18/04/12

CARTA DE D. FELLAY AO CARDEAL HOYOS (15 de Dezembro de 2008)



FRATERNITÉ SACERDOTALE
SAINT PIE X


+ Menzingen, 15 de Dezembro de 2008

S. Ex. Mons. Bernard Fellay
Superior Geral
A Sua Eminência Reverendíssima
Card. Dário Castrillón Hoyos


Eminência Reverendíssima.

(...)

Desde o mês de Junho, no qual confesso ter ficado surpreendido pela sua intimação, resolvi então dar algum tempo à reflexão para não permanecer numa via que parecia sem saída. Como lhe contava então durante a reunião de 4 de Junho, parece que o status quaestionis não está bem colocado. Queria aproveitar esta carta para precisar a nossa posição e assim evitar mal-entendidos ou ambiguidades que poderiam prejudicar a boa relação que temos tido até agora.

Por isso, creio necessário sublinhar um ponto importante que poderia ajudar-nos a resolver em parte tais mal-entendidos: trata-se do tema da confiança. Desde o ano 2000, tinha-lhe indicado que um dos obstáculos, naturalmente não algo fundamental, mas contudo, muito importante para poder avançar, era o problema da confiança.

Para restabelecer a confiança depois de tantas humilhações e anatemas como sofremos a vários níveis por parte das autoridades eclesiásticas, pedimos dois sinais tangíveis: a liberdade da missa para todos os sacerdotes e que fosse retirado o decreto da excomunhão. Prometíamos então aplicar todas as nossas forças para estabelecer discussões doutrinais, esperando melhorar assim as nossas relações com a Santa Sé e chegar finalmente o desenlace favorável nossa questão.

Comoveu-nos muito o gesto do Santo Padre que, mediante o seu Motu Proprio, quis ele responder claramente ao primeiro [pedido] que esperávamos, e queremos reiterar o nosso agradecimento por esse acto generoso, do qual esperamos frutos ainda maiores, incluso se o entusiasmo escasso com que o receberam os Bispos nos impede entender todo o alcance do gesto do Santo Padre.

Continuamos também aferrados à vontade de permanecer católicos e de colocar todas as nossas forças ao serviço da igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja Católica Romana. Aceitamos filialmente o seu ensinamento. Cremos firmemente no Primado de Pedro e nas suas prerrogativas, e este é o motivo pelo qual a situação actual nos faz sofrer tanto. Estamos dispostos a escrever com o nosso sangue o Credo e a assinar o juramento anti-modernista e a profissão de Fé de Pio IV, e aceitamos e fazemos nossos todos os concílio até ao Vaticano I. Mas sobre o Concílio Vaticano II não podemos senão emitir reservas, pois este Concílio quis ser "diferente dos restantes" (cf. discurso dos Papas João XXIII e Paulo VI). Quis ser pastora e não quis definir nada, senão ser muito mais modesto. Então porque é que equiparado a todos os outros? Não rejeitamos o Concílio em bloco. Aceitamos dele o que repete constantemente o Magistério da Igreja, mas rejeitamos-lhe as novidades - e principalmente certo espírito - contrários ao Magistério da igreja. Nos acusarão que tal coisa seria estarmos a colocar-nos mais alto que o próprio Papa, mas não tal é verdade, pois com ele seguimos o que disse o Concílio Vaticano I sobre a fundação do Papa. Enquanto ao que opomos ao Concílio Vaticano II, não se trata de uma doutrina própria da Fraternidade S. Pio X, mas sim dos próprios textos do Magistério da Igreja de sempre. Se isto é então inaceitável, que nos mostrem onde não estaríamos a ser fiéis na Fé católica, e onde estão então os nossos erros e as heresias professadas.

Saiba, Eminência, que encontrar-se em tal situação é motivo de grandes sofrimentos. A origem da crise não somos nós, nem tampouco os nós a provocámos. Os nossos sacerdotes trabalham pelo mundo unicamente para a salvação das almas e pelo bem da Igreja católica, e muitas vezes em circunstâncias difíceis. Contudo, os frutos do seu apostolado pode ser visto em todas as partes: conversões sérias, vocações, famílias numerosas, etc.

Outros muitos sacerdotes e jovens estariam dispostos a seguir este caminho, pois encontram neste apostolado um grande consolo e, sobre tudo, a realização de uma verdadeira vida sacerdotal. Ademais, seria de grande benefício para as almas e para a Igreja. A actual situação dificilmente lhes permite realizar o seu apostolado nas suas linha mais tradicional, pois imediatamente o próprio superior lhes coloca entraves, e as consequências acabam por ser dramáticas para a vida sacerdotal, e o futuro da vocação.

Eminência, não queremos ser pessimistas, pois temos a esperança, mas há que ser realistas e tal supõe que ainda não vimos todas as consequências da crise posterior ao Concílio [Vaticano II]. Dentro de poucos anos, a situação será ainda mais dramática, A falta de sacerdotes - coisa que vossa Eminência não ignora -, levará regiões inteiras à descristianização. Também por esse motivo queremos prosseguir pelo caminho começado com [vossa Eminência] no ano de 2000.

Dizia-mos-lhe antes que temos um problema de confiança e que para superá-lo, pedíamos dois gestos, dos quais um já foi concedido.

Mediante esta carta voltamos a pedir formalmente e em nome dos outros três Bispos consagrados para o serviço à Fraternidade S. Pio X, o segundo gesto, ou seja, que seja retirado o decreto de excomunhão.

As circunstâncias particulares complexas que circundaram as consagrações episcopais de 1988 podem fazer interpretar tal acto num sentido contrário àquele pelo qual elas foram levadas a cabo. Nunca se tratou de estabelecer uma hierarquia, senão simplesmente de uma "operação de sobrevivência", segundo os termos do consgrante principal, Mons. Marcel Lefebvre. Isso explica o motivo, apesar das aparências contrárias, as consagrações não constituem um acto de rebelião contra o Sumo Pontífice ou contra a Santa Sé.

Estamos intimamente persuadidos de que esta segunda acção romana contribuiria muito para melhorar tanto o clima geral da Santa Igreja como o clima de confiança necessário para seguir em frente, pois, como lhe expomos na nota anexa, apesar do gesto do Santo Padre realizado explicitamente para neutralizar o perigo da separação e divisão na Igreja, alguns acontecimentos presentes que nos concernem (...) agitam com força essa atmosfera de confiança.

Temos a impressão de que tal desconfiança é mutua. por exemplo, quando se espera que temos a intenção de pressionar a Roma com a nossa cruzada do Rosário, sendo que, pelo contrário, dá-nos a ocasião de colocar aos nosso fiéis a preocupação de toda a igreja e mostrar a todos tanto a nossa adesão a Roma como ao Vigário de Cristo, na pessoa do papa Bento XVI.

De nossa parte, queremos intensificar os contactos com Roma para evitar na medida do possível os mal-entendidos. Para facilitar os contactos, pensamos também estabelecer, quando possível, um lugar de alojamento na Cidade Santa.

Já próximos da festa de Natal, creia, Eminência Reverendíssima, que é do nosso mais querido desejo ver a nossa Santa igreja "formosa, sem ruga nem mancha" segundo a vontade do divino Esposo, que vem ao mundo propter nos homines et propter nostram salutem. O nosso desejo mais querido e o motivo pelo qual entregámos a nossa vida, é que a Santa Igreja, nossa Mãe, cumpra sempre com más eficácia, segundo o plano divino, a sua missão salvadora.

Com os nossos melhores desejos para uma Santa Festa de Natal.

+ Bernard Fellay


(Documento anexo: Nota sobre alguns pontos sensíveis que prejudicam as boas relações entre a Santa Sé e a Fraternidade S. Pio X.)

4 comentários:

Eu disse...

Não tarda muito para o sofrimento acabar.

anónimo disse...

JSampaio,

Sofrimento de quem?

ROMA: Roma sofre cada vez menos. Conseguiu eliminar as provas do crime: tornou intocável a questão das excomunhões falsas que tentou atribuir e com as quais estigmatizou a tanta gente. Declarou a Missa católica tradicional, principal, Petrina, algo meramente extraordinário. Declarou pela primeira vez a missa nova em relação à Missa tradicional e colocando a primeira sobre a segunda. Tratou os 4 Bispos como cismáticos arrependidos que não aceitavam o Magistério Papal nem partes da Doutrina. Ou seja, conseguiu transformar o próprio erro em erro alheio.

FSSPX: Parece sofrer em dois sentidos opostos... Uns sofrem por quererem não carregar a cruz, e por isso levantam as mãos a Roma que lha tirem. Outros sofrem por querer levar a cruz e por Roma se ter juntado aos carrascos.

Outros tradicionais católicos dispersos e resistentes: Sofrem pelo último motivo apresentado.

O JSampaio diz que em breve o "sofrimento acabará". Portanto depreendo referir-se aos dois primeiros casos e não aos dois últimos. Curiosamente os dois primeiros não são incompatíveis, são convergentes. E se é esse o caso, não só tenho de discordar pelo factual da triste situação, como o convido a que explique um pouco a sua opinião.

Obrigado por comentar.

José Lima disse...

Deus queira que sim, que o sofrimento acabe! E que por tal facto se fiquem a remoer, por igual, modernistas, progressistas, sedevacantistas e cripto-sedevacantistas.

anónimo disse...

José,

Depois do comentário que eu fiz, fiquei sem entender o seu comentário.... Pode explicar melhor, por favor?!

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