13/10/12

A TRADIÇÃO APOSTÓLICA E A ORIGEM DO ROSÁRIO - NOSSA SENHORA, E S. DOMINGOS, e o Beato ALANO.

Nossa Senhor do Rosário - Fátima

Do princípio da devoção do Rosário

"Como a devoção do Rosário de nossa Senhora é coisa muito importante e proveitosa a toda a sorte de gente, para todos folgarem com a ocupação em tão santo exercício, pareceu-me apropriado colocar no princípio deste livro a origem e início dela e quais foram os primeiro que começaram a usá-la, para que aqueles a quem as novidades não contentam, vendo a antiguidade desta devoção e santidade dos que primeiro nela se exercitaram, pregaram e ensinaram ao povo Cristão, a estime e tenham na devida conta razão. E quanto ao principal desta devoção, que é lembrança dos mistérios Divinos que o filho de Deus no mundo feito homem obrou por amor de nós, sua Encarnação, Paixão e Ressurreição, é coisa tão antiga que da mesma Virgem nossa Senhora diz o Evangelista S. Lucas, depois de contar seu divino parto, e vinda dos pastores que disseram o que ouviram aos Anjos, que guardava todas estas coisas conferindo-as em seu seu coração, E no mesmo capítulo depois de contar como a Senhora achara o menino Jesus no templo sentado no meio dos doutores, ouvindo e pregando-lhes algumas coisas, torna outra vez a receber as mesmas palavras dizendo que a Senhora conservava estas coisas em seu coração. O qual está claro foi feito para meditar nelas e daqui tomar matéria de altíssima contemplação. E dos feitos Apóstolos lemos que depois de  que o nosso redentor subiu aos céus, eram muito conformes na oração. E o mesmo diz dos que de novo se convertiam. E não pode deixar de entender ser parte desta oração ocuparem-se muito na meditação dos divinos mistérios que o Senhor tinha obrado na terra: porque ainda naquele tempo não eram compostas tantas orações como agora. E quanto às orações vocais que nesta devoção do Rosário se dizem que são o Pater noster e avé Maria, também são muito antigas na Igreja. Porque a oração do Pater noster Cristo nosso Senhor a ensinou aos Apóstolos, e assim esta seria a oração que eles mais frequentariam. E depois da Virgem Gloriosa nossa Senhora estas no Céus também usariam da saudação Angélica e das palavras que santa Isabel  lhe disse, das quais se compõe a avé Maria. Porque o costume que há na Igreja de saudar a Virgem Gloriosa desta maneira é tão antigo que se crê, e tem por certo, que os Santos Apóstolos foram os primeiros que o começaram a usar, e assim o continuaram os Cristãos que se convertiam, cuja tradição dura até agora e durará até ao fim do mundo. Mas esta maneira de rezar o Rosário, como agora os Cristãos o rezam, dizendo cento e cinquenta vezes a Avé Maria, e quinze o Pater noster, a honra e veneração de quinze mistérios principais da Encarnação, Paixão, e Ressurreição do filho de Deus: dizendo um Pater noster e dez vezes a avé Maria, a cada mistério deste, meditando e considerando neles e dando graças a nosso Senhor. O primeiro que o começou a usar e o pregou e confirmou aos Cristãos, foi o glorioso Padre S. Domingos, pai e primeiro instituidor e fundador da ordem dos pregadores. O qual, como era muito devoto da Virgem gloriosa Nossa Senhora, e por sua intercessão esperava alcançar grandes favores de Deus para a ordem que de novo fundava para a conversão dos pecadores que tanto desejava, determinou de fazer este serviço. E assim ensinou aos Cristãos esta devoção e maneira de orar que um Saltério da Virgem Gloriosa, com tanto numero de avé Marias, como são os Salmos no Saltéro de David. E isto foi no ano do Senhor de mil e duzentos, quando pregoava em França nas partes de Tolosa contra os hereges, como afirmam todos os que até agora escreveram do Santo Rosário. E o Papa Pio V, frade da ordem dos pregadores, assim o afirma na Bula em que de novo aprova o dito modo de rezar, e a confraria e irmandade do Rosário ser o glorioso padre S. Domingos o que com especial revelação de nossa Senhora pregou primeiro e ensinou esta devoção aos Cristãos como coisa que a ela era muito aceite. E obrando nosso Senhor muitas maravilhas em seu tempo na conversão dos fiéis mediante este modo de orar, o glorioso Padre deixou encomendado a seus frades que pregassem e ensinassem esta devoção; confiando que mediante ela obraria nosso Senhor muitas maravilhas. E seguindo-se grande fruto e proveito na Igreja de Deus deste modo de orar, continuou-se muito tempo depois da morte do glorioso padre.

Como Nossa Senhora tornou a mandar pregar esta devoção do Rosário

Depois da morte do glorioso padre S. Domingos e doutros padres que com muito fervor pregaram esta santa devoção, como os homens são descuidados nas coisas da sua salvação, pouco a pouco se foram esquecendo desta maneira de orar. E a Virgem gloriosa nossa Senhora, querendo tornar a renovar esta devoção, assim como em primeiro fora instituída e pregada pelo bemaventurado padre S. Domingos, no ano do Senhor de mil e quatrocentos e sessenta apareceu toda vestida de claridade e resplendor a um religioso muito seu devoto chamado Frei Alano de Rupe [depois beatificado], da Bretanha, mestre de Teologia, da congregação da observância de Holanda, da ordem dos pregadores. E disse-lhe, "Filho meu, sabes tu como a devoção do meu Rosário, devoção há tanto instituída e pregada pelo meu muito amado e fiel servo S. Domingos, pai da tua ordem e pelos seus frades, a qual me era a mim tão aceite e aos Cristão tão proveitosa: mas pela muita negligência dos homens está tão esquecida." Respondeu o religioso padre, que bem sabia e lhe pesava muito; disse-lhe então a Senhora: "Porque eu sempre desejei muito a salvação dos homens, a qual esta maneira de orar ajuda muito: eu a quero tornar a renovar, e a ti tenho escolhido, para em meu nome, da minha parte, pregares e amoestrares a todos os Cristãos que rezem o Rosário devotamente. Porque esta devoção me é muito aceite e rezando com pureza de coração, se alcançarão mediante ela o que se pedir ao Senhor. Portanto, aparelha-te para cumprir o que te mando e com muita diligência prega os meus louvores e amoestra aos frades da tua ordem que, com muito fervor, também façam o mesmo. E eu confirmarei a vossa pregação, com grandíssimos sinais e milagres". Acabando de dizer estas palavras, saudando-o com um rostio alegre e deitando-lhe a bênção, desapareceu ficando ele cheio de muita alegria espiritual. Este religioso padre dando muitas graças a nosso Senhor e à Virgem santíssima por o escolher para lhe fazer este serviço, começou logo com grandíssimo fervor a pregar a devoção do santo Rosário persuadindo também aos outros frades que fizessem o mesmo. E era tão grande a afeição que este religioso padre tinha ao Rosário que sempre trazia nas mãos as contas por onde rezava. E quando estava em companhia dos outros frades, exortava-os a esta devoção dizendo-lhes que fossem muito devotos do Rosário da Virgem gloriosa, padroeira da ordem e advogada dos pecadores. E mostrando as contas que tinha na mão dizia que aqueles cinco finais do Pater noster, e das avé Marias, eram cinco que se defenderiam de seus inimigos. E as contas eram uma funda de David, com a qual tirariam fortíssimas pedras ao Demónio. E também uma Arpa na qual tangendo e cantando esta suave música do Rosário amanlaria o império do espírito mau que atormentava a Saúl. E, movida com esta música, a Virgem gloriosa lançaria da torre do Céu a pedra de sua ajuda e socorro, como que lhe quebrasse a cabeça. E pela grande eficácia das pregações deste religioso padre, e dos outros frades da ordem, que com grandíssimo terror pregavam esta devoção, as quais nosso Senhor confirmava com grandíssimos milagres; em pouco tempo grande número de gente começou a rezar o Rosário da Virgem gloriosa, amoestrado a todos este religioso padre que por nenhuma maneira se esquecessem nunca desta devoção. E depois de este padre ter continuado estas pregações com grandíssimo fervor por cerca de quinze anos, morreu cheio de virtudes e boas obras no ano de mil e quatrocentos e setenta e cinco, dia de Nascimento de nossa Senhora, e no convento da congregarão de Holanda, no mesmo dia em que no mosteiro de S. Domingos da Cidade de Colónia [casa mãe da Ordem] se renovou a Confraria do Rosário. E a causa da renovação foi a seguinte:" (Livro do Rosaryo de Nossa Senhora. Fr. Nicolau Dias. LISBOA, 1576)

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