30/11/12

I DOMINGO DO ADVENTO - Sermão de STO. AFONSO DE LIGÓRIO


I DOMINGO DO ADVENTO

- O Juízo Derradeiro -
"Então aparecerá o sinal do Filho do Homem no Céu com muito poder e majestade"
(Mateus 24.30)


Hoje em dia Deus é desconhecido, assim os pecadores desprezam-n'0, como se Ele não pudesse, quando quisesse, vingar-se dos ultrajes que Lhe foram feitos. Eles pensam: que nos pode fazer o Omnipotente? (Job 22. 17). Mas o Senhor fixou irrevogavelmente um dia, que as Sagradas Escrituras chamam o dia do Senhor, em que o soberano Juiz deve enfim mostrar-se tal como é. O senhor manifestou-se, fez justiça (Salm. 9. 17). Este dia também é chamado dia de cólera, dia de tribulação, de angústia, dia de calamidade e de miséria. (Sofonias 1. 15). 

l° No primeiro ponto: o comparecer diferente dos justos e dos pecadores
2º O Exame de consciência
3°A sentença dos justos e dos danados. 

I
O COMPARECER DIFERENTE DOS JUSTOS E DOS PECADORES 

1. O início deste dia será marcado pelo fogo que descerá do Céu e queimará todos os homens ainda vivos e todas as coisas deste mundo: E os elementos com o calor se dissolverão e a terra e todas as obras que há nela serão queimadas (2 Pedro 3. 10). Tudo isso apenas será um montão de cinzas. 

2. Os homens, estando mortos, a trombeta soará e todos ressuscitarão, como o diz o Apóstolo: Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta, os mortos ressuscitarão incorruptíveis (1 Cor. 15. 52). São Jerónimo exclama (In S. Mateus cap. 5): Cada dia considero eu o dia do Juízo, tremo. Quer eu coma, beba ou faça qualquer coisa, sempre parece que os meus ouvidos ouvem este terrível som da trombeta: Levantai-vos mortos, vinde ao julgamento. E Santo Agostinho confessa que nada o arrancava aos prazeres da terra a não ser o temor do julgamento. 

3. Ao som desta trombeta descerão do Céu as almas puras dos eleitos, para retomar a forma com que serviram a Deus na terra; surgirão do inferno as almas culpáveis dos danados, para revestir o maldito corpo com que ofenderam a Deus na terra. Quão diferentes serão eles uns dos outros ! Os danados aparecerão feios e pretos como outros tantos tiçãos do inferno; e os eleitos irradiarão como outros tantos sóis. Então resplandecerão os justos como o sol no reino do Seu Pai (Mateus 13. 43). Ó quão poderão alegrar-se então os que terão mortificado a sua carne pela penitência. Podemos convencermo-nos pelas palavras que São Pedro de Alcântara dirigiu a Santa Teresa, quando lhe apareceu depois da morte: Ó feliz penitência que me valeu tamanha glória ! 

4. Logo depois da ressurreição, os homens serão chamados pelos anjos no vale de Josafat para ser julgados: (Joel 3. 14). Os anjos virão a seguir para separar os justos dos danados, colocando os justos à direita e os danados à esquerda. Será assim no fim do mundo, virão os anjos e separarão os maus do meio dos justos (Mateus 13. 49). Oh ! Que vergonha sentirão então os miseráveis danados, escreveu o autor do livro das Obras imperfeitas (Hom. 54). Como imaginar a confusão dos danados ao ser separados dos justos para serem condenados ! Só este castigo, nos diz São João Crisóstomo, basta para equivaler a todos os tormentos do inferno: Se nada além disso fosse revelado, esta única vergonha bastar-lhes-ia como pena (In S. Mateus cap. 24). O irmão será separado do irmão, o marido da sua mulher, o filho do seu pai, etc. 

5. Mas eis que os céus se abrem, os anjos ao descerem para assistir ao julgamento, levando o sinal da Cruz e os outros instrumentos da paixão do Nosso Divino Redentor, como o escreve São Tomás, o doutor angélico: Na vinda do Senhor para o Juízo, aparecerão o sinal da Cruz e as outras coisas da paixão (S. Tom. Opusc. 2 cap. 244). Isso está confirmado pelas palavras de São Mateus (24. 30). Então aparecerá o sinal do Filho do homem no Céu, e todas as tribos da terra chorarão, e verão o Filho do Homem vir sobre as núvens do Céu com grande poder e majestade. Os pecadores derramarão lágrimas amargas e cruéis dos remorsos, vendo a Cruz do Salvador e, como diz São João Crisóstomo dirigindo-se para o ímpio, os cravos se queixarão de ti, as chagas e a Cruz levantarão contra ti a sua voz poderosa (Homil. 20. In Mateus). 

6. A este Julgamento assistirão também a Rainha dos Anjos, a Santíssima Virgem Maria e enfim aparecerá o Juiz Soberano, levado sobre as núvens, resplandecente de luz e de majestade. E verão o Filho do homem vir sobre as núvens do Céu com grande poder e majestade (Mateus 24. 30). Oh que grande tormento para os danados ao ver face a face o seu Juiz ! À sua vista ficam atormentados os povos (Joel 2. 6). São Jerónimo escreve que a presença de Jesus Cristo será para eles um suplício mais terrível do que os do próprio inferno. Assim, neste dia supremo, como profetizou São João: dirão aos montes que caiam sobre eles, e que os ocultem à vista do seu Juiz irritado: E diziam aos montes e aos rochedos: caí sobre nós, e escondei-nos da face daquele que está sentado sobre o trono e da ira do Cordeiro (Apoc. 6. 16). 

II
O EXAME DE CONSCIÊNCIA 

7. Procedeu-se ao Julgamento e foram abertos os livros (Dan. 7. 10). Os livros da consciências serão abertos e o Julgamento começará. Nada de escondido ficará então: O Apóstolo diz que o Senhor porá às claras o que se acha escondido nas trevas (1 cor 4. 5). Deus mesmo diz pela boca do profeta Sofonias (1. 12). Esquadrinharei Jerusalém com lanternas. A luz desta lanternas iluminará todas as coisas escondidas. 

8. Lê-se em São Jerónimo (Homil. 3. In David). O dia do Juízo é terrível para os pecadores, mas desejável e suave para os justos. Deus fará a cada um dos justos o elogio merecido das boas obras (1 Cor 4. 5). O Apóstolo diz que os eleitos serão neste dia arrebatados no ar sobre as núvens para avolumar o cortejo dos anjos que acompanham o Salvador: seremos arrebatados juntamente com eles sobre as núvens ao encontro de Cristo nos ares (1 Tess. 4. 16). 

9. Os mundanos, que dantes taxavam de loucura os santos, agora mortificados humilhados, fazem cair sobre eles próprios esta mesma injúria, e exclamam: Nós insensatos considerávamos a sua vida uma loucura e a sua morte uma ignomínia, ei-los que são contados entre os filhos de Deus e, entre os santos está a sua sorte? (Sabed. 5. 4). Neste mundo, reputamos felizes aqueles que possuem as riquezas e as honras enquanto que a única fortuna é se tornar Santo. Alegrai-vos, almas cristãs, que levam uma vida cheia de tribulação: Haveis de estar triste, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria (João 16. 20). No vale de Josafat, estareis colocado perto do trono de Glória. 

10. Inteiramente ao contrário, os pecadores serão colocados à esquerda, como outros tantos bode impuros, destinados ao talho; estão à espera da sua última condenação. No tempo do julgamento, diz São João Crisóstomo, a misericórdia não terá lugar. Já não há, no grande dia do Juízo, esperança de misericórdia para os desgraçados pecadores. Santo Agostinho nos diz: A grande pena do pecado é de perder a memória e o medo do grande dia do Julgamento de Deus. Aquele que perde a graça no mesmo tempo perde com ela também a memória e o medo do Juízo de Deus. (Serm. 20 de temp). Sabe, sabe desgraçado pecador, obstinado no pecado, diz o Apóstolo, que por esta obstinação amontoas um tesouro de ira Divina para o grande dia do Julgamento de Deus. Mas a tua dureza e coração impenitente acumula para ti um tesouro de ira no dia da ira e da manifestação do justo Juízo de Deus (Rom. 2. 5). 

11. Então, diz-nos Santo Anselmo, os pecadores que quereriam debalde esconder- -se, serão forçados a comparecerem diante do seu Juiz, sentindo uma dor insuportável. Impossível esconder-se, intolerável comparecer. Os demónios farão os seus ofícios de acusadores e dirão ao Juiz, segundo as palavras de Santo Agostinho: Julga este escravo meu, que não quis ser o Teu. Os danados ouvirão testemunhar contra eles: 1º a sua própria consciência: Dando-Ihes testemunho a sua própria consciência (Rom 2. 15). 2°as criaturas, porque as muralhas próprias das casas em que pecaram falarão e desvendarão os seus crimes: Porque a pedra da parede clamará (Habac. 2. 11). 3°o próprio Juiz que lhes diz: Eu sou o testemunho e o Juiz (Jer. 29. 23). Ele dirá Especialmente aos cristãos reprovados, assim como narra São Mateus: Ai de ti Corozaim ! Ai de ti Betsaida, porque, se em Tiro e em Sidónia tivessem feito os milagres que se realizaram em vós, há muito tempo que eles teriam, feito penitência em cilício e em cinza (Mateus 11. 21). Cristãos, dirá Ele, se Eu tivesse feito aos turcos e idólatras as mesmas graças que haveis recebido de Mim, teriam feito penitência das suas culpas, ao passo que vós perseverais no pecado até a morte. E então Ele fará aparecer aos olhos de todos os seus crimes mais escondidos. Eis-Me contra ti, diz o Senhor dos exércitos ! Vou lançar sobre o teu rosto e mostrar a tua nudez às nações, aos reinos a tua vergonha (Naum 3. 5). Desvendará e tornará públicas as suas injustiças e crueldades escondidas. Farei recair sobre ti as tuas obras (Ezeq. 7. 4). 

12. Que desculpa fundada, que desculpa qualquer, poderia ele apresentar ? Toda a maldade fecha a sim boca (Salm. 106. 42). Assim em vez de buscar desculpas, pronunciarão eles mesmos a sua própria condenação. 

III
SENTENÇA PRONUNCIADA SOBRE OS ELEITOS E SOBRE OS DANADOS

13. São Bernardo diz (Serm. 8 in Salm 90). que a sentença que concerne aos justos será proferida em primeiro lugar, e chamá-los-á a desfrutar da glória celeste afim de agravar a pena dos reprovados pelo espectáculo do bem que perderam. Jesus Cristo portanto virar-se-á para os eleitos e dir-lhes-á com amor e serenidade: vinde benditos do Meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde a criação do mundo (Mateus 25. 34). Benzer-lhes-á todas as lágrimas derramadas na penitência, todas as boas obras, orações, mortificações, comunhões: sobretudo benzer-lhes-á a parte de dor que sentiram da Sua Paixão e do Sangue derramado por Ele pela salvação deles. Todos glorificados por esta bênção, os eleitos, cantando aleluia, aleluia, entrarão no Paraíso para aí louvar e amar a Deus eternamente. 

14. Virando-se depois para o lado dos reprovados, o soberano Juiz pronunciará a sua sentença com estas palavras: Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno (Mateus 25. 41). Será portanto amaldiçoado por Deus e como tal separado de Deus e condenado a arder para sempre no fogo eterno: E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (Mateus 25. 46). Depois desta sentença, diz Santo Éfrem, os danados serão forçados a dizer um último e eterno adeus aos seus parentes, no Céu, aos Santos, à Santíssima Mãe de Deus: Adeus Justos, adeus Cruz, adeus Paraíso, adeus pais e filhos. Já nunca mais nos vamos ver de novo: adeus também Maria Virgem e Mãe de Deus (S. Éfrem de variis serm. Inf.). Depois um abismo abrir-se-á no meio do vale, em que os danados vão ser engolidos, e sentirão por detrás deles fechar-se as portas que nunca vão tornar a abrir-se durante toda a eternidade. Ó funesto pecado, ao qual fim miserável hás-de arrastar um dia tantas almas, resgatadas pelo sangue precioso de Jesus Cristo ! Ó almas desgraçadas, que fim lamentável vos é assim reservado ! 

Mas vós, cristãos, alegrai-vos; vós para quais Jesus Cristo é ainda um pai, e não um Juiz; Está pronto a perdoar ao pecador arrependido. Imploremos portanto o perdão salutares (Aqui, mandamos o povo rezar actos de penitência e de resoluções para uma vida melhor e a oração a Jesus e a Maria para obter a graça da perseverança final. Estes actos devem fazer-se ao remate de cada sermão).

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES