31/10/12

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XI)

(continuação da X parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

Cap. XI
Como se Deve Adquirir a Paz e o Zelo de Aproveitar.

1.Muita paz poderíamos ter se não nos quiséssemos meter nas palavras e obras dos outros, que não pertencem ao nosso cuidado. Como pode estar em paz muito tempo aquele que se intromete em cuidados alheios, e busca ocasiões exteriores, e dentro de si mesmo poucas ou raras vezes se recolhe? Bemaventurados os simples, porque terão muita paz.

2. Qual foi a causa pela qual muitos dos Santos foram tão perfeitos e tão contemplativos? Porque trataram de se mortificar totalmente a todos os desejos terrenos; e por isso puderam com o íntimo de seu coração unir-se a Deus e atender livremente a si mesmos. Nós, com intenção, nos ocupamos em servir as nossas próprias paixões, e nos encadeamos às coisas que passam. Poucas vezes vencemos perfeitamente um vício; não nos inflamamos com desejo de adiantar cada dia o nosso aproveitamento, e por isso ficamos com frouxidão e tibieza.

3. Se estivéssemos perfeitamente mortos para nós mesmos, e interiormente desembaraçados, logo gostaríamos mais das coisas Divinas e experimentaríamos alguma coisa da contemplação celeste. O total, e maior impedimento é, que não estamos livres de nossas inclinações e desejos, nem trabalhamos por entrar no minho perfeito dos Santo. Quando alguma pequena adversidade nos sucede, mui depressa nos desalentamos, e buscamos humanas consolações.

4. Se nos esforçamos a perseverar na batalha como varões fortes, sem dúvida veremos o socorro de Deus desde o Céu sobre nós. Porque aparelhado está nele para ajudar aos que pelejam, e esperam em sua graça, e nos procuram as ocasiões da peleia para que logremos a victoria. Se somente nas observâncias exteriores pomos o aproveitamento da vida religiosa, muito depressa terá fim a nossa devoção. Ponhamos pois o machado à raiz, para que, livres das paixões, possamos pacificar nossas almas.

5. Se cada ano desarreigassemos um vício, depressa seriamos perfeitos. Mas agora, pelo contrário, muitas vezes acontece termos sido melhores e mais puros no princípio de nossa conversão, que depois de muitos anos. O nosso fervor e o nosso aproveitamento cada dia deverá crescer; mas agora parece-nos muito perseverar em alguma parte do fervor primeiro. Se no princípio nós fizéramos alguma força, poderíamos depois fazer tudo com gosto, e felicidade.

6. Muito difícil é deixar os velhos maus costumes; porém mais difícil é ir contra a própria vontade. Mas, se não vences as coisas pequenas e fáceis, como vencerás as difícultosas? Resiste no principio à tua inclinação, e deixa o mau costume; para que não te seja pouco a pouco mais difícil. Oh... se considerasses de quanta paz isto seria para ti, e de quanta alegria para os outros, o governares-te bem! Crê que serias então bem mais cuidadoso em teu espiritual aproveitamento.

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