10/10/12

CORPUS CHRISTI - EXEMPLO DAS ORDENS DE CAVALARIA

O liberal Marquês da Fronteira e Alorna
D. José Mascarenhas Barreto
Narra o Marquês da Fronteira a coragem dos Cavaleiros portugueses em defender a Deus sobre todas as coisas. Contudo, desconfio de alguma propaganda liberal acrescentada, coisa que não me admira neste Marquês:

"Um dos dias mais festivos em Lisboa era o da festividade do Corpus Christi. O General Junot quis que a festa se fizesse com a mesma etiqueta com que se celebrava quando a Côrte estava em Lisboa e assistiu em pessoa à procissão, ordenando que os indivíduos da Côrte o seguissem.

Em Lisboa só havia então a guarnição francesa e a Guarda Real da Polícia, e as alas foram feitas pelos franceses, comandando a força o General Loison.

Eu via a procissão das janelas do meu inquilino Aguiar, no Rossio.

Quando as ordens religiosas principiavam a sair da igreja de S. Domingos, sentiu-se grande tumulto do lado da Praça da Figueira e alguns tiros, gritando o povo e das janelas: São os ingleses!

De todos os lados saíram entusiásticos vivas ao Príncipe Regente e aos ingleses, e o General Laborde, acreditando que havia um movimento revolucionário e que os ingleses tinham desembarcado, formou a divisão em coluna do lado do passeio, abandonando as alas.

Os frades e irmãos das diferentes corporações fugiram, largando cruzes, ciriais e tochas; o povo encorajado, invadiu a praça, gritando: Viva o Príncipe Regente! Abaixo os franceses!

Os padres que, segundo a liturgia, traziam o pálio até à porta da igreja, abandonaram-no e caiu no chão, mas o Principal Miranda, cavaleiro ilustre e corajoso, que levava o Sacramento, manda abrir a umbrela e, sem recuar um passo, continua a avançar, cercado pelos Comendadores e Cavaleiros das diferentes ordens.

o General Junot, que ainda se conservava na tribuna, desceu precipitadamente com uma pistola na mão e seguido do seu Estado Maior, e, fazendo com que os Comendadores e Cavaleiros tomassem as varas do pálio, organizou, conforme pôde, a procissão e fez com que ela prosseguisse.

Eu vi passar, em frente da casa onde estava, o pálio, isolado, rodeado dos granadeiros franceses e seguido do General Junot, seu Estado maior, alguns Grandes do reino e a Guarda Real dos Archeiros.

Por esta época, pouco mais ou menos, houve outros dois acontecimentos no mesmo sentido, mas um trágico e outro cómico."

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