D. João III |
“Quanto à Capela Real, não afroxou el-Rei D. João III na devoção paterna, e obteve do Santo Padre Adriano VI, que por Breve de 22 de Maio de 1522 lhe concedesse o resar-se lá, todos os sábados da Mãe de Deus, e nas terças feiras de S. Miguel, Oficio e Missa solene, eceptuados os dias em que houvesse festa duplex, pois nesse caso se celebraria o Ofício no dia imediato.
Há um pormenor, que mostra o apuro do luxo artístico-religioso em que então se vivia cá: el-Rei D. João encomendou a Francisco de Holanda (nada menos) o desenho para as Hóstias que se usavam em todos os mosteiros de Portugal; desenho que depois foi gravado num cunho por um tal Frei Lopo (outro nome para os anais da nossa gravura).
Era mestre da Capela Real em 1551 Francisco Rodrigues; chantres Manuel Cardoso e António Fernandes, todos capelães e cantores. No tempo de Bluteau chamava-se por antonomásia “Bispo cortesão” ao prelado do título in partibus, que presidia ao coro e aos pontificais na Capela Real.
Que nesta casa eclesiástica se conservou sempre muito esplendor, prova-o a menção que certo autor nos faz de “toda a Capela del-Rei, com suas charamelas e trombetas, que de quando em quando tocavam alguns motetes, e cantavam salmos e hinos” na festa do Corpo de Deus em 1557.
À Capela Real em dias del-Rei D. João III refere-se um caso lastimoso, em cuja descrição será melhor não nos determos: o desacato cometido por um fanático herege, inglês de nação, contra a Hóstia Consagrada, no próprio momento em que o Padre Julião Soares, Capelão do Paço, a erguia entre as suas veneráveis mãos. Não se deu o triste facto na capela, mas sim numa sala, onde o Rei, como muitas outras vezes, desejou assistir aos santo Sacrifício. Foi isto um Domingo 11 de Dezembro de 1552, logo depois de celebrados os desposórios dos Príncipes (D. Manuel de Meneses – Chron. De D. Sebastião, cap, V).
A esse desacato infame, seguiu-se, terrível castigo: o perverso foi queimado vivo no terreiro do paço, em frente das janelas do palácio, assistindo toda Lisboa.
No oratório particular do paço da Ribeira celebrou-se, em 27 de Janeiro de 1554, o cerimonial do batizado do pequenino Príncipe que veio a ser o Rei. D. Sebastião. Foram padrinhos el-Rei D. João III avô do neófito, e o Infante D. Luís, e madrinha a Rainha D. Catarina, Foi o menino levado à Pia pela Camareira mor D. Joana d’Eça, e lançou-lhe as águas lustrais o Cardeal D. Henrique.
Sem comentários:
Enviar um comentário