“Visto, pois, faltarem cicerones coevos e autênticos, que nos descrevam o palácio da Ribeira, os seus salões, os seus eirados, os seus jardins, o seu estilo arquitetónico, a sua planta, a sua sumptuosa mobília, estudarei agora, como puder e souber, uma das melhores joias da casa: a Capela.
Já no outro livro (Lisboa antiga, II parte, tomo III), a propósito do paço da Alcáçova, esmiucei a fundação dela, e as suas várias vicissitudes até ao séc. XVI. Aqui direi que, transferindo el-Rei D. Manuel a sua residência para este novo paço à beira-mar, para ele transferiu com todas as suas antigas prerogativas as Capela Real, mudando-lhe contudo o orago, que será S. Miguel, e ficou sendo. S. Tomé, o padroeiro da Índia; intenção oculta do augusto Fundador.
Na segunda das visitas de Braunio, observo a capela indicada sob. O nº 119.
Consultado o já ouvido Padre Sande, responder-nos-á que o palácio “tem de mais uma capela, com numerosas colegiadas composta de respeitabilíssimos Eclesiásticos, presididos quase sempre por um Bispo. Fazem.se ali os divinos ofícios, com tal ordem, tão excelente e variada música, vocal e instrumental que mais se lhe pode chamar uma catedral, que não uma capela.”
Neste templo se representou, na noite das Endoenças de 1508, por ordem da viúva del-Rei D. João II, o Auto da alma, composição de Gil Vicente (notícia tirada das rubricas das obras do próprio Poeta). Esse uso absurdo acabou; (…)
Capelão mor era um Bispo. Vi na Torre do Tombo a nomeação do Bispo de Lamego D. Fernando de Vasconcelos em 1 de Setembro de 1516, e vi também uma carta, em que el-Rei D. Manuel nomeia substituto a esse Prelado, ainda então simples adayam da Real Capela, e que, segundo parece, não dava vasão ao muito trabalho que lhe incumbia com o expediente dos avlaraaes das confissões dos moradores da Casa. O substituto ficara sendo para esse fim, desde 29 de Fevereiro de 1515, João Riminha, Capelão cantor.
E observo outra circunstância: não era só el-Rei que tinha capela; o Príncipe herdeiro também tinha a sua. Vi na Torre do Tombo uma quitação do Soberano a Diogo Fernandes Cabral, Deão da Capela do Príncipe, pelas despesas nos anos de 1509 a 1513, e pelas alfaias pouquíssimas de que era depositário o dito Deão. (…)
Em Janeiro de 1512, nasceu aqui o Infante D. Henrique, futuro Cardeal-Rei. (…)
Aqui recebeu em 1516 o Infante D. Afonso, com sete anos apenas, o barrete cardinalício da parte do Santo Padre leão X. Trouxe-lho de Roma D. Manuel de Noronha da Câmara, Bispo de Lamego”
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