13/04/12

PARA VARIAR - CALIFÓRNIA

Raymond Cartier é um dos meus "contadores de histórias" preferido. Não digo com isto que apoie tal autor em suas preferências ou acções. Gosto de ouvir as suas histórias... nada mais... e dele trago-vos esta:


"Pouco faltou para que a Califórnia se tivesse convertido numa província russa. Foi salva pelo amor.

Em 1806, Nicolás Petrovitch Rezanov, boiardo, conselheiro privado do Zar, passou a "Golden Gate" no seu veleiro de três mastros, o "Junon"; levava a bordo um carregamento de peles, mas não ia em jeito de comerciante. A Rússia, instalada no Alasca, nas terras frias do continentes americano, tentava descer até ás terras cálidas, movimento eterno. As instruções secretas de Rezanov prescriviam-lhe a busca de meios para incorporar o Império das costas do Pacífico, sobre as que uma Espanha distante, atacada de indolência e ainda aliada a Napoleão, não exercia mais que uma sombra de soberania.

A Rezanov pareceu-lhe um magnífico país. Mais magnífica ainda lhe pareceu a filha do comandante espanhol de Yerba Buena, Concha Argüelles y Moreaga.

Novela asombrosa. O boiardo tinha quarenta e cinto anos; dona Conca, quinze. Amaram-se. A petição de matrimónio do cismático consternou a família espanhola. Acabou por realizar-se o casamento subordinado a duas pequenas condições: Razanov devia converter-se ao catolicismo, e ir buscar pessoalmente a Madrid a autorização de Carlos IV.

Sem demoras, Rezanov voltou a atravessar o Pacífico. Encontrou-se na Sibéria com o terrível inverno, incapaz de gelar o seu amor. Lançou-se por entre as planícies nevadas num trenó aberto e morreu de uma congelação quando estava a chegar a Irkutsk.

Dona Concha entrou no convento, no qual acabou os seus dias, Desta novelesca aventura não resta mais que o nome de uma colina de S. Francisco, Russian Hill.

Depois de tudo, a História obedece a casualidades tanto como às leis. A princípios do séc. XIX, os russos estavam mais próximo da Califórnia do que os americanos, e pareciam muito superiores as possibilidades de nela se estabelecerem. Se Rezanov tivesse a alma de um conquistador, em vez do coração de uma "midinette", teria podido iniciar um estabelecimento que seguramente não tivesse sido vendido com tanta despreocupação como o Alascka polar foi. Os americanos tinham tropeçado com a Rússia no seu itinerário de expansão, e a luta dos dois colossos tinha começado um século antes. Mas as coisas prosseguiram satisfatoriamente. A expedição moscovita de 1806 não se repetiu jamais. Alguns russos fixaram-se em Yerba Buena, mas esquecidos pelo seu Governo acabaram por  ir-se por iniciativa própria em 1841. Em vez de ter que arrancar a Califórnia das garras de um potente Império, os americanos receberam-na de um México resignado, quarenta anos mais tarde, sem violência e quase sem esforço. Foi conquistada com o efectivo de um batalhão e apenas com dez baixas. A partir do ano seguinte, a descoberta de uma pepita de ouro por um tal de Marshall nos aluviões do Rio Sacramento encaminhou à Califórnia a riqueza que mais necessitava: homens E a história começou a encadear-se.

Hoje a Califórnia tem 10.500.000 de habitantes e 4.161.109 automóveis. No censo de 1950 destaca-se triunfante no segundo lugar no que respeita a número de habitantes (depois do Estao de Nova York) e em primeiro lugar no que se refere a automóveis." (...) 

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