08/06/12

O MOVIMENTO LITÚRGICO - LIVRO (II)


O MOVIMENTO LITÚRGICO
Pe. Didier Bonneterre

(Continuação)

PRÓLOGO

Pela insistência de bastantes amigos acabou por fazer confiar às edições FIDELITER a publicação de um livro, dos sete artigos publicados na revista "Fideliter" desde maio de 1978 a maio de 1979.

Revisámos e completámos um pouco esses artigos, que constituem os primeiros capítulos deste livro. Foi adicionado um epílogo sobre a influência dos meios protestantes na reforma litúrgica, que contem um documento quase desconhecido e ainda não explorado: o rito da Eucaristia de Taizé em 1959. Os retratos fotográficos das principais personagens colocados em cena no nosso estudo não somente tem como objectivo adornar esta obra, senão que também querem ajudar o leitor a compreender melhor essas pessoas, porque cremos, tal como Barbey d'Aurévilly, que "o rosto é a alma ao avesso".*

O nosso estudo não é exaustivo, não tem outra pretensão que ser esboço de uma investigação sobre as causas da "autodemolição" da igreja", reconhecida pelo Papa Paulo VI.

Provavelmente alguns acharão este diagnóstico severo, sobretudo aos que, na sua juventude sacerdotal, cooperaram com o "Movimento Litúrgico". Hoje em dia, quase todos se dão conta de que abusaram da sua generosidade. Se alguns não concordam com as nossas conclusões, que no-lo digam, e nos mostrem supostos erros.

Quisemos ainda colocar os leitores em alerta contra uma certa moda intelectual que se tem propagado como peste nos nossos meios e reputados como "tradicionalistas": o espírito de emulação na mais extrema das opiniões que procuram, a qualquer preço, a posição mais "dura", como se a verdade de uma qualquer proposição pudesse estas dependente de um juízo voluntarista de anti qualquer-coisa.

Que o leitor recuse também o espírito de simplificação que faz pouco de todas as distinções necessárias para o razoável e o justo.

Para indicar finalmente a orientação dos nossos trabalhos, partilhamos totalmente a mensagem que o Pe. Dulac dirige a quem quer escutá-lo, ao final da sua obra notável "A Colegialidade Episcopal no Concílio Vaticano II".(1):
"Transmito as últimas linhas desta obra - escreve o Pe. Dulac - aos meus condiscípulos, aos nossos amigos, próximos e menos próximos. Eles sofrem, nós sofremos as humilhações padecidas pela nossa mãe Igreja, no decurso deste Concílio desnaturado, e depois. Mas sofremos dentro da Igreja! Não pensamos que nos corresponderia a nós, e à distância, o curá-la das suas feridas. Recordamos a recomendação verdadeiramente católica dada por Dionísio de Alexandria ao cismático Novaciano: "Se, tal como pretendes, é contra a tua vontade [ estar separado da Igreja] prova-nos isso voltando a Ela por tua vontade".
E outra recomendação, a do nosso Yves de Chartres, de quem nos atrevemos a adaptar o seu sentido do nosso objecto: "Sucede que alguns se queixam de ter sido abusivamente incomodados pela autoridade da própria Igreja, então que seja Ela a si que vá buscar refúgio; peçam o alívio ali mesmo onde experimentaram os sofrimentos: inde levamen... unde gravemen".
Queremos, caros amigos, violentamente, conservar a fé de sempre? Que seja também a fé sudável. Cremos, mas sicut oportet ("como é devido").(2) Esta fé não é uma simples exactidão. Ela certamente não é nada, se não for conforme, quanto ao objecto e aos motivos, à Revelação do Verbo de Deus feito homem. Mas não é nada, mesmo assim, se não for professada na Igreja, in medio Ecclesiae: nesse meio biológico no qual fomos submergidos no dia do nosso baptismo, a fé vitalizando a água santificando a fé, convertida em pura luz que une a alma do fiel à luz de glória do Senhor, vivo na sua Igreja.
A Igreja de África conheceu, em tempos de Sto. Agostinho, uma "crise" semelhada à nossa. Recordemos as palavras que o Bispo de Hipona dirigiu, um dia, a um dos chefes da seita donatista, Emérito, presente na assistência. "Fora da igreja, Emérito, pode passar-se tudo, menos a salvação. Pode ter a dignidade [do episcopado], pode ter o Sacramento, pode cantar o Aleluia, pode responder Amen, possuir o Evengelho, ter e pregar a Fé; mas, se não for na Igreja, em parte alguma poderá  encontrar a salvação".
A Igreja primeiro!
É ela, unicamente Ela, a Católica, visível no seu chefe visível, o Bispo de Roma, incluso em dia desfalecente, unicamente Ela que saberá separar o trigo puro da palha de todos os aggiornamenti".
É para ajudar ao discernimento do trigo e da palha que escrevemos este livro, in caritate non ficta.

(continuação, aqui)
(ler o anterior, aqui)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES