07/02/13

CAPELA DO ES. SANTO E S. JOÃO BATISTA - MUITO MAIS DO QUE OS OLHOS PODEM VER (III)

(continuação da II parte)

Com tudo o que estamos a ver, seria de admirar muito mais... mas muito mais virá. Aos poucos, o projecto de Vanvitelli vai desaparecendo e ficando em nada.

Entre outras coisas, destaca-se uma de fundamental interesse: Os indicados elementos da Corte Portuguesa, que se tinham reunido no Palácio da Ribeira (Lisboa) para apreciações, dão a Vanvitelli aquelas que, obrigatoriamente, serão as definitivas medidas para o altar: "A altura do altar será de 4 palmos e 10 onças, e o seu comprimento 10 palmos, deve conservar-se: toda a sua largura (como este altar há de acrescentar-se para a parte anterior, quando houver exposição do Santíssimo Sacramento) terá 4 palmos e 1/2, dos quais ficarão livres para o altar 3 palmos e 1/4 e para a banqueta 1 palmo e 1/4, a altura da banqueta por nenhum modo excederá 1 palmo, nem há necessidade de ser mais alta, porque absolutamente se reprova tenha sacrário no meio em que se houvesse de recolher o Santíssimo Sacramento, como mostram os riscos [desenhos]: o comprimento da banqueta póde ser de 14 palmos, como vem riscado [desenhado], e a parte que excede ao comprimento do altar ou estará sobre pedestal, na fórma de risco, ou sobre misola, pois de qualquer destes modos há exemplos. Também se conservará a altura da bradela e dos degraus, em 1 palmo e 10 onças, porém a largura da bradela serão 4 palmos e o seu comprimento excederá ao do altar em cada lado 3 até 4 onças, as quais continuarão acompanhando ambos os lados do altar com a mesma molduragem e lavor que tiverem na frente." Assim, Vanvitelli pôde conservar algumas das medidas do seu projecto, mas teve de alterar muitas outras. [O "palmo" é a antiga unidade de medida a que estávamos acostumados, são 22 cm (em Portugal), 20,87 cm (em Espanha) e 26,36 (em Itália), etc. A "onça" referida é a da unidade de volume, e não a unidade de massa.]


O altar é uma pedra inteira "sem o mínimo lezim", "e o seu ornato será mais nobre e de melhor gosto e capricho a que o arquitecto possa chegar". Importantíssimo notar esta ordem, por importâncias, na mentalidade católica, assim tão bem representada nesta indicação respeitante ao local mais importante da capela.

Em Portugal costumamos usar pedra nas construções, não só pela sua durabilidade. Muito mais rápido seriam construídas as igrejas, os palácios, as casas, se fossem em tijolo. O nosso material de referência é a pedra, e só não se usou quando não se podia usar, pelas mais diversas circunstãncias. Enquanto os outros países usaram indiferentemente tijolo e pedra (tendo em conta as características do material), nós sempre nos referenciámos pela pedra. Aqui não seria admissível, em circunstancias normais, construir uma igreja em tijolo por motivos de facilidade, a casa de Deus está associada a "pedras vivas" e, e toma-se a pedra como matéria própria, mesmo que fosse possível outra matéria mais nobre. Por outro lado, o templo é tomado por modelo das restantes construções. Os templos, pelo seu carácter sagrado, são feito para durar sempre sem se corromper, símbolo do corpo de Cristo. Não são nossos aqueles palácios e igrejas em tijolo abundante e fácil de trabalhar: por isso, muitos turistas hoje não estão preparados pelo convívio que têm com os grandes volumes monumentais de menor esforço. Nós, e muito bem, preferimos guiar-mo-nos por critérios mais sublimes mesmo que isso nos fizesse doer os braços. É isto um exemplo para aqueles que ainda julgam que o catolicismo acaba na mente e na alma e não se imprime nas acções e no produto delas.
Exemplo de grande construção em tijolo - Sevilha.
Na capela do Espírito Santo e S. João Baptista os materiais são duráveis: metal e pedra. Há uma pequena e simpática exepção: "... o seu plano terá um rebaixo, o qual, para evitar o frio dos pé ao celebrante, se encherá com um estrado encaixilhado de madeira de várias cores (...) advertindo que nada seja empelichado nem grudado porque com a intemperança do ar deste país são quase de nenhuma duração as madeiras empelichadas e grudadas, e para este defeito se armará tudo em boa grossura com encaixes e travessas a rabo de minhoto, com cavilhas e prégos, etc...". O sacerdote (algum monsenhor da Patriarcal) que aqui reze Missa pode, portanto, ficar descansado nos dias de inverno mais rigoroso. Recordo ao leitor que por vezes o sacerdote ia calçado com sapatos de tecido, do conjunto da paramentação.

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