e Ouvidores, os Corregedores aos Desembargadores, e os Desembargadores ao Rei: e aplicando-a à milícia os soldados obedeçam aos Cabos e estes aos Sargentos, os Sargentos aos Capitães, os Capitães aos Mestres de Campo, os Mestres de Campo aos Governadores, os Governadores aos Generais, e os Generais ao Rei: e aplicando-o ao estado Religioso, os Frades obedeçam a seus Prelados, e estes aos seus Provinciais ou Gerais, os Gerais ao Papa, e com a pontualidade desta obediência florecerá a Religião, crescerá o Reino, viverão todos em paz e unidos pela obediência, serão invencíveis tanto no temporal como no espiritual.

A obediência deve ser cega (Ex I Regnum cap. 3 e ibi Mendonç. n. 1 e 5), e por isso tem ouvidos mas não tem olhos, porque o verdadeiro obediente suporta que ouça as vozes de quem o manda, não deve especular a razão porque manda (Ex cap. 4 Regum lib I e ibi Mendonç. lib. I cap 14), e por este princípio, João Clímaco na escada do paraíso, grau 4, chama á obediência Inexaminado e indiscutído movimento; por quanto se profere para se executar e não para se examinar, à qual se deve sujeitar não só à vontade mas ainda o entendimento, dando-se mais crédito às palavras de quem manda do que à própria experiência, como fez Samuel chamado pelo Sacerdote Eli, como se lê no lib. I dos Reis cap. 3 n. 5 e o ensina S. Gregório nos comentos que sobre ele fez: do que se segue que os súbditos devem obedecer e executar tudo o que lhes mandam seus superiores, sem examinar se é justo ou não o que lhes mandam, por que não são juízes da justiça com que mandam mas executores do que se lhes ordena, e a estes não pertence o conhecimento mas sim a execução: e este a deve fazer com toda a celeridade, porque o verdadeiro obediente corta ainda pelos vagares necessários; Ex Theodoreto, e Mendonç. citado, e faz com os olhos o que não pode com os pés, e à primeira voz acorda, e ainda dormindo deve ouvir a voz de quem o manda, e se deve aplicar à obra posto que contrária à natureza: (Ex Divo Basilio in constit. Monasticis cap. 23) porque toda a tardança na obediência é perigosa, como considera Mendonç. cap. 3 n. 5, e o experimentou bem à sua custa a esposa dos Cantares, porque, batendo-lhe à porta o Esposo lhe respondeu que se tinha despojado da sua túnica, e que tinha lavado os pés, o que visto pelo esposo se foi, e quando a esposa lhe quiz obedecer o não achou e lhe foi forçoso buscá-lo pelas ruas da cidade e, encontrando-o, as guardas a feriram e maltrataram toda: Canticorum 5 n. 3 ibi. Theodoreto. Morto estava Lazaro de quatro dias, e chamado pelo Senhor, diz o texto sagrado, que acudira logo de sepultura atado de pés e mãos Joannes cap. II n. 44 e reparando S. Crisostomo porque não saira logo Lazaro solto, respondeu que, não saiu solto para que mais prontamente obedecesse à voz do Senhor, e não tardasse aquela demora que lhe era necessária para se desatar.

A obediência não só há de ser pronta nas coisas pequenas e fáceis como também nas árduas e difíceis, e quanto maior for a dificuldade tanto maior será o merecimento. Mendonç. no cap. 3 n. 10 sect. 12 e 5 onde larga, e doutamente mostra que a obediência, se é ilustre nas coisas fáceis, é ilustríssima nas difíceis; e muito mais floresce quando se obedece a um superior injusto e despreocupado, a quem sem murmuração ou calúnia se deve obedecer como a Deus, porque a obediência que se tem ao homem por respeito a Deus merece o mesmo que a obediência que imediatamente se tem a Deus. Não deve o verdadeiro obediente fazer reparo a que o superior seja humilde ou nobre, áspero ou brando, moço ou velho, incipiente ou prático, justo ou injusto, mas a olhos cerrados deve obedecer a tudo o que lhe manda quando manifestamente não vá contra a lei de Deus; porque só quando é manifesto o pecado não só não está obrigado a obedecer mas de nenhum modo o deve fazer: Ex cap. Non semper II quaest. 13. Mas quando está na dúvida se é ou não pecado, ainda neste caso deve obedecer por autoridade do superior que manda que execute esta dúvida: Mendonç. in I Regum cap. 3 anotatione 2 sess. I.

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