Eis o muito lido artigo: "10 de JUNHO - SANTO ANJO CUSTÓDIO DE PORTUGAL". Convêm ainda a consulta ao artigo "LUÍS VAZ DE CAMÕES - TAMBÉM no 10 de JUNHO".
O que se segue é um complemento algo alargado.
O nome da Ilha de S. Miguel (Portugal) e a sua descoberta devem-se à aparição do Arcanjo S. Miguel. É curiosa a relação de "Santa Maria" (nome religioso de Portugal) e "S. Miguel" (Arcanjo, custódio de Portugal), e que da primeira ilha se passou apenas depois à segunda:
"Mas deixando estas fábulas, a verdade é, que vindo desta segunda vez o ditoso Frei Gonçalo Velho Cabral, e pondo a popa no Norte da Ilha de Santa Maria, foi dar directamente na ilha que buscava a 8 de Maio de 1444 dia da Aparição de S. Miguel o Anjo: e assim o descobridor lhe chamou logo Ilha de S. Miguel, governando então já em Portugal o Infante D. Pedro, filho de el-Rei D. João I, e irmão de el-Rei D. Duarte, que também já era falecido, e tinha deixado de só seis anos a D. Afonso V, a quem o dito D. Pedro seu tio entregou o governo do Reino em 1448, e aqui chegaram então a estas duas ilhas, de Santa Maria, e S. Miguel, Ilhas dos Açores, ou por se verem alguns nelas que de fora vinham, ou por nelas haver muitos milhafres, que no pilhar se parecem com os Açores, e ultimamente Ilhas Terceiras, como em seu lugar veremos. (pág. 172). [...] " Foi esta segunda vinda dos descobridores, e povoadores Portugueses da Ilha de S. Miguel no ano de 1445 do Nascimento de Cristo, a 29 de Setembro, dia da Dedicação de S. Miguel o Anjo, tendo já sido a primeira vinda, a aparição do mesmo S. Miguel a 8 de Maio do ano antecedente de 1444, que parece que quis Deus denotar, que até então andavam diabos naquela Ilha, veio o Anjo S. Miguel lançá-los dela, como no princípio do mundo lançou do Céu aos diabos; e que se de todo o género humano um Divino Guarda-mor, um S. Miguel o Anjo, quis ser desta Ilha seu especial Anjo da Guarda; vejam agora lá os moradores dela, quanto devem como Anjos proceder, ou seguir a S. Miguel, lançando fora de si o pior do pecado, e quanto devem celebrar um seu tão grande Anjo. (pág. 175) - (História Insular das ilhas a Portugal Sugeitas no Oceano Occidental (Volume I) - Pe. António Cordeiro, 1866)
O Agiológio Lusitano regista esta festa em Julho:
"O Anjo Custódio do Reino de Portugal se festeja em todo ela na terceira Dominga do mês de Julho, com solene Procissão, em todas as Cidades, e Vilas, que são cabeças de Comarcas, a que o Senado das suas Câmaras com o Cabido, são obrigados a assistir. Foi estabelecida esta Festa pela devota piedade do invicto Rei D. Manuel, para a qual alcançou Breve da Sé Apostólica, e se celebra com Ofício de Rito Duplex maius, em todo o Reino, e nas Ordens do seu governo incorporou a obrigação desta solenidade por Lei a seus vassalos." (pág. 213). "D. Manuel, em quem a piedade da Religião Católica, tinha tanto lugar, que não sei, quando leio a sua Vida, se foi a maior de todas as suas virtudes. Para fazer perpétua esta Festa, alcançou da Sé Apostólica um Breve, para a celebrar na terceira Dominga do mês de Julho ao Anjo Custódio do Reino, que com ofício particular se reza no Arcebispado de Lisboa. Ordenou também, que com Procissão solene seja esta Festa celebrada, o que mandou incorporar por Lei na Ordenação do Reino, liv. I tit. 66§ 48. O Senado da Cidade de Lisboa, em obséquio desta Lei, faz Procissão, acompanhada do Cabido, e de todas as Comunidades, Clero, e das Bandeiras dos Ofícios, e se juntam, como no dia de Corpo de Deus, e correm as ruas, naquele dias; porque assim o determinou ElRei D. manuel, querendo, que fosse este dia tão solene, como o do Corpo de Deus. Desta piedosa acção se lembra Gois na Chronica do dito Rey, part. 4 cap. 86; e Mariz Dial 4 cap. 19; Faria na Europa Port. tomo 2 part. 4 cap. I num. 104; o Padre António Vasconcelos no Tratado do Anjo da Guarda, liv. I cap. I part I pag. 2; e Pagas no Tit. 5 ad Ord, lib. I tit. 66 n 48. Na Vila de Guimarães, se leva em Procissão um Anjo grande de prata dourada, que foi tomado na célebre batalha de Aljubarrota, que o invicto Rei D. João I deu à Igreja Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, a quem deveu esta insigne vitória." (pág.217) - (Agiologio Lusitano, Dos Santos, e Varões Illustres em Virtude Do Reino de Portugal, e Suas Conquistas; Consagrado à Imaculada Conceição da Virgem Maria Senhora Nossa (Tomo IV) - D. António Caetano de Sousa, 1744).
Pelo valor doutrinal, e também pelo dever que temos em amar a Pátria verdadeira onde Deus escolheu nascermos, é uma bela oportunidade para transcrever-vos todo o sermão do Pe. XXXX, na terceira Dominga de Junho, na Sé de Lisboa (1677):
"O Anjo Custódio do Reino de Portugal se festeja em todo ela na terceira Dominga do mês de Julho, com solene Procissão, em todas as Cidades, e Vilas, que são cabeças de Comarcas, a que o Senado das suas Câmaras com o Cabido, são obrigados a assistir. Foi estabelecida esta Festa pela devota piedade do invicto Rei D. Manuel, para a qual alcançou Breve da Sé Apostólica, e se celebra com Ofício de Rito Duplex maius, em todo o Reino, e nas Ordens do seu governo incorporou a obrigação desta solenidade por Lei a seus vassalos." (pág. 213). "D. Manuel, em quem a piedade da Religião Católica, tinha tanto lugar, que não sei, quando leio a sua Vida, se foi a maior de todas as suas virtudes. Para fazer perpétua esta Festa, alcançou da Sé Apostólica um Breve, para a celebrar na terceira Dominga do mês de Julho ao Anjo Custódio do Reino, que com ofício particular se reza no Arcebispado de Lisboa. Ordenou também, que com Procissão solene seja esta Festa celebrada, o que mandou incorporar por Lei na Ordenação do Reino, liv. I tit. 66§ 48. O Senado da Cidade de Lisboa, em obséquio desta Lei, faz Procissão, acompanhada do Cabido, e de todas as Comunidades, Clero, e das Bandeiras dos Ofícios, e se juntam, como no dia de Corpo de Deus, e correm as ruas, naquele dias; porque assim o determinou ElRei D. manuel, querendo, que fosse este dia tão solene, como o do Corpo de Deus. Desta piedosa acção se lembra Gois na Chronica do dito Rey, part. 4 cap. 86; e Mariz Dial 4 cap. 19; Faria na Europa Port. tomo 2 part. 4 cap. I num. 104; o Padre António Vasconcelos no Tratado do Anjo da Guarda, liv. I cap. I part I pag. 2; e Pagas no Tit. 5 ad Ord, lib. I tit. 66 n 48. Na Vila de Guimarães, se leva em Procissão um Anjo grande de prata dourada, que foi tomado na célebre batalha de Aljubarrota, que o invicto Rei D. João I deu à Igreja Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, a quem deveu esta insigne vitória." (pág.217) - (Agiologio Lusitano, Dos Santos, e Varões Illustres em Virtude Do Reino de Portugal, e Suas Conquistas; Consagrado à Imaculada Conceição da Virgem Maria Senhora Nossa (Tomo IV) - D. António Caetano de Sousa, 1744).
Pelo valor doutrinal, e também pelo dever que temos em amar a Pátria verdadeira onde Deus escolheu nascermos, é uma bela oportunidade para transcrever-vos todo o sermão do Pe. XXXX, na terceira Dominga de Junho, na Sé de Lisboa (1677):
"Angelus Domini apparuit in somnis Joseph, dixens: Surg. Matth. 2.
1. Tendo em nós as memórias dos benefícios recebidos uma devida correspondência, ou significação do nosso agradecimento: Qui meminit sine impendio gratus: assaz devidas são as memórias que hoje consagramos ao Anjo Custódio deste Reino de Portugal; pois são tão singulares os benefícios, que sua protecção, e assistência temos recebido, e recebemos. Para que em nós fosse perpétuo o agradecimento do benefício que recebemos no Sacramento do Altar, ordenou Cristo Senhor nosso que houvesse em nós uma perpétua memória de tão singular benefício: Hac quotiesumque feceritis, in mei memoriam facietis. E porque mais deste que de outros muitos benefícios, que de sua liberal mão recebemos, há-de haver tão contínua e agraciada memória? A razão acho eu, que é porque no Sacramento do Altar assiste-nos Cristo, e nos há-de assistir até ao fim do mundo em tantas custódias, quantas são aquelas em que se acha pelos Sacrários dos Templos, fazendo-nos perpétuamente corpo de guarda com a presença de seu Corpo sacramentado: Ecce ego vobiscum sum usque ad consumationem saeculi. E uma custódia, e assistência tão contínua a de Cristo no Sacramento, bem mereceu uma perpétua memória em sinal do nosso agradecimento: In mei memoriam facietis. A assistência, que o Anjo da Guarda deste Reino faz a Portugal, não é um de ano; é e há-de ser perpétua até ao fim do mundo: Usque ad consummationem saeculi. E ao benefício de uma assistência tão contínua, de uma custódia tão prolongada, justo agradecimento corresponda à perpetuidade da memória, que neste dia lhe consagramos, instituído já desde o tempo de El-Rey D. Manuel, e confirmada por especial breve da Sé Apostólica.
2. Mas que tem de combinação a memória, que hoje consagramos ao Anjo Custódio deste Reino, com matéria do Evangelho, que a Igreja nos oferece nesta solenidade? Eu o direi, depois de fazer uma pergunta sobre o mesmo Evangelho. Escreve S. Mateus, que na ocasião, em que Herodes tratava de opor-se ao Reino de Cristo aparecido de poucos dias no mundo, aparecera em sonhos a S. josé o Anjo do Senhor: Angelus Domini apparuit in somnis Joseph. Pergunto agora: Este Anjo do Senhor era por ventura Anjo da Guarda do Menino Deus? Claro está, que não: pois é certo, que Cristo não tinha, nem necessitava de ter Anjo Custódio, por quanto alem da Divindade ter à sua conta resguardar a humanidade unida em um suposto; Cristo ainda em quanto homem, não era puramente vidente, como nós somos; era singularmente compreensor, como o são os bem-aventurados. Logo de quem era guarda este Anjo? Sem dúvida que era Guarda mor do Reino de Cristo. Ao Reino de Cristo se opunha Herodes; pois ao Reino de Cristo vem resguardar este Anjo; que se todos os Reinos têm Anjo Custódio, não havia de faltar seu Anjo Custódio. O Reino de Cristo na terra somos nós os fiéis; que isso foi dizer S. João no seu Apocalipse: Fecisti nos Deus nostro regnum. E como nesta ocasião as principais pessoas deste Reino espiritual eram os que se contêm no nosso Evangelho, trata o Anjo de as resguardar da tirania de Herodes na fórma, que encomenda a S. José: Surge, et accipe puerum, et matrem ejus, et fuge in AEgyptum, E bem sabem, os que me ouvem, que o Reino de Portugal se chama com especialidade Reino de Cristo: não só por que nele tem os mais fidelíssimos vassalos, que militam debaixo da bandeira e estandarte da sua Fé; se não porque o mesmo Senhor o escolheu já desde os seus princípios para Reino, e império seu, conforme a palavra que deu ao seu primeiro Rei [D. Afonso Henriques]: Volo inte, et in semine tuo imperium mihi stabilire. Pois para que se entenda o desvelo, com que o Anjo Custódio deste Reino de Portugal se empenha em o resguardar; saiba-se o desvelo com que o Anjo do Senhor, de quem fala o Evangelho, se empenha em defender ao Reino de Cristo espiritual. Pelo desvelo de um Anjo quer a Igreja que se conheça hoje o desvelo de outro, quando assim um, como outro, ambos são Custódios do mesmo Reino de Cristo, um do seu Reino espiritual, outro do seu Reino de Portugal. E suposta esta consideração, segue-se, que saibamos, de que meio se vale hoje o Anjo do Evangelho, para resguardar de todo o perigo ao Reino espiritual de Cristo; que deste mesmo quero eu mostrar que se vale o Anjo de Portugal para seu resguardo, e conservação. O meio consiste numa palavra, e é a última do nosso tema: Surge, de que eu faço escolha para matéria do Sermão; e não poderá haver queixa de ser comprido, não passando o discurso de mais, que a ponderação de uma só palavra.
3. Surge, diz o Anjo do Evangelho a S. José; e considero eu que diz também o Anjo Custódio deste Reino a Portugal: Despertai, acordai do sono em que vos achais. Vigilância encomenda o Anjo, e com razão; pois não há melhor meio para o resguardo e conservação dos Reinos e estados do mundo que o desvelo. Se há sono, se há descuido, por mais florentes que se achem as Monarquias, correm grande perigo de se perder. O primeiro, e mais florente estado que no mundo houve, foi o estado da inocência, no Paraíso terrenal. E quando durou este estado? Não chegou a sua duração a número de anos, nem sequer de dias na melhor opinião: que não são de muita dura na terra as felicidades do Céu, de que participava aquele estado; em breves horas acabou, e se perdeu para sempre, vindo Deus em pessoa a lançar fóra do Paraíso aos que o dominavam: Emisit eos Dominus de Paradiso (Genes. 3.13). E não saberemos a origem de tal desgraça? Já se sabe, que contra o estado da inocência só podia prevalecer a culpa. Mas esta culpa donde teve sua origem? De uma Eva. E esta Eva donde teve seu princípio? De um sono, de um descuido. Pôs-se a dormir Adão no mesmo ponto em que tomou posse daquele estado: o sono não há dúvida, que foi misterioso, pois foi infundido por Deus: Immist Dominus soporem in Adam (Gen. 2.21): com tudo é certo, que naquele sono se tirou a Adão do lado uma costela; daquela costa se formou uma Eva; e daquela Eva se originou a perdição de tão solene estado. E eis aí o estado da inocência perdido: porquê? Por uma Eva originada de um sono.
4. Passemos do estado da inocência aos estados e impérios do mundo representados em sonhos a Nabuco naquela sua grande e portentosa estátua; e acharemos, que quando mais se prometiam na dureza dos metais, de que se compunham; eterna duração contra a violência dos tempos, e contínuos assaltos dos anos; ao golpe de uma pequena pedra que descida do monte e lhe fez tiro aos pés, se arruinaram, e converteram em cinzas todas estas Monarquias desde os pés até à cabeça; sem lhe valer nem a cabeça ser de ouro, nem aos braços, e peito o ser de prata, nem ao bojo o ser de bronze, nem às mais partes o ser de ferro: Lapis abscissus de monte percussit statum in pedibus: tunc contrita sunt pariter ferrum, testa, es, argentum, et aurum (Dan. 2. 34.35). Agora noto eu, que esta fatal ruína, e assolação de tão florescentes Estados e Monarquias não a representou Deus a Nabuco estando acordado, senão estando dormindo, e sonhando: Vidi sonium (Dan V. 1). E porque lha não representou estando acordado? Estando acordado, tinha os olhos abertos, estando dormindo tinha os olhos fechados. Logo, quando tinha os olhos abertos na vigia, e não quando tinha os olhos fechados no sono, parece que dizia melhor o representar-lhe Deus a ruína destes Impérios. Não; que a ruína dos Impérios não diz com os olhos abertos, não diz com o acordo da vigilância, que se há vigilância, se há acordado, não pode haver ruína: diz com os olhos fechados, diz com o desacordo do sono; que se há sono, se há descuido, num abrir e fechar de olhos se arruínam os mais florescentes Impérios e Estados, as mais dilatadas Monarquias, por mais rios de prata e ouro em que nadem; por mais peitos de aço, ou de bronze, com que se armem; por mais arma de ferro, com que se fortifiquem: Vidi somnium: Contrita sunt pariter terrum, tosta, [ser?], argentum, e aurum. Daqui tiro eu, que para que o Reino de Deus floresça, e permaneça; para que o Reino de Portugal se conserve, e perpetue na duração sem perigo de ruínas, quer o Anjo do Evangelho falando com José, e quer o Anjo Custódio deste Reino falando com cada um de nós, que não haja sono, que não haja descuido algum, mas vigilância, e desvelo: Surge.
5. Dir-me-hão que sendo Reino de Deus, o que o Anjo do Evangelho vem a defender, sendo Reino especialmente de Cristo o Reino de Portugal, parece que seguramente o pode o Anjo Custódio deixar dormir e descansar; pois está sabido, que um tal Reino como o de Cristo não há de perigar, não há jamais de arruinar-se ou acabar, quando o mesmo Anjo nos está dizendo, que não há de ter fim: Regni ejus non erit finis (Luc. I. 33). Contudo, nem por isso se há-de dar à confiança, nem por isso se há de deitar a dormir, acode o Anjo; antes por isso mesmo, porque é Reino seu, que há de vigiar, e estar de acordo com mil olhos sobre si: Surge. Haverá alguém, pergunta Job, que possa fazer com o Céu, que durma, e descanse, se quer por um pouco, dando um breve parêntesis de sono ao suave descante de harmonia, com que regularmente se governa? Concentrum caeli queis dormire faciet? (Job 38. 37). Isso não fará possível, diz o Ecclesiástico; porque as Estrelas, que são seus olhos, já mais cessam de estar de vigia em perpétua sentinela: Stella in vigiliis Suis non descient (Eccles. 43.11). Se o Céu é Reino, que chamamos especificamente de Deus: Adveniat regnum tuum: se é centro de todo o alívio, lugar de todo o descanso, e remanço de todas as fadigas; porque não há o Céu há-de estar com tantos olhos abertos sobre si, quantas são as suas Estrelas? ainda quando a noite convida a todos a fechar os olhos, não há de pregar olhos o Céu? Não: Stelle in vigiliis suis non descient: por isso mesmo, porque é Reino de Deus, que há-de durar para sempre: Caeli regnum in aeternum non dissipabitur (Dan. 1.44). E Reino , que há-de durar para sempre, nunca há- de pôr os olhos, sempre de vigiar, sem haver quem o possa fazer dormir, ou descuidar de si: Concentum caeli quis dormire faciet? Sim; mas o Céu não necessita destas vigias, para se segurar; que pela segurança, que tem, costumamos nós dizer, que seguro está o Céu de ladrões; Seguro está, é verdade; mas por isso mesmo está seguro, porque não dorme; porque não cessam seus olhos de vigiar: Stellae in vigiliis suis non deficient. E como se poderá dar por seguro o Reino de Portugal, ainda que seja Reino especialmente de Cristo, se nele faltar aquele desvelo, que o Anjo Custódio quer, que haja: Surge? Sem dúvida que por falta desta vigilância temos visto nestes nossos tempos tão repetidas ousadias de ladrões por mar com estás descrédito do nome Português, e dizem que também por terra. Mas já agora pela merecê de Deus a poder dos brados do seu Anjo Custódio parece que vai Portugal despertando da modorra do seu descuido; pois o vemos tão desvelado por sair da terra ao mar. Ora desperta Reino de Deus, abre os olhos, que ele é o meio de tua conservação, que hoje se recomenda a brados o teu Anjo Custódio: Surge.
6. O que eu acho ser muito digno de advertência é, que julgando o Anjo do Senhor no Evangelho ser necessária para a conservação do Reino de Cristo a vigilância; o Anjo não desperta ao Menino Deus, que é o Príncipe deste Reino; senão a José, que é o vassalo: Apparuit in somnis Joseph, dicens: Surge. Ao Príncipe cuidava eu, que havia de despertar; que do sono, e descuido dos Príncipes, das modorras, e letargo dos Monarcas é que se originam as maiores inquietações e predições das Republicas [entenda-se "republica" como a ordem do que é público e comum]. No meio daquela tormenta, em que dormindo Cristo, se davam seus Discípulos por perdidos na sua Naveta, foi advertir o Evangelistas S. Mateus, que todos acudiam a despertar ao Senhor: Suscitaverunt eum, dicentes: Domine, salva nos, perimus (Mat. 8.25). Senhor, se vós não acordais, e não nos acudis, a braveza da tormenta é tal, a fúria das ondas tenta, o impacto dos ventos tão contrário, que não podemos deixar de nos afundar: Perimus. Eu cuidava, que como os Discípulos eram tão peritos, e exercitados naquela navegação por razão das suas pescas, que fizeram, o que costumam fazer os navegantes em ocasião de tempestades; que acudissem uns a tomar as velas, outros a pegar os remos, outros a governar o leme, outros finalmente a alijar ao mar, e aliviar a embarcação, que isso pedia o aperto em que se achavam. Mas acudiam todos a despertar o Senhor: Suscitaverunt eum, e pedir-lhe, que os salvasse: Salva nos; sem porém da sua parte algum culto de trabalho para se salvar? Assim é que todos queremos a salvação e a pedimos a Deus: Domine, salva nos; mas sem culto nosso, esperando que Deus ponha todo o culto, para nos salvar. Bem é o valer de Deus nos apertos; mas também é necessário, que nos valhamos das nossas mãos; que a mão de Deus, e a do homem, é que fazem boa liga para conseguirem a salvação; que isso dizia Deus a Moisés: Extende manum tuam, extendam manum meam (Exod. 34.20). Estendei a vossa mão, que eu também estenderei a minha: mas sabei que a minha sem a vossa não vos há-de valer para vos salvar. Contudo os Apóstolos nesta ocasião da tormenta, de que falamos, persuadiram se, e com razão, que assim como a braveza do mar tomou confiança para os inquietar, por ver ao seu Príncipe adormecido: Motus magnusfactus est in mari, ipse vero dormiebat; assim despertando o Príncipe, num abrir de olhos, se veria logo evitado o perigo, e serenada a tempestade, como na verdade aconteceu: Surgens imperavit mari, et facta est tranquillitas magna. Notem o Surgens. Despertando o Príncipe, todos ficaram salvos; em quanto dormia, todos se davam por perdidos: Perimus.
7. Sendo pois isto assim: porque não desperta hoje o Anjo Custódio a Cristo, que é príncipe, senão a José ainda que era vassalo, era muito do lado deste Divino Príncipe; e os Príncipes pelos lados é, que se costumam despertar. Temos exemplo muito semelhante com o documento de outro Anjo. Prezo, e carregado de algumas se achava S. Pedro no cárcere de Herodes, sem que a molestia dos grilhões lhe tirasse o repouso, em que pastava dormindo descansadamente entre dois soldados, que o tinham de guarda: Erat Petrus dormiens inter duos milites (Act. 11.6). Que aos servos de Deus os trabalhos, e perseguições não lhes tiram o sono. E diz o Texto sagrado, que vindo um Anjo do Céu a despertá-lo, o despertara pelo lado: Percusso latere Petri, exeitavit illum: dando-lhe um golpe no lado o fez acordar. E porque mais pelo lado, que por outro qualquer parte do seu corpo o desperta o Anjo? Tudo na Escritura sagrada tem seu mistério; e o deste lugar está claro: Era Pedro príncipe da igreja: Princeps Apostolorum: e os Príncipes pelos lados é, que se devem despertar, como despertou Pedro, dando-lhe um golpe no seu lado: Percusso latere Petri, excitavit illam. Se os golpes, que se dão nos lados são meio, que os Anjos Custódios tomam para despertar os Príncipes, e por meio dos Príncipes os Reinos. Muito desvelado quer o Anjo Custódio a Portugal, pois temos visto nestes nossos tempos tantos golpes mortaças pelos lados do maior valimento. Sendo logo José tanto do lado do Divino Príncipe, parece podermos dizer, que por este seu lado o quis hoje o Anjo despertar: nem foi necessário dar golpe no lado, bastou o brado de uma vez: Surge; que não devia o sono de José ser tão profundo, como o de Pedro, que necessitasse de golpes, para despertar. Eu porem dissera, que a José, que era o vassalo, e não ao Menino Deus, que era o Principe, desperta hoje o Anjo do nosso Evangelho, porque de tão Divino Príncipe não se pode supor, que dorme, ou se descuida no tocante ao nosso bem; pois sabemos, que David o descreve tão desvelado por nossa Custódia, que só mais se viu, nem verá dormindo em fórma que se descuide de nos falar, e resguardar: Non dormitabit, neque dormiet, qui custodit Israel (Psalm, 120.4). O que importa é, que não durmamos nós os vassalos, que nos não descuidemos no serviço de tão Divino Príncipe, e no resguardo de nossas almas, que são Reino de Deus, que temos dentro de nós mesmos: Regnum Dei intra vos est (Luc. 17.21); por cujo respeito nos está o Anjo despertando a brados: Surge. Praza a Deus, que ao som destes brados acabamos nós todos de despertar da modorra de nossas culpas, do descuido de nossa salvação; que isso é, o que o Anjo Custódio pretende com as vozes tão repetidas, que a cada um de nós está dando ao coração: Surge.
8. Tenho porem contra o Anjo Custódio deste Reino um grande queixume, e não o posso dissimular. Se o Anjo Custódio deste Reino tem a sua conta o desvelar-se por nos defender, e resguardar; para que é despertar-nos com os seus brados: Surge? Não basta que o Anjo vigie, não basta que o Anjo se desvele? Vele o Anjo, que esta é a sua obrigação; e deixe-mo-nos a nós dormir, deixe-nos descançar. Não sabemos o que dizemos; porque a vigilância do anjo sem a nossa, não basta para nos salvar; é necessário, que velemos nós também por nossa salvação. Eu tenho feito um notável reparo, e é, que nas mais das ocasiões, em que na Escritura Sagrada se faz menção dos Anjos se desvelarem pela Salvação, e resguardo dos homens, se faz sustamente menção do muito, que se empenharam em fazer, que os homens se desvelassem, e despertassem do sono, e modorra do seu descuido. ide comigo, e deixai-me fazer esta breve indução. Desvela-se o Anjo, de que há pouco falámos, por libertar a Pedro do cárcere, e prisões de Herodes; mas quer, que Pedro também se desvele por sua liberdade despertando-o do sono, em que se acha: Surge velociter, et sequere me (Act. 12.7.8). Desvelam-se os Anjos, que foram castigar a Sodoma, por salvar de seus incêndios a Lot também desperte, e se desvele por sua salvação: Surge: in monte salvum te fac (Gen. 19.15.18). Desvela-se o Anjo do Senhor por remediar, e socorrer a Agar no desamparo do deserto, em que se achava com seu filho a perigo de morte; mas quer que Agar também desperte, e se desvele por seu remédio: Surge: tolle puerum (Gen. 21.18). Desvela-se o Anjo custódio de Jacob pelo resguardar de todos os encontros, e perigos, que se lhe oferecerão em Mesopotâmia; mas quer, que Jacob também desperte, e se desvele por seu resguardo saindo-se da terra, em que se acha: Surge, et agredere de terra hac (Gen 31,13). Desvela-se o Anjo Custódio de Israel por defender, e libertar a Gedeão, e aos do seu povo da operação de um poderoso exército dos Madianitas; mas que que Gedeão também desperte, e se desvele por sua liberdade, e defesa saindo a campo: Surge, et descende in costra (Jud. 79). Desvela-se o Anjo de Elias pelo salvar, e livrar com vida das mãos, e tirania de Jezabel, que lhe ameaçava a morte; mas que, que Elias também desperte, e de desvele por se pôr em salvo: Surge: grandis enim tibi restat via ( III Reg. 19). Desvela-se hoje finalmente o Anjo do Evangelho por salvar a José, e a sua família da crueldade de Herodes, que se opunha ao Reino, e ao Reinado de Cristo; Aparuit in somnis Josphe: mas que José também desperte, e se desvele de pôr em salvo na fuga para o Egipto: Surge, et fuge [m?] AEgiptum. É certo que todos, e cada um destes Anjos podiam [effeituar?], o que pretendiam, sem necessitarem do desvelo dos homens; contudo não quer Deus, que fiados nós os homens no desvelo, e custódia dos Anjos, nos deitemos a dormir, e dormindo esperamos de nos salvar. Quer sim, que ao desvelo dos Anjos se ajunte o nosso; que isto está hoje dizendo o Anjo do Senhor a S. José; e isto nos está também dizendo a cada um de nós o Anjo Custódio deste Reino: Surge.
9. Donde venho eu pôr remate deste Sermão a tirar a consequência de um documento, ou moralidade, a que se foi dirigindo está aqui todo este meu discurso. Se para o resguardo, e salvação de um Reino temporal não basta o desvelo, e custódia do seu Anjo da Guarda, mas é necessário, que o Reino também se desvele com o seu Anjo: Surge: como poderemos nós esperar, que baste para o resguardo, e salvação de nossas almas, que são o Reino espiritual do Senhor, como ao princípio dizia: Fesisti nos Deo nostro regnum, a custódia dos Anjos; se não acabamos de despertar do sono, e letargo de nossas culpas aos brados dos mesmos Anjos, que tão continuamente nos estão dando vozes internas ao coração, para que despertemos, e tratemos de nossa salvação: Surge, surge, qui dormis? Que durma um José Varão Santo, e justo: Cum esset justus: fiando em que tem à sua cabeceira ao menino Deus, passe; que seguro está, quem por si tem, e consigo a Deus. Mas que durma um pecador estando em ódio, e inimizado com Deus, tão carregado de culpas, e encargos da consciência? Isto é para fazer pasmar até aos bárbaros Gentios, que não têm conhecimento de Deus, nem vida, ou da morte eterna, que os espera: Quid tu soport deprimeris? Fuge (Jon 1,6): diziam a Jonas os seus companheiros; quando naquela brava tormenta se estava deitado a dormir lá pelo baixo dos convezes da embarcação: que fazes homem? É possível, que durmas? Que repouses? Agora sono? Agora descuido? Agora que os ventos se cruzam, e conjuram para nossa perdição? Agora que o mar se embravece, as velas se rompem, os mastros se estalam, o leme, se quebra, a Nau se está indo a pique, e nós com a Nau, agora colocas-te tu a dormir? Quid tu sopore deprimeris? Desperta homem: Surge. De que se admiram, ou escandalizam estes barbaros? De que? E pois não lhes sobeja razão para se admirar, e assombrar? Jonas não é um homem, como ele mesmo confessou aos companheiros, que vai fugindo de Deus: A facie Domini ego fugio: desobediente a seus mandados? Não está actualmente fóra da graça de Deus, e em ofensa sua? A tempestade, que se levanta, não é por respeito seu? Ele mesmo o confessa: Propter me tempestas haec. E que com tal perigo de perdição a olhos vistos, não acabe Jonas de os abrir? Que não desperte? Ou que isto é matéria para fazer pasmar até aos bárbaros Gentios: Quid tu sopore deprimeris? Surge. Notem a força, e ênfase daquele pronome, "Tu, quid tu?". Tu, que estás em desgraça de Deus digo eu agora; tu, que te vês ameaçado dos castigos de sua Divina justiça; estás a dormir? Quid tu sopore de primeris? Que durmam os Santos, que durmam os justos, como José que tem a consciência pura, e sossegada, passe: mas tu, que tens a consciência tão carregada, e embaraçada, tu a dormir? Tu sopore deprimeris? Que durma hum Elias à sombra de uma árvore fugindo de Jezabel: Obdormivit in umbra juniperi (III Reg. 19); que enfim é um Elias zeloso da observância da lei, e honra de Deus, que tem a seu cuidado defendê-lo; e resguardá-lo de todo o perigo: mas que durma um pecador, que durma um Jonas e com tão prezado sono; Dormiebat sopore gravi: um rebelde, e desobediente aos preceitos Divinos, sem temor de vindo sobre ele ira de Deus, como veio, perca rumo de sua negação, ou salvação, e vá a dar no ventre de uma baleia, ou no bojo, e profundeza do inferno, como ele lhe chama: De ventre inferi clamavi? Essa é a admiração, esse é o assombro: quid Tu sopore deprimeris? Surge.
1. Tendo em nós as memórias dos benefícios recebidos uma devida correspondência, ou significação do nosso agradecimento: Qui meminit sine impendio gratus: assaz devidas são as memórias que hoje consagramos ao Anjo Custódio deste Reino de Portugal; pois são tão singulares os benefícios, que sua protecção, e assistência temos recebido, e recebemos. Para que em nós fosse perpétuo o agradecimento do benefício que recebemos no Sacramento do Altar, ordenou Cristo Senhor nosso que houvesse em nós uma perpétua memória de tão singular benefício: Hac quotiesumque feceritis, in mei memoriam facietis. E porque mais deste que de outros muitos benefícios, que de sua liberal mão recebemos, há-de haver tão contínua e agraciada memória? A razão acho eu, que é porque no Sacramento do Altar assiste-nos Cristo, e nos há-de assistir até ao fim do mundo em tantas custódias, quantas são aquelas em que se acha pelos Sacrários dos Templos, fazendo-nos perpétuamente corpo de guarda com a presença de seu Corpo sacramentado: Ecce ego vobiscum sum usque ad consumationem saeculi. E uma custódia, e assistência tão contínua a de Cristo no Sacramento, bem mereceu uma perpétua memória em sinal do nosso agradecimento: In mei memoriam facietis. A assistência, que o Anjo da Guarda deste Reino faz a Portugal, não é um de ano; é e há-de ser perpétua até ao fim do mundo: Usque ad consummationem saeculi. E ao benefício de uma assistência tão contínua, de uma custódia tão prolongada, justo agradecimento corresponda à perpetuidade da memória, que neste dia lhe consagramos, instituído já desde o tempo de El-Rey D. Manuel, e confirmada por especial breve da Sé Apostólica.
2. Mas que tem de combinação a memória, que hoje consagramos ao Anjo Custódio deste Reino, com matéria do Evangelho, que a Igreja nos oferece nesta solenidade? Eu o direi, depois de fazer uma pergunta sobre o mesmo Evangelho. Escreve S. Mateus, que na ocasião, em que Herodes tratava de opor-se ao Reino de Cristo aparecido de poucos dias no mundo, aparecera em sonhos a S. josé o Anjo do Senhor: Angelus Domini apparuit in somnis Joseph. Pergunto agora: Este Anjo do Senhor era por ventura Anjo da Guarda do Menino Deus? Claro está, que não: pois é certo, que Cristo não tinha, nem necessitava de ter Anjo Custódio, por quanto alem da Divindade ter à sua conta resguardar a humanidade unida em um suposto; Cristo ainda em quanto homem, não era puramente vidente, como nós somos; era singularmente compreensor, como o são os bem-aventurados. Logo de quem era guarda este Anjo? Sem dúvida que era Guarda mor do Reino de Cristo. Ao Reino de Cristo se opunha Herodes; pois ao Reino de Cristo vem resguardar este Anjo; que se todos os Reinos têm Anjo Custódio, não havia de faltar seu Anjo Custódio. O Reino de Cristo na terra somos nós os fiéis; que isso foi dizer S. João no seu Apocalipse: Fecisti nos Deus nostro regnum. E como nesta ocasião as principais pessoas deste Reino espiritual eram os que se contêm no nosso Evangelho, trata o Anjo de as resguardar da tirania de Herodes na fórma, que encomenda a S. José: Surge, et accipe puerum, et matrem ejus, et fuge in AEgyptum, E bem sabem, os que me ouvem, que o Reino de Portugal se chama com especialidade Reino de Cristo: não só por que nele tem os mais fidelíssimos vassalos, que militam debaixo da bandeira e estandarte da sua Fé; se não porque o mesmo Senhor o escolheu já desde os seus princípios para Reino, e império seu, conforme a palavra que deu ao seu primeiro Rei [D. Afonso Henriques]: Volo inte, et in semine tuo imperium mihi stabilire. Pois para que se entenda o desvelo, com que o Anjo Custódio deste Reino de Portugal se empenha em o resguardar; saiba-se o desvelo com que o Anjo do Senhor, de quem fala o Evangelho, se empenha em defender ao Reino de Cristo espiritual. Pelo desvelo de um Anjo quer a Igreja que se conheça hoje o desvelo de outro, quando assim um, como outro, ambos são Custódios do mesmo Reino de Cristo, um do seu Reino espiritual, outro do seu Reino de Portugal. E suposta esta consideração, segue-se, que saibamos, de que meio se vale hoje o Anjo do Evangelho, para resguardar de todo o perigo ao Reino espiritual de Cristo; que deste mesmo quero eu mostrar que se vale o Anjo de Portugal para seu resguardo, e conservação. O meio consiste numa palavra, e é a última do nosso tema: Surge, de que eu faço escolha para matéria do Sermão; e não poderá haver queixa de ser comprido, não passando o discurso de mais, que a ponderação de uma só palavra.
3. Surge, diz o Anjo do Evangelho a S. José; e considero eu que diz também o Anjo Custódio deste Reino a Portugal: Despertai, acordai do sono em que vos achais. Vigilância encomenda o Anjo, e com razão; pois não há melhor meio para o resguardo e conservação dos Reinos e estados do mundo que o desvelo. Se há sono, se há descuido, por mais florentes que se achem as Monarquias, correm grande perigo de se perder. O primeiro, e mais florente estado que no mundo houve, foi o estado da inocência, no Paraíso terrenal. E quando durou este estado? Não chegou a sua duração a número de anos, nem sequer de dias na melhor opinião: que não são de muita dura na terra as felicidades do Céu, de que participava aquele estado; em breves horas acabou, e se perdeu para sempre, vindo Deus em pessoa a lançar fóra do Paraíso aos que o dominavam: Emisit eos Dominus de Paradiso (Genes. 3.13). E não saberemos a origem de tal desgraça? Já se sabe, que contra o estado da inocência só podia prevalecer a culpa. Mas esta culpa donde teve sua origem? De uma Eva. E esta Eva donde teve seu princípio? De um sono, de um descuido. Pôs-se a dormir Adão no mesmo ponto em que tomou posse daquele estado: o sono não há dúvida, que foi misterioso, pois foi infundido por Deus: Immist Dominus soporem in Adam (Gen. 2.21): com tudo é certo, que naquele sono se tirou a Adão do lado uma costela; daquela costa se formou uma Eva; e daquela Eva se originou a perdição de tão solene estado. E eis aí o estado da inocência perdido: porquê? Por uma Eva originada de um sono.
4. Passemos do estado da inocência aos estados e impérios do mundo representados em sonhos a Nabuco naquela sua grande e portentosa estátua; e acharemos, que quando mais se prometiam na dureza dos metais, de que se compunham; eterna duração contra a violência dos tempos, e contínuos assaltos dos anos; ao golpe de uma pequena pedra que descida do monte e lhe fez tiro aos pés, se arruinaram, e converteram em cinzas todas estas Monarquias desde os pés até à cabeça; sem lhe valer nem a cabeça ser de ouro, nem aos braços, e peito o ser de prata, nem ao bojo o ser de bronze, nem às mais partes o ser de ferro: Lapis abscissus de monte percussit statum in pedibus: tunc contrita sunt pariter ferrum, testa, es, argentum, et aurum (Dan. 2. 34.35). Agora noto eu, que esta fatal ruína, e assolação de tão florescentes Estados e Monarquias não a representou Deus a Nabuco estando acordado, senão estando dormindo, e sonhando: Vidi sonium (Dan V. 1). E porque lha não representou estando acordado? Estando acordado, tinha os olhos abertos, estando dormindo tinha os olhos fechados. Logo, quando tinha os olhos abertos na vigia, e não quando tinha os olhos fechados no sono, parece que dizia melhor o representar-lhe Deus a ruína destes Impérios. Não; que a ruína dos Impérios não diz com os olhos abertos, não diz com o acordo da vigilância, que se há vigilância, se há acordado, não pode haver ruína: diz com os olhos fechados, diz com o desacordo do sono; que se há sono, se há descuido, num abrir e fechar de olhos se arruínam os mais florescentes Impérios e Estados, as mais dilatadas Monarquias, por mais rios de prata e ouro em que nadem; por mais peitos de aço, ou de bronze, com que se armem; por mais arma de ferro, com que se fortifiquem: Vidi somnium: Contrita sunt pariter terrum, tosta, [ser?], argentum, e aurum. Daqui tiro eu, que para que o Reino de Deus floresça, e permaneça; para que o Reino de Portugal se conserve, e perpetue na duração sem perigo de ruínas, quer o Anjo do Evangelho falando com José, e quer o Anjo Custódio deste Reino falando com cada um de nós, que não haja sono, que não haja descuido algum, mas vigilância, e desvelo: Surge.
5. Dir-me-hão que sendo Reino de Deus, o que o Anjo do Evangelho vem a defender, sendo Reino especialmente de Cristo o Reino de Portugal, parece que seguramente o pode o Anjo Custódio deixar dormir e descansar; pois está sabido, que um tal Reino como o de Cristo não há de perigar, não há jamais de arruinar-se ou acabar, quando o mesmo Anjo nos está dizendo, que não há de ter fim: Regni ejus non erit finis (Luc. I. 33). Contudo, nem por isso se há-de dar à confiança, nem por isso se há de deitar a dormir, acode o Anjo; antes por isso mesmo, porque é Reino seu, que há de vigiar, e estar de acordo com mil olhos sobre si: Surge. Haverá alguém, pergunta Job, que possa fazer com o Céu, que durma, e descanse, se quer por um pouco, dando um breve parêntesis de sono ao suave descante de harmonia, com que regularmente se governa? Concentrum caeli queis dormire faciet? (Job 38. 37). Isso não fará possível, diz o Ecclesiástico; porque as Estrelas, que são seus olhos, já mais cessam de estar de vigia em perpétua sentinela: Stella in vigiliis Suis non descient (Eccles. 43.11). Se o Céu é Reino, que chamamos especificamente de Deus: Adveniat regnum tuum: se é centro de todo o alívio, lugar de todo o descanso, e remanço de todas as fadigas; porque não há o Céu há-de estar com tantos olhos abertos sobre si, quantas são as suas Estrelas? ainda quando a noite convida a todos a fechar os olhos, não há de pregar olhos o Céu? Não: Stelle in vigiliis suis non descient: por isso mesmo, porque é Reino de Deus, que há-de durar para sempre: Caeli regnum in aeternum non dissipabitur (Dan. 1.44). E Reino , que há-de durar para sempre, nunca há- de pôr os olhos, sempre de vigiar, sem haver quem o possa fazer dormir, ou descuidar de si: Concentum caeli quis dormire faciet? Sim; mas o Céu não necessita destas vigias, para se segurar; que pela segurança, que tem, costumamos nós dizer, que seguro está o Céu de ladrões; Seguro está, é verdade; mas por isso mesmo está seguro, porque não dorme; porque não cessam seus olhos de vigiar: Stellae in vigiliis suis non deficient. E como se poderá dar por seguro o Reino de Portugal, ainda que seja Reino especialmente de Cristo, se nele faltar aquele desvelo, que o Anjo Custódio quer, que haja: Surge? Sem dúvida que por falta desta vigilância temos visto nestes nossos tempos tão repetidas ousadias de ladrões por mar com estás descrédito do nome Português, e dizem que também por terra. Mas já agora pela merecê de Deus a poder dos brados do seu Anjo Custódio parece que vai Portugal despertando da modorra do seu descuido; pois o vemos tão desvelado por sair da terra ao mar. Ora desperta Reino de Deus, abre os olhos, que ele é o meio de tua conservação, que hoje se recomenda a brados o teu Anjo Custódio: Surge.
6. O que eu acho ser muito digno de advertência é, que julgando o Anjo do Senhor no Evangelho ser necessária para a conservação do Reino de Cristo a vigilância; o Anjo não desperta ao Menino Deus, que é o Príncipe deste Reino; senão a José, que é o vassalo: Apparuit in somnis Joseph, dicens: Surge. Ao Príncipe cuidava eu, que havia de despertar; que do sono, e descuido dos Príncipes, das modorras, e letargo dos Monarcas é que se originam as maiores inquietações e predições das Republicas [entenda-se "republica" como a ordem do que é público e comum]. No meio daquela tormenta, em que dormindo Cristo, se davam seus Discípulos por perdidos na sua Naveta, foi advertir o Evangelistas S. Mateus, que todos acudiam a despertar ao Senhor: Suscitaverunt eum, dicentes: Domine, salva nos, perimus (Mat. 8.25). Senhor, se vós não acordais, e não nos acudis, a braveza da tormenta é tal, a fúria das ondas tenta, o impacto dos ventos tão contrário, que não podemos deixar de nos afundar: Perimus. Eu cuidava, que como os Discípulos eram tão peritos, e exercitados naquela navegação por razão das suas pescas, que fizeram, o que costumam fazer os navegantes em ocasião de tempestades; que acudissem uns a tomar as velas, outros a pegar os remos, outros a governar o leme, outros finalmente a alijar ao mar, e aliviar a embarcação, que isso pedia o aperto em que se achavam. Mas acudiam todos a despertar o Senhor: Suscitaverunt eum, e pedir-lhe, que os salvasse: Salva nos; sem porém da sua parte algum culto de trabalho para se salvar? Assim é que todos queremos a salvação e a pedimos a Deus: Domine, salva nos; mas sem culto nosso, esperando que Deus ponha todo o culto, para nos salvar. Bem é o valer de Deus nos apertos; mas também é necessário, que nos valhamos das nossas mãos; que a mão de Deus, e a do homem, é que fazem boa liga para conseguirem a salvação; que isso dizia Deus a Moisés: Extende manum tuam, extendam manum meam (Exod. 34.20). Estendei a vossa mão, que eu também estenderei a minha: mas sabei que a minha sem a vossa não vos há-de valer para vos salvar. Contudo os Apóstolos nesta ocasião da tormenta, de que falamos, persuadiram se, e com razão, que assim como a braveza do mar tomou confiança para os inquietar, por ver ao seu Príncipe adormecido: Motus magnusfactus est in mari, ipse vero dormiebat; assim despertando o Príncipe, num abrir de olhos, se veria logo evitado o perigo, e serenada a tempestade, como na verdade aconteceu: Surgens imperavit mari, et facta est tranquillitas magna. Notem o Surgens. Despertando o Príncipe, todos ficaram salvos; em quanto dormia, todos se davam por perdidos: Perimus.
7. Sendo pois isto assim: porque não desperta hoje o Anjo Custódio a Cristo, que é príncipe, senão a José ainda que era vassalo, era muito do lado deste Divino Príncipe; e os Príncipes pelos lados é, que se costumam despertar. Temos exemplo muito semelhante com o documento de outro Anjo. Prezo, e carregado de algumas se achava S. Pedro no cárcere de Herodes, sem que a molestia dos grilhões lhe tirasse o repouso, em que pastava dormindo descansadamente entre dois soldados, que o tinham de guarda: Erat Petrus dormiens inter duos milites (Act. 11.6). Que aos servos de Deus os trabalhos, e perseguições não lhes tiram o sono. E diz o Texto sagrado, que vindo um Anjo do Céu a despertá-lo, o despertara pelo lado: Percusso latere Petri, exeitavit illum: dando-lhe um golpe no lado o fez acordar. E porque mais pelo lado, que por outro qualquer parte do seu corpo o desperta o Anjo? Tudo na Escritura sagrada tem seu mistério; e o deste lugar está claro: Era Pedro príncipe da igreja: Princeps Apostolorum: e os Príncipes pelos lados é, que se devem despertar, como despertou Pedro, dando-lhe um golpe no seu lado: Percusso latere Petri, excitavit illam. Se os golpes, que se dão nos lados são meio, que os Anjos Custódios tomam para despertar os Príncipes, e por meio dos Príncipes os Reinos. Muito desvelado quer o Anjo Custódio a Portugal, pois temos visto nestes nossos tempos tantos golpes mortaças pelos lados do maior valimento. Sendo logo José tanto do lado do Divino Príncipe, parece podermos dizer, que por este seu lado o quis hoje o Anjo despertar: nem foi necessário dar golpe no lado, bastou o brado de uma vez: Surge; que não devia o sono de José ser tão profundo, como o de Pedro, que necessitasse de golpes, para despertar. Eu porem dissera, que a José, que era o vassalo, e não ao Menino Deus, que era o Principe, desperta hoje o Anjo do nosso Evangelho, porque de tão Divino Príncipe não se pode supor, que dorme, ou se descuida no tocante ao nosso bem; pois sabemos, que David o descreve tão desvelado por nossa Custódia, que só mais se viu, nem verá dormindo em fórma que se descuide de nos falar, e resguardar: Non dormitabit, neque dormiet, qui custodit Israel (Psalm, 120.4). O que importa é, que não durmamos nós os vassalos, que nos não descuidemos no serviço de tão Divino Príncipe, e no resguardo de nossas almas, que são Reino de Deus, que temos dentro de nós mesmos: Regnum Dei intra vos est (Luc. 17.21); por cujo respeito nos está o Anjo despertando a brados: Surge. Praza a Deus, que ao som destes brados acabamos nós todos de despertar da modorra de nossas culpas, do descuido de nossa salvação; que isso é, o que o Anjo Custódio pretende com as vozes tão repetidas, que a cada um de nós está dando ao coração: Surge.
8. Tenho porem contra o Anjo Custódio deste Reino um grande queixume, e não o posso dissimular. Se o Anjo Custódio deste Reino tem a sua conta o desvelar-se por nos defender, e resguardar; para que é despertar-nos com os seus brados: Surge? Não basta que o Anjo vigie, não basta que o Anjo se desvele? Vele o Anjo, que esta é a sua obrigação; e deixe-mo-nos a nós dormir, deixe-nos descançar. Não sabemos o que dizemos; porque a vigilância do anjo sem a nossa, não basta para nos salvar; é necessário, que velemos nós também por nossa salvação. Eu tenho feito um notável reparo, e é, que nas mais das ocasiões, em que na Escritura Sagrada se faz menção dos Anjos se desvelarem pela Salvação, e resguardo dos homens, se faz sustamente menção do muito, que se empenharam em fazer, que os homens se desvelassem, e despertassem do sono, e modorra do seu descuido. ide comigo, e deixai-me fazer esta breve indução. Desvela-se o Anjo, de que há pouco falámos, por libertar a Pedro do cárcere, e prisões de Herodes; mas quer, que Pedro também se desvele por sua liberdade despertando-o do sono, em que se acha: Surge velociter, et sequere me (Act. 12.7.8). Desvelam-se os Anjos, que foram castigar a Sodoma, por salvar de seus incêndios a Lot também desperte, e se desvele por sua salvação: Surge: in monte salvum te fac (Gen. 19.15.18). Desvela-se o Anjo do Senhor por remediar, e socorrer a Agar no desamparo do deserto, em que se achava com seu filho a perigo de morte; mas quer que Agar também desperte, e se desvele por seu remédio: Surge: tolle puerum (Gen. 21.18). Desvela-se o Anjo custódio de Jacob pelo resguardar de todos os encontros, e perigos, que se lhe oferecerão em Mesopotâmia; mas quer, que Jacob também desperte, e se desvele por seu resguardo saindo-se da terra, em que se acha: Surge, et agredere de terra hac (Gen 31,13). Desvela-se o Anjo Custódio de Israel por defender, e libertar a Gedeão, e aos do seu povo da operação de um poderoso exército dos Madianitas; mas que que Gedeão também desperte, e se desvele por sua liberdade, e defesa saindo a campo: Surge, et descende in costra (Jud. 79). Desvela-se o Anjo de Elias pelo salvar, e livrar com vida das mãos, e tirania de Jezabel, que lhe ameaçava a morte; mas que, que Elias também desperte, e de desvele por se pôr em salvo: Surge: grandis enim tibi restat via ( III Reg. 19). Desvela-se hoje finalmente o Anjo do Evangelho por salvar a José, e a sua família da crueldade de Herodes, que se opunha ao Reino, e ao Reinado de Cristo; Aparuit in somnis Josphe: mas que José também desperte, e se desvele de pôr em salvo na fuga para o Egipto: Surge, et fuge [m?] AEgiptum. É certo que todos, e cada um destes Anjos podiam [effeituar?], o que pretendiam, sem necessitarem do desvelo dos homens; contudo não quer Deus, que fiados nós os homens no desvelo, e custódia dos Anjos, nos deitemos a dormir, e dormindo esperamos de nos salvar. Quer sim, que ao desvelo dos Anjos se ajunte o nosso; que isto está hoje dizendo o Anjo do Senhor a S. José; e isto nos está também dizendo a cada um de nós o Anjo Custódio deste Reino: Surge.
9. Donde venho eu pôr remate deste Sermão a tirar a consequência de um documento, ou moralidade, a que se foi dirigindo está aqui todo este meu discurso. Se para o resguardo, e salvação de um Reino temporal não basta o desvelo, e custódia do seu Anjo da Guarda, mas é necessário, que o Reino também se desvele com o seu Anjo: Surge: como poderemos nós esperar, que baste para o resguardo, e salvação de nossas almas, que são o Reino espiritual do Senhor, como ao princípio dizia: Fesisti nos Deo nostro regnum, a custódia dos Anjos; se não acabamos de despertar do sono, e letargo de nossas culpas aos brados dos mesmos Anjos, que tão continuamente nos estão dando vozes internas ao coração, para que despertemos, e tratemos de nossa salvação: Surge, surge, qui dormis? Que durma um José Varão Santo, e justo: Cum esset justus: fiando em que tem à sua cabeceira ao menino Deus, passe; que seguro está, quem por si tem, e consigo a Deus. Mas que durma um pecador estando em ódio, e inimizado com Deus, tão carregado de culpas, e encargos da consciência? Isto é para fazer pasmar até aos bárbaros Gentios, que não têm conhecimento de Deus, nem vida, ou da morte eterna, que os espera: Quid tu soport deprimeris? Fuge (Jon 1,6): diziam a Jonas os seus companheiros; quando naquela brava tormenta se estava deitado a dormir lá pelo baixo dos convezes da embarcação: que fazes homem? É possível, que durmas? Que repouses? Agora sono? Agora descuido? Agora que os ventos se cruzam, e conjuram para nossa perdição? Agora que o mar se embravece, as velas se rompem, os mastros se estalam, o leme, se quebra, a Nau se está indo a pique, e nós com a Nau, agora colocas-te tu a dormir? Quid tu sopore deprimeris? Desperta homem: Surge. De que se admiram, ou escandalizam estes barbaros? De que? E pois não lhes sobeja razão para se admirar, e assombrar? Jonas não é um homem, como ele mesmo confessou aos companheiros, que vai fugindo de Deus: A facie Domini ego fugio: desobediente a seus mandados? Não está actualmente fóra da graça de Deus, e em ofensa sua? A tempestade, que se levanta, não é por respeito seu? Ele mesmo o confessa: Propter me tempestas haec. E que com tal perigo de perdição a olhos vistos, não acabe Jonas de os abrir? Que não desperte? Ou que isto é matéria para fazer pasmar até aos bárbaros Gentios: Quid tu sopore deprimeris? Surge. Notem a força, e ênfase daquele pronome, "Tu, quid tu?". Tu, que estás em desgraça de Deus digo eu agora; tu, que te vês ameaçado dos castigos de sua Divina justiça; estás a dormir? Quid tu sopore de primeris? Que durmam os Santos, que durmam os justos, como José que tem a consciência pura, e sossegada, passe: mas tu, que tens a consciência tão carregada, e embaraçada, tu a dormir? Tu sopore deprimeris? Que durma hum Elias à sombra de uma árvore fugindo de Jezabel: Obdormivit in umbra juniperi (III Reg. 19); que enfim é um Elias zeloso da observância da lei, e honra de Deus, que tem a seu cuidado defendê-lo; e resguardá-lo de todo o perigo: mas que durma um pecador, que durma um Jonas e com tão prezado sono; Dormiebat sopore gravi: um rebelde, e desobediente aos preceitos Divinos, sem temor de vindo sobre ele ira de Deus, como veio, perca rumo de sua negação, ou salvação, e vá a dar no ventre de uma baleia, ou no bojo, e profundeza do inferno, como ele lhe chama: De ventre inferi clamavi? Essa é a admiração, esse é o assombro: quid Tu sopore deprimeris? Surge.
10. Que durma um Pedro, (deixai-me ir declarando mais as razões do meu assombro) que durma um Pedro aprisionado da injustiça de Herodes, lançado em um cárcere, carregado de grilhões: Erat Petrus dormiens: passe; que em fim está em graça com Deus, por cujo respeito padece estes grilhões: mas que durma um Sansão no regaço de Dalila aprisionado, e algemado dos grilhões de seus depravados afectos: Dormire eum facit super genua sua (Jud. 19.19): sem temor, de que venha a perder, como perdeu, na grenha de seu cabelo, a valentia do espírito, com que Deus o dotou? Sem receio de perder, como perdeu, a liberdade, que lhe tiraram seus inimigos, e os olhos, que lhe arrancaram os Filisteus, sem já mais os abrir para despertar, e ver os perigos da sua salvação? isso é, o que me assombra: Quid tu sopore deprimeris? Surge. Que durma uma Alma Santa lá nos Cantares, fiada em que cerrando os olhos do corpo, velam os olhos, e cuidados do seu coração: Ego dormito, et cor meum vigilat (Cant. 5.2): passe: mas que durma um Sifara inimigo de Deus, e do seu povo, fiando no amparo de Jael, e adormecido da potagem do leito, que lhe deu a beber, para lhe tirar a vida, como tirou, fazendo do que fosse acordar entre os desacordos de sua eterna condenação? Isto é, o que me pasma: Quid tu sopore deprimeris? Surge. Que durma um Samuel no templo de Deus, tendo em sua guarda a Arca do Senhor, a cujo lado dormia: Samuel dormiebat in templo, ubi erat Arca Dei (I Reg. 3.3): passe: mas que durma um Saúl com todos os soldados da sua guarda adormentados: Dormiebat omnes (I Reg. 16): estando em campanha, e tendo bem perto de si a David, a quem tinha por inimigo; sem se lembrar, que quem tem inimigos não dorme; sem recear de perder, como perdeu, as armas, em que tinha a sua defesa; e a taça, em que tinha as delícias do seu refresco? Isso é, o que me assombra: Quid tu sopore deprimeris? Surge.
11. E quantos (voltemos agora sobre nós) quantos dormem, como Saúl, na tenda, e campanha deste mundo com as guardas de seus sentidos todos adormecidos, descuidando-se da guerra oculta, que continuamente lhes estão fazendo seus inimigos invisíveis, com que vem a perder as armas da vigilâncias, que são as mais provadas para a nossa defesa no sentir de S. Pedro: Vigilate, quia adversarius vester diabolus sicut quaeres, quem devoret; e se epoeem a perigo de perder as delícias da bemaventurança, que haviam de lograr para sempre. Quantos dormem, como Sifara, deitando-se à noite muito confiados do prazo de sua vida, e muito carregados, quando dá sobre eles aquela crudelíssima Jael da morte, que não dorme, e dando-lhes um golpe, ou acidente mortal, vão acorpar ao outro dia entre os desacordos de sua condenação? Quantos dormem, como Salomão, entre os afagos da sensualidade, e carícias de Dalilas infiéis, com que vem a perder as forças da alma, e a valentia de espírito, com que haviam de rebater os assaltos das tentações, e as investidas dos Filisteus infernais, que privando-os da liberdade da graça, em que algum tempo viviam, e da vista dos olhos, com que se deviam resguardar dos perigos, ou laços de suas danadas afeições, os privam finalmente da vista, e glória de Deus? Quantos dormem, como Jonas, nesta brava costa do mundo entre as alteradas ondas, que se levantam do mar empolado de seus pecados, com que vem a perder a viagem, que deviam fazer para o porto da salvação pelo rumo de Ninive, ou da penitência de suas culpas; com que vem a fazer um triste, e lamentável naufrágio nesta fatal tormenta, ou tormentos do inferno, em cujo bojo, ou ventre se acham sepultados, dando brados mais funestos, que os que dava Jonas lá no ventre da baleia: De ventre inferi clamavi? E não quereis que me admire? Não quereis, que me assombre de ver tanto sono, de ver tanto descuido, de ver tanta negligência nas matérias da salvação; sem que bastem para nos despertar os bárbaros, que nos estão dando os Anjos Custódios deste Reino de Deus, que são nossas almas? Oh que este sono, este descuido, esta negligência nos desvelos do que mais nos importa, que é a salvação, não pode de deixar de fazer pasmar e assombrar até aos que forem tão bárbaros, como eram os companheiros de Jonas na sua navegação para Tarsis: Quid tu sopore deprimeris? Surge.
11. E quantos (voltemos agora sobre nós) quantos dormem, como Saúl, na tenda, e campanha deste mundo com as guardas de seus sentidos todos adormecidos, descuidando-se da guerra oculta, que continuamente lhes estão fazendo seus inimigos invisíveis, com que vem a perder as armas da vigilâncias, que são as mais provadas para a nossa defesa no sentir de S. Pedro: Vigilate, quia adversarius vester diabolus sicut quaeres, quem devoret; e se epoeem a perigo de perder as delícias da bemaventurança, que haviam de lograr para sempre. Quantos dormem, como Sifara, deitando-se à noite muito confiados do prazo de sua vida, e muito carregados, quando dá sobre eles aquela crudelíssima Jael da morte, que não dorme, e dando-lhes um golpe, ou acidente mortal, vão acorpar ao outro dia entre os desacordos de sua condenação? Quantos dormem, como Salomão, entre os afagos da sensualidade, e carícias de Dalilas infiéis, com que vem a perder as forças da alma, e a valentia de espírito, com que haviam de rebater os assaltos das tentações, e as investidas dos Filisteus infernais, que privando-os da liberdade da graça, em que algum tempo viviam, e da vista dos olhos, com que se deviam resguardar dos perigos, ou laços de suas danadas afeições, os privam finalmente da vista, e glória de Deus? Quantos dormem, como Jonas, nesta brava costa do mundo entre as alteradas ondas, que se levantam do mar empolado de seus pecados, com que vem a perder a viagem, que deviam fazer para o porto da salvação pelo rumo de Ninive, ou da penitência de suas culpas; com que vem a fazer um triste, e lamentável naufrágio nesta fatal tormenta, ou tormentos do inferno, em cujo bojo, ou ventre se acham sepultados, dando brados mais funestos, que os que dava Jonas lá no ventre da baleia: De ventre inferi clamavi? E não quereis que me admire? Não quereis, que me assombre de ver tanto sono, de ver tanto descuido, de ver tanta negligência nas matérias da salvação; sem que bastem para nos despertar os bárbaros, que nos estão dando os Anjos Custódios deste Reino de Deus, que são nossas almas? Oh que este sono, este descuido, esta negligência nos desvelos do que mais nos importa, que é a salvação, não pode de deixar de fazer pasmar e assombrar até aos que forem tão bárbaros, como eram os companheiros de Jonas na sua navegação para Tarsis: Quid tu sopore deprimeris? Surge.
12. Anjo Santo, Espírito soberano, Guarda Mor de Portugal, que por comissão de Deus, e disposição de sua Divina Providência tendes à vossa conta resguardar a este Reino não só no tocante ao temporal defendendo-o de todas as hostilidades de seus contrários, promovendo-o no aumento de suas felicidades, e adiantando-o nas empresas de suas conquistas; senão também tocante ao espiritual, que é o mais relevante: peço-vos encarecidamente, que levanteis a voz animada com os alentos do vosso espírito, e reforçada com os penetrantes golpes de vossas santas inspirações, e deis a cada uma de nossas almas adormecidas em suas culpas aquele saudável brado, que deu hoje o Anjo do Evangelho a S. José, e que a mim me deu matéria para este Sermão: Surge: para que despertemos todos de tão prolongado sono, e tão pernicioso descuido nas matérias de nossa salvação, e abrindo os olhos de nossa vigilância, possamos mediante a protecção da vossa custódia evitar os perigos, que se nos oferecem assim na carreira da vida temporal, como no caminho da vida eterna: Ad quam nos, etc." (Sylva Condionatoria - Primeira Parte Panegyrica (Tomo II) - Sermoens em Várias Celebridades - de Pe. manuel da Silva, 1699)
D. Manuel I, O Afortunado, o grande rei português que tinha sido jurado como soberano de todas as Espanhas e seus "impérios", fomentou a devoção a S. Miguel Arcanjo Custódio de Portugal. Mas foi por intervenção divina que o Venerável D. Afonso Henriques recebeu grandes sinais a respeito da devoção que o Reino devia a este Custódio:
"E entre razões, que me moveram a tomar esta empresa, tão dificultosa, que requeria engelho, e língua mais Angélica, que humana, foi a particular devoção, que o Reino de Portugal professou ao Anjo da sua guarda, Porque já o felicíssimo Rei D. Manuel, em quem a grandeza do ânimo competia com a piedade do culto divino, movido com afeito de devoção, e obrigado com muitos benefícios, impetrou do Sumo Pontífice um Breve, para que em todo o seu Reino se fizesse a festa ao Anjo da guarda de Portugal o terceiro Domingo de Julho, com procissão solene, missa, e ofício particular, que no Arcebispado, de Lisboa, e em outros se compuseram, E estando ainda o Reino de Portugal no berço de sua criação, já el Rei D. Afonso Henriques experimentava os particulares favores, e ajudas do Anjo da sua guarda, e do Arcanjo S. Miguel, dos quais foi em grande maneira devoto. Porque no ano de 1181, sendo já bom Rei de 86 anos muito gasto do exercício das armas, e mal tratado de uma perna, que quebrou em Badajoz, por cuja ocasião já em cavalo, e também por certa obrigação em que estava el Rei D. Fernando de Castela seu genro; Alboiaque Rei de Sevilha, veio sobre Santarém com poderoso exercito formado de toda a Andaluzia: para receber, ajuntou el-Rei D. Afonso sua gente, que para tão grande número, como o bárbaro trazia, era bem desigual, o que bem considerado por el-Rei, como homem prático na guerra, porém muito pio, e afectuoso para as coisas do Céu, determinou pedir de lá o principal socorro, e ajuda, em que mais estribava, que nas do exercito de seus vassalos: A noite antes do dia, em que determinava dar batalha, recolheu-se em oração, gastando a maior parte dela com Deus, como em semelhantes apertos costumava, e particularmente se encomendou com grande afecto, e confiança ao Anjo da sua guarda, e ao Arcanjo S. Miguel, metendo-lhe nas mãos a empresa, que diante tinha, e pedindo-lhe para ela socorro, e ajuda, valendo-se para isso dos exemplos da Escritura, em que os santos Anjos deram gloriosas vitórias a seus devotos; e animado com a confiança, e esperança, que neles tinha, saiu aos Mouros em seu carro, como costumava, depois que lhe sucedeu o desastre da perna: posta a gente em ordem em batalha campal, rompeu o Alboiaque, ferindo, e matando a muitos, e metendo os mais em fuga, os quais deixaram no arraial um grande, e riquíssimo depósito. É certo que no fervor da batalha foi visto junto del-Rei um braço, com uma asa, que o acompanhava por todas as partes, a quem ele acometia, e fazia tão grande estrago nos inimigos, que logo parecia força de braço Angélico, mais que humano, Em memória de tão assinalada merecê, instituiu el-Rei D. Afonso Henriques a cavalaria da Ala, cuja insígnia, era uma Asa vermelha, em campo branco cercada de ouro, a qual com o tempo se foi extinguindo, com outras muitas coisas. Além destas razões, não é a menor saber o grande afecto de devoção, com que o nosso muito santo Padre Paulo V mandou fazer não há muitos tempos, ofício, e missa particular para celebrar a festa dos Anjos da guarda na Igreja no primeiro dia do mês de Outubro." (Tratado do Anjo da Guarda (parte I) - do Pe. António Vasconcelos, 1621, (pág. 2)).
"Entre os mais objectos preciosos tomados na batalha de Aljubarrota, e oferecidos a Nossa Senhora da oliveira, figuravam doze anjos de prata doirada. Os cónegos desfizeram onze destes anjos para ornar o seu templo com ais alguns castiçais, turíbulos, navetas e outras peças.
Deixaram todavia uma para memória, que existe no tesouro da Colegiada e tem de peso 24 marcos. Antigamente costumavam conduzir este anjo na procissão do Corpo de Deus, pondo-lhe nas mãos o Santíssimo Sacramento. Depois, pelos anos de 1540, e de então até à actualidade, deixou de tomar lugar naquela festividade, para sair tão somente na procissão do Anjo Custódio. E para que representasse bem do Anjo Custódio de Portugal, puseram-lhe na mão esquerda o escudo das armas portuguesas, e na direita uma espada!
Por felicidade tem este anjo uma inscrição, que diz: "Esta obra mando fazer em noble sñor rey Don Juan, hijo del noble sñor rey Don Enrique". Refere-se a D. João I de Castela, filho de D. Henrique II, Alguns dos outros anjos, que se desfizeram, tinham sido feitos por ordem deste último monarca, conforme se lia nas respectivas inscrições." (Archivo Pitoresco (volume IV - de 1861 (pág.167)).
Deixaram todavia uma para memória, que existe no tesouro da Colegiada e tem de peso 24 marcos. Antigamente costumavam conduzir este anjo na procissão do Corpo de Deus, pondo-lhe nas mãos o Santíssimo Sacramento. Depois, pelos anos de 1540, e de então até à actualidade, deixou de tomar lugar naquela festividade, para sair tão somente na procissão do Anjo Custódio. E para que representasse bem do Anjo Custódio de Portugal, puseram-lhe na mão esquerda o escudo das armas portuguesas, e na direita uma espada!
Por felicidade tem este anjo uma inscrição, que diz: "Esta obra mando fazer em noble sñor rey Don Juan, hijo del noble sñor rey Don Enrique". Refere-se a D. João I de Castela, filho de D. Henrique II, Alguns dos outros anjos, que se desfizeram, tinham sido feitos por ordem deste último monarca, conforme se lia nas respectivas inscrições." (Archivo Pitoresco (volume IV - de 1861 (pág.167)).
5 comentários:
Ainda hoje o Prof Gandra disse que o Anjo Custódio de Portugal não era o Arcanjo S. Miguel.
No meio de tanta informação começa a dúvida!
DS,
Obrigado por comentar.
Como sabe bem, Deus não confunde nem facilita a confusão. A tradição em Portugal sempre teve como seu Anjo Custódio a S. Miguel Arcanjo. E sendo assim, não contrariando isto, a Santa Sé (que naqueles tempos bem sabia disto e foi bem informada disto), aprovou a PRIMEIRA festividade a um Custódio de um Reino. Por outro lado, na ÚNICA aparição do Custódio de uma Nação (em Fátima), o anjo identifica-se por duas vezes: "Anjo de Portugal" e "S. Miguel". Não culpemos a Deus e à Igreja por alimentar confusões que, a bem ver, são antes confirmações.
Há hoje a tendência protestantizada no ceio católico de acreditar que Deus não provê tudo e em cada momento. Mas, repito, Deus não contribui para confundir a Igreja, pelo contrário, clarifica, dá luz.
O extraordinário caso de termos o Arcanjo S. Miguel como Custódio (sim que isto assusta alguns, e não é para menos), está ao nível dos dois outros extraordinários casos já mencionados: Sermos o primeiro Reino a ter esta solenidade com o Próprio aprovado pela Santa Sé (e a mesma devoção já no primeiro Reinado - séc. XII), a única aparição do nosso Custódio (como tal - e isto não é pouco). A juntar aos vários milagres ao longo de séculos, e aparições nunca aprovadas nem desaprovadas (tipo de fenómeno muito comum em Portugal - só com a influência de alguns Reis conseguimos fazer chegar a Roma a maior parte dos casos que hoje estão aprovados), e a Devoção dos Anjos (antiga e aprovada pela Santa Sé) que foi o próprio Arcanjo (não como Custódio do Reino) a revelar a uma vidente em Portugal. Esta devoção mesma é a única entregue pelo mesmo Arcanjo a toda a Igreja(segundo sei), portanto, também ela entregue em Portugal.
Por favor, diga-me quem é o Prof. Gandra para que possa fazer uma busca e saber um pouco mais. Mas, convido-o a si a deixar aqui a opinião de tal Professor.
Muito obrigado pelo seu contributo. Volte sempre.
13/6/12 12:31
Não sei se adiantará dizer que, D. Afonso Henriques é Venerável. Por intervenção castelhana no processo de beatificação - com a difundida mentira do "estalo na cara da mãe" - D. João V viu assim impedida a beatificação do nosso Herói fundador. Lembro que nestes tempos o rigor e seriedade com que a Santa Igreja tratava estes altíssimos assuntos não eram compactíveis com o relaxamento dos nossos tempos em que as regras foram abrandadas até chegarmos ao escândalo de um "S. Josémaria Escribá" ou um "Beato João Paulo II".
Bastava uma "má fama", fosse ela verdade ou não, para fazer parar os processos. Essa "má fama", neste caso, foi levada em andas por Castela e, posteriormente, aproveitada pelos inimigos da Igreja que a difundiram largamente com a República.
Ainda há o caso da Santa Sé ter aprovado que a solenidade do Custódio de Portugal se equiparasse à da festividade do Corpo de Deus (isto deve-se à natureza do Custódio em causa e não foi autorizado em mais festividades a Custódios de outros Reinos). Lembro ainda que a festividade do Corpo de Deus, em Portugal, foi, durante séculos, a maior em todo o mundo (sobre esta matéria tenho-me visto um pouco ocupado e atrapalhado - a procissão do Corpo de Deus em Lisboa era de tal forma incrível que a Câmara Municipal chegou a fica com os cofres vazios, as tapeçarias, quadros, ornamentos arquitectónicos ... etc, eram impressionantes.) Imagine-se o poder equiparar (se fez por ser mais marcada) a festividade do S. Miguel Arcanjo Custódio de Portugal com a festividade do Corpo de Deus nos séc. XVII e XVIII...
Que não se pense que houve uma diminuição na festividade do Corpo de Deus em Portugal, ou que não havia uma muito grande devoção Eucaristia. Os desagravos nacionais que os Reis mandaram fazer por cada caso de Hóstias profanadas (raros casos) mereceram tratados inteiros, manifestações nacionais de luto, penitências e outras acções que duraram anos. Etc...
Aproveito para lembrar aos anti-Fátima, que dizem que todas as aparições são imaginação infantil, que a "imaginação infantil" descreveria um anjo com asas. Temos pena que com um tão pequeno argumento caia por terra a tese da "imaginação infantil" ou da "projecção da imaginação". Enfim...
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