A referência da Corte portuguesa parte de S. Carlos Borromeu, contudo vai-se mais longe: "O altar deve encostar-se à parede, por ser de capela menor, dos quais não trata S. Carlos, quando determina que sejam despegados da parede posterior, pelo que se adverte que nem pelo pensamento passe ocupar com a balaustrada coisa alguma do corpo da igreja, na qual (sedo grande) nos dias santos não cabe todo o povo que a ela concorre." É que Vanvitelli tinha desenhado o altar separado do retábulo, colocando o altar quase para o centro da capela e, para dar espaço devido ao Rito, puxou a balaustrada fora da capela. Viu-se na reposta que lhe deu a Corte a preocupação de não impedir que o povo assistisse à Missa continuando a caber na igreja em dias santos - tal pecado não fosse cometido por pretexto de falta de espaço.
do altar de St. Inácio, igreja de Jesus, Roma - foram usadas folhas tortas para distrair a vista da não correspondência ente os canais da coluna e o capitel. |
Uma das mostras mais claras do quanto D. João V estava informado admiravelmente está contida no seguinte comentário: "As colunas de lapis-lazuli se veem [no projecto] com 24 canais, o que não pode mostrar grandeza, e por este respeito, no altar de Santo Inácio [Roma], ainda que as colunas tenham mais de 3 palmos e 1/4 de diametro, se lhe fizeram somente 18 canais, e vendo-se depois que este número não admitia divisão de quatro com partes inteiras e que se desencontraram dos 24 canais que teem os capiteis, disfarçaram esta irregularidade, usando de folhas tortas nos capitéis; porém fazendo-se em cada coluna 16 canais ou planos, se consegue mostrar grandeza e se evita a referida irregularidade, porque no dito número 16 não só se acha divisão de quatro partes inteiras respectiva ao abaco e volutas, mas também de oitavos respectiva aos meios das frentes dos capitéis, nos quais se usará de folhas direitas e de duas ordens."
Na capela do Espírito Santo e S. João Batista as colunas são acabadas e a divisão dos canais e dos grupos de folhas do capitel fazem correspondência. |
É de salientar que as colunas da capela são baseadas nas do altar de St. Inácio em Roma (que podemos considerar o altar mais inacioano), pois a igreja de S. Roque é jesuíta. Ainda que melhoradas, as nossas colunas acabam por ser discreta homenagem a este grande santo fundador da Companhia de Jesus.
Mas, como entender que a Corte fosse tão extraordinariamente informada a respeito das outras igrejas? Tínhamos uma recolha exclusiva de informação de todas as basílicas do mundo e principais igrejas, tanto quanto às medidas, desenhos, Rito e música. No Palácio Real da Ribeira tudo isso existia juntamente com maquetas destinadas a este tipo de estudos. Sempre fomos preocupados em recolher informação estratégica de outros territórios, e D. João V aplicou isso na recolha de tudo o que dissesse respeito ao Rito Romano, Templos, Música Sacra... entre outros. Este material estava editado em largas coleções de livros únicos que, infelizmente, foram um dos grandes tesouros perdidos com o maldito terremoto de Lisboa. Este manancial informativo foi fundamental para a construção da Basílica Patriarcal que, segundo se sabe hoje, ultrapassava a pequena capela do Espírito Santo e S. João Baptista. Esta última sobreviveu ao terremoto... a Basílica Patriarcal, da qual os estrangeiros escreveram dizendo que nem na Basílica de S. Pedro tinham assistido a tão maravilhoso Rito, não sobreviveu, nem dela sobreviveram registos gráficos, e pouquíssimos são os registos literários.
(continuará s.D.q.)
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