"Em Galiza (Província por aqueles tempos no espiritual e temporal sugeita à Metrópole de Braga) a comemoração dos santos Mártires Evódio, Prisco, Agatão, Vidal, Orêncio, Aurino, Caprásio, Maudalo, e Ero Bispo de Lugo, que desprezando o sacrílego édito do Imperador Diocleciano, que mandava que todos os Cristãos empregassem os sagrados livros, persuadido que sendo eles queimados pudesse ser extinto da memória dos homens o nome de Cristo e sua Fé. Mas os santos Mártires tiveram por melhor entregar seu corpos ao suor dos cruéis verdugos para serem atormentado com diversos géneros de martírio que cometer tão horrendo sacrilégio; e assim (glorificando a Jesus Cristo, pelo amor de quem padeciam) perseveraram até à morte em seu santo propósito, passando pelo mar vermelho de seu sangue à desejada terra da promissão da bemaventurança, triunfaram do ímpio Presidente Daciano.
Em Portalegre, na igreja de S. Berardo, das Monjas Cistercienses, a festa de sua dedicação, a qual D. Jorge de Melo, Bispo da Guarda à sua custa ergueu no ano de 1518 e, depois, no ano de 1572. D. Andrade de Noronha II, Bispo de POrtalegre, sagrou à instância de D. Joana de Mello, última Abadessa perpétua do convento, onde com grande magnificiência, excelentes vozes e singular devoção de todo o decorrer do ano se se celebraram os divinos ofícios.
Na casa de Jesus de Aveiro da família Dominicana, o trânsito de D. Brites de Castro, irmã de D. Leão de Noronha (fidalgo por sua rara virtude, assaz conhecido neste Reino) a qual além das muitas penitências com que rigorosamente maltratava seus delicado corpo, jejuava todos os anos a pão e água uma inteira Quaresma, em honra de uma devota imagem de Cristo atado à coluna (à qual todo aquele convento tem particular devoção), começando no dia da Epifanía e acabando no dia de S. Valentim (14 de Fevereiro), no qual confessava e comungava com muita devoção, tempo durante o qual se sentava à mesa com tal dissimulação que nenhuma das religiosas desse por conta que ela jejuava. Uma das coisas que pedia àquele Senhor era que levasse em breve enfermidade que, pelo amor que tinha às suas companheiras, lhe seria de grande desconsolação cansá-las com a duração da doença. Foi ouvida sua oração, pois acabada a última Quaresma e recebida a absolvição, ainda no confessionário lhe sobreveio grande acidente, e foi levada à cela onde respirou, depois de duas horas passadas, causando sua morte santa "inveja" em toda aquela comunidade.
Em N. Senhora de Campos de Monte-Mor-o-Velho, de religiosas Franciscanas, a memória de Sôr Guiomar de Menezes, ilustre por sangue e não menos por exercíssimo de virtudes. E para isso dotada de singualar descrição, brandura e afabilidade com que a todoas as religiosas se acomodava, consolando às tristes e animando às fracas para levarem (sem queixa) o suave jugo da religião; enquanto teve forças não cessou de se mortificar com penitências. Mas porque as que o Senhor nos dá nos são mais proveitosas, tomou Ele à sua conta purificá-la com larga enfermidade na qual ela mostrou rara paciência. Nem por estar enferma lhe consentia o ânimo faltar com sua voz (que foi excelente) nos divinos louvores, fazia-se levar ao coro para com ela fazer ofício de Anjo. Na hora da morte alegre se despediu das religiosas, devotamente falou aos Santos cujas relíquias estavam inclusas na Cruz que tinha consigo; e cantando o Responsório: In monte Oliveti, das Matinas da quinta feira da Ceia do Senhor, elevada toda em sua sacratíssima Paixão, passou desta vida deixando tão opinião de suas virtudes que as religiosas com grande fé se encomendaram a ela em suas necessidades.
(...)
Neste dia, na cidade de Ponta Delgada, cabeça da ilha de S. Miguel, felizmente terminou a vida a humilde serva de Deus Luiza dos Anjos, terceira de S. Francisco, que foi sempre muito inclinada às obras de caridade e piedade, sem haver nela leviandade digna de repreensão; crescendo na idade, crescia também nas virtudes e na prática delas, sendo muito devota do culto divino e de assistir a maior parte do tempo na igreja, dado que não estava ainda mortificada na curiosidade e limpeza dos vestidos e trato de sua pessoa. Chegada aos vinte e três anos, ouvindo um sermão do juízo (com novo auxílio) a chamou o Senhor chamando o seu coração, tão trocado de divino amor e com tal aborrecimento às coisas mundanas, que logo cortou os cabelos e deixadas as galas vestindo-se de hábito pardo e fazendo dali em diante nova vida, dando-se toda à penitência e à oração em que gastava noite e dia (não concedendo repouso a seu corpo senão por breve esforço), recostando-se já na terra com tão gastado cobertor que mal tapava o frio. Jejuava a maior parte do tempo a pão e água, e quando não mortificava o gosto, privando-se de tudo o que lhe podia dar (tomando aspérrimas disciplinas, pelo que suas irmãs lhe persuadiram que não usasse tanto rigor para não desfalecer, pois seu corpo não tinha mais que a pele sobre os ossos). Às duas irmãs respondia a serva de Deus: Não será assim, porque eu tenho as Chagas de Jesus que me guiam e se me representam em tudo o que faço, e elas são as que me dão ânimo; e por esse respeito fazia particulares devoções [às chagas de Cristo], em especial à do lado, da qual sua alma recebia contínuos favores. Sobre tudo foi grande a sua humildade e caridade para com os pobres e necessitados, desejando poder ser sua enfermeira e curá-los nos hospitais, o que lhe impedia a muita obediência que tinha a sua mãe. Cumpriu-lhe Deus seus desejos, porque entrevendo e ficando cega a mãe, a ela servia com notável amor e caridade. Deu-lhe o céu particular graça para curar enfermos, pois todos os que tinham chagas asquerosas, limpando-lhas e fazendo sobre algumas respectiva medicina, saravam. Sentia sua alma tanta consolação no dia que comungava que ao redor dela no exterior todos davam conta, e assim dizia muitas vezes: Que quem buscava outras consolações mais que o Santíssimo Sacramento não era verdadeira amante, porque Nele se acham muitas mais [consolações] do que aquelas que se podem desejar. Adorava a Santíssima Trindade com cordial afecto e particulares devoções, alcançando (por este meio), para si e seus devotos, avantajados favores. Todos os dias dessa festa mandava dizer uma Missa ofertada com três argolas e, querendo um ano fazê-las todas iguais, em tamanho e peso, cortando a massa em três partes, pesadas lhe saíram tão conformes que tanto pesava uma como outra, e as duas como uma. Rara maravilha! Com ela cresceu a serva de Deus em maior devoção deste altíssimo Mistério e, invejoso o comum inimigo dos singulares favores com que o Senhor a melhorava e engrandecia, lhe apareceu muitas vezes em diversas e horrendas figuras quebrando-lhe as contas [do rosário, ou do terço do rosário] ou escondendo-lhas, fazendo-a dar um tombo terrível do qual ficou muito mal. Querendo o Senhor levá-la desta vida, repentinamente foi salteada de apoplexia, de que ficou sem fala par as coisas do mundo e não para as da salvação, pois chamado o confessor com grandes sinais de contrição se confessou e, querendo-lhe lançar ventos, não se achou parte em todo seu corpo em que pudesse que não estivesse feita em viva chaga de acérrimas disciplinas. Recebidos (com estremada alegria e devoção) os últimos Sacramentos, entregou seu puro espírito nas mãos do Criador. E assim, com grande fundamento, cremos gozar da beatífica visão, pois na vida acreditou o Céu sua virtude com grandes maravilhas, as quais ainda hoje obra por meio das coisas de seu uso.
Neste dia, na cidade de Ponta Delgada, cabeça da ilha de S. Miguel, felizmente terminou a vida a humilde serva de Deus Luiza dos Anjos, terceira de S. Francisco, que foi sempre muito inclinada às obras de caridade e piedade, sem haver nela leviandade digna de repreensão; crescendo na idade, crescia também nas virtudes e na prática delas, sendo muito devota do culto divino e de assistir a maior parte do tempo na igreja, dado que não estava ainda mortificada na curiosidade e limpeza dos vestidos e trato de sua pessoa. Chegada aos vinte e três anos, ouvindo um sermão do juízo (com novo auxílio) a chamou o Senhor chamando o seu coração, tão trocado de divino amor e com tal aborrecimento às coisas mundanas, que logo cortou os cabelos e deixadas as galas vestindo-se de hábito pardo e fazendo dali em diante nova vida, dando-se toda à penitência e à oração em que gastava noite e dia (não concedendo repouso a seu corpo senão por breve esforço), recostando-se já na terra com tão gastado cobertor que mal tapava o frio. Jejuava a maior parte do tempo a pão e água, e quando não mortificava o gosto, privando-se de tudo o que lhe podia dar (tomando aspérrimas disciplinas, pelo que suas irmãs lhe persuadiram que não usasse tanto rigor para não desfalecer, pois seu corpo não tinha mais que a pele sobre os ossos). Às duas irmãs respondia a serva de Deus: Não será assim, porque eu tenho as Chagas de Jesus que me guiam e se me representam em tudo o que faço, e elas são as que me dão ânimo; e por esse respeito fazia particulares devoções [às chagas de Cristo], em especial à do lado, da qual sua alma recebia contínuos favores. Sobre tudo foi grande a sua humildade e caridade para com os pobres e necessitados, desejando poder ser sua enfermeira e curá-los nos hospitais, o que lhe impedia a muita obediência que tinha a sua mãe. Cumpriu-lhe Deus seus desejos, porque entrevendo e ficando cega a mãe, a ela servia com notável amor e caridade. Deu-lhe o céu particular graça para curar enfermos, pois todos os que tinham chagas asquerosas, limpando-lhas e fazendo sobre algumas respectiva medicina, saravam. Sentia sua alma tanta consolação no dia que comungava que ao redor dela no exterior todos davam conta, e assim dizia muitas vezes: Que quem buscava outras consolações mais que o Santíssimo Sacramento não era verdadeira amante, porque Nele se acham muitas mais [consolações] do que aquelas que se podem desejar. Adorava a Santíssima Trindade com cordial afecto e particulares devoções, alcançando (por este meio), para si e seus devotos, avantajados favores. Todos os dias dessa festa mandava dizer uma Missa ofertada com três argolas e, querendo um ano fazê-las todas iguais, em tamanho e peso, cortando a massa em três partes, pesadas lhe saíram tão conformes que tanto pesava uma como outra, e as duas como uma. Rara maravilha! Com ela cresceu a serva de Deus em maior devoção deste altíssimo Mistério e, invejoso o comum inimigo dos singulares favores com que o Senhor a melhorava e engrandecia, lhe apareceu muitas vezes em diversas e horrendas figuras quebrando-lhe as contas [do rosário, ou do terço do rosário] ou escondendo-lhas, fazendo-a dar um tombo terrível do qual ficou muito mal. Querendo o Senhor levá-la desta vida, repentinamente foi salteada de apoplexia, de que ficou sem fala par as coisas do mundo e não para as da salvação, pois chamado o confessor com grandes sinais de contrição se confessou e, querendo-lhe lançar ventos, não se achou parte em todo seu corpo em que pudesse que não estivesse feita em viva chaga de acérrimas disciplinas. Recebidos (com estremada alegria e devoção) os últimos Sacramentos, entregou seu puro espírito nas mãos do Criador. E assim, com grande fundamento, cremos gozar da beatífica visão, pois na vida acreditou o Céu sua virtude com grandes maravilhas, as quais ainda hoje obra por meio das coisas de seu uso.
Em Omura, cidade do Japão, o acérrimo combtente de Domingos Matçuuo, devoto Cristõ, natural de uma aldeia junto de Nagasáqui, que sendo preso e condenado à morte por ter hospedado dois religiosos menores, como se fora para alguma festa saiu do cárcer muito alegre e contente ao lugar da execução, seguindo-o toda a cidade para se achar presente a tão horrendo espetáculo. Atado ali o valeroso cavaleiro de Cristo a um pau, e cercado de lenha em distância que com lento fogo fosse mais dilatado e cruel o tormento, o invencível combte no meio dele quase não dava mostras de aflição, pondo por intervalos os olhos nos circunstantes, e inclinando a cabeça como quem se despedia de todos, as lavaredas levadas do vento lhe chamuscavam o rosto, e era tal o fumo que por três vezes se perdeu a vista. Passada mais de uma hora em tal tormento, enfadados, os ministros da dilação tratram de o acabar às lançadas. Porém, quebradas as ataduras, caiu de lado e, querendo-se levantar, um dos algozes lhe deu um cruel golpe de catana pelos ombros e outro o descabeçou. Com [este golpe] sua alma partiu victoriosa a gozar da glória, cujas relíquias com interpida ouadia e grande devoção recolheram os cristãos."
(...)
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