13/09/12

TRATADO DO GOVERNO DOS PRÍNCIPES (I)



Caros leitores, é infindável a quantidade de assuntos a tratar, é incalculável a grande quantidade de recursos dispersos e abafados que deveríamos juntar, estudar e difundir. Eu apenas sou um... e há tanto que fazer que apenas o pensar nisso afoga.

Vejo que há necessidade de tratar o assunto da monarquia católica, ou seja, o assunto da monarquia propriamente dita e livre de toda a mescla e deficiência. Por isso, vou tentar traduzir e publicar aqui algumas páginas do Tratado Del Govierno de Los Principes, Del Angelico Doctor Santo Tomas de Aquino - Traducido en Nuestra Lengua Castellana por don Alonso Ordoñez dos das Seyjas e Tobar, Señor de Sampayo, etc. - MADRID, M.DC.XXV. Este é um desafio maior porque me coloca às costas a responsabilidade de traduzir o castellano do séc. XVII.

Que seja o que Deus quiser.


[Saltadas páginas introdutórias]

PROÉMIO DO SANTO REI DO CHIPRE

Pensando eu, que coisa poderia oferecer à Alteza Real, que fosse digna dela, e conveniente à minha profissão e ofício, principalmente, segundo as forças do meu engenho, a origem do reinar, e as coisas que pertencem ao ofício de Rei, conforme à autoridade da divina Escritura, preceitos filosóficos, e exemplos de louváveis Principes, esperando o princípio, progresso, e fim da obra, do auxílio daquele, que é Rei dos Reis, e senhor dos senhores, porquem os Reis reinam, Deus grande, Senhor, e Deus grande sobre todos os deuses.

TRATADO DO GOVERNO DOS PRÍNCIPES,
DO ANGÉLICO DOUTOR Sto. TOMÁS de AQUINO


LIVRO PRIMEIRO


Cap. I
O quão necessário que os homens que vivem juntos sejam governados por algum.

O princípio da nossa intenção é que seja entendido o significado do nome "Rei".

Em todas as coisas que enderecemos a algum fim, e em que se costume obrar de diferentes modos, é necessário algo que guie àquilo que se pretende, porque a nave, que segundo o impulso de diferentes ventos costuma ser levada a diversas partes, não chegaria ao porto desejado, se trabalho do piloto não encaminhasse a ele por meio dos perigos do mar.

Os homens têm fim a que toda a sua vida e sucessões se encaminham, porque são agentes por entendimento a quem é próprio manifestamente obrar com alguma intenção. E acontece que diversamente caminham ao fim proposto, como o mostra a diferença mesma dos estudos humanos, e acções, e assim têm necessidade de quem os guie. Esta, neles, naturalmente insista ao lume da razão, com que nas suas obras se endereçam ao fim que procuram, e se pudessem viver sozinhos, como muitos animais, não necessitariam de nenhuma outra guia, senão que cada um fosse Rei de si mesmo debaixo de Deus sumo Rei, enquanto pelo lume da razão que da sua divina mão lhes foi dada, guiar-se-ão a si mesmos em suas acções.

Mas é próprio ao homem o ser animal social e político, que vive entre a multidão mais que todos os outros animais: isto declara as necessidades que naturalmente tem. Porque a eles [os outros animais] a natureza lhes preparou o mantimento, a cobertura das suas peles, a defesa dos dentes, chifres e unhas, a velocidade para fugir, e ao homem só lhe deu a razão, para que (mediante ela) com o trabalho das suas mãos pudesse buscar tudo. Assim um homem só não basta, porque por si mesmo não pode passar a vida suficientemente, e assim lhe é natural o viver na companhia de muitos.

Alem disto os outros animais têm natural desempenho para todas as coisas que lhes são úteis, ou nocivas, como a ovelha conhece o lobo naturalmente como inimigo. E outros animais pela mesma natureza conhecem algumas ervas medicinais, e outras coisas necessárias à sua vida: mas o homem, das que são para ele viver, só tem conhecimento em comum, como quem pela razão pode dos princípios universais vir em conhecimento das coisas que são necessárias para a vida humana. Não é pois possível que um homem só alcance pela sua razão todas as coisas desta maneira: e assim é necessário o viver entre outros mais, para que uns aos outros se ajudem e se ocupem, uns em inventar umas coisas, e outros noutras.

Isto também se prova evidentissimamente, por ser próprio aos homens o falar, com o qual podem explicar os seus conceitos totalmente, e outros animais declaram as suas paixões só em comum, como o cão no ladrar, a ira, e outros por diversos medos. Assim, um homem é mais comunicativo para outro, que o os animais que andam e vivem juntos, como os grous, as formigas, e as abelhas, e considerando a Salomão, diz o Eclesiastes: Melhor é estar dos que (?), porque gozam do socorro da correspondente companhia.

Pois sendo natural ao homem o viver em companhia de muitos, necessário é que haja entre eles quem reja esta multidão; porque donde houvesse muitos, que cada um procurasse para si só o que lhe estivesse bem, a multidão se desuniria em diferentes partes, senão houvesse algum que tratasse daquilo que pertence ao bem comum, assim como o corpo do homem, e de qualquer animal viria a desfazer-se se não houvesse nele alguma virtude regitiva, que acudisse ao bem comum de todos os membros: e assim disse Salomão: Onde não há Governador, o povo se dispersa.

(terá continuação, se Deus quiser)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES