27/03/12

POSIÇÃO DA SEITA LIBERAL FACE À LEGITIMIDADE DO TRONO DE PORTUGAL

Que não se confunda a facção liberar com o pensamento liberal. A maior parte dos afectados pelo pensamento liberal nunca se declararam adeptos de uma facção liberal, por não terem suficiente conhecimento de tal facção ou por não terem conhecimento de que determinadas ideias suas ou comportamentos seus sejam  na realidade próprios ou consequência de liberalismo. Sem dúvida, é pensamento modernista aquele que apenas reconhece o "liberalismo" nas agrupamentos liberais esvaziando-o do ser e transferindo-o e conotando-o com o mais exterior das consequências do liberalismo. Em suma, o liberalismo é um problema a observar nas ideias e apenas em último lugar nas formas sociais consequentes.

Os defensores de D. Pedro IV certamente foram, e são, em maioria liberais. Eram certamente adictos liberais, portanto, partidários liberais, mesmo que a maior parte não tivessem noção de que as posições e iniciativas desse grupo só tivessem sido possíveis por beberem nos erros próprios do liberalismo (erros contra a verdade guardada no pensamento católico). Desconhecendo ou esquecendo que o erro doutrinário  tem por consequência o erro social (a acção), dizem hoje os liberais não partidários (ou até anti-partidários e/ou que nem se acham ser liberais) que o "liberalismo" seria antes um fenómeno social e político agrupado em torno de um determinado programa. Contudo, por aqueles querem distanciar-se destes, seleccionam em todos os antigos programas as alíneas que não lhes são comuns. Por outro lado omitem mais uma vez que o suposto programa não é o cerne do "ser liberal" mas sim, pelo contrário, é uma consequência história do desenvolvimento do "ser liberal".

Os tradicionais católicos que sobraram, por exemplo, olhando a panorama do mundo católico dos nossos dias, costumam dizer que o Papa x é modernista, ou que o Bispos x é modernista. Certamente que nestas afirmações espera-se haver a consciência de que tal Papa e tal Bispo nunca tenham professado categoricamente quererem aderir ao algum movimento modernista ou quererem seguir ou aprovar ideias que eles mesmo reconheçam ser modernistas. Esta margem, possibilitada pela ignorância modernista, distância entre daquilo que se faz e aquilo que deve ser feito, aplica-se a todos os que foram baptizados católicos e dizem professar o catolicismo, sejam eles na realidade modernistas ou tradicionalistas (o que implica que, em verdade, ou estão os dois errados ou, pelo menos, um deles segue uma via errada). Isto serve para salientar que também os liberais hoje, com conhecimento de que o liberalismo é mau, tendem a não reconhecer que sempre foram liberais e que nasceram em "civilização liberal".

A história do engano demonstra que se tem vindo a construir uma "civilização do erro" (a quem já em outra ocasião chamei de "coluna negra"), sem que isso tenha de significar "civilização da culpa" (o inocente que nasce hoje à margem da verdade não pode ser culpado de tal).

A tendência do desmoronamento lento daquilo a que se tem vindo a chamar de Cristandade é um facto, e assim deverá ser até a terrível vinda do Anticristo. Sim senhor... e nunca no pensamento cristão houve dados em contrário, antes se afirmou o contrário.

Veja-se então como D. Maria II de Portugal e Algarves..., em plena monarquia liberal, é obscurecida por uma dessas almas arrastadas (António da Silva Lopes Rocha, Desembargador e advogado da Casa da Suplicação de Lisboa) que em 1829 lhe dirige uma análise e suposta refutação na qual tenta "apaziguar" a Rainha de que a coroação de elRei D. Miguel teria sido injusta:

D. Maria II

"Senhora

Logo que os verdadeiros inimigos do Trono e do Altar, fanáticos, hipócritas, desmoralizados, e depostos, como lhe chama o Augusto Pai de Vossa Majestade na Proclamação de 25 de Junho, conceberam o atrevido e louco projecto da usurpação, veio-se o desgraçado Portugal, e veio-se a Europa inundada de escritos em diferentes línguas, destinados a sustentar que o Filho Primogénito do Senhor D. João VI havia perdido Seus Direitos de Realeza por ter aceito independente a Coroa Imperial do Brasil. O Cisma Político da ilegitimidade do Senhor D. Pedro IV foi então pregado, impunemente, até dos púlpito, naquele desgraçado Reino, e a tanto chegou a maldade de alguns degenerados Portugueses que ousaram avançar com a maior injúria do Direito Público Português, que Vossa Majestade Primogénita das Augustas Filhas do Senhor D. Pedro IV, nascida Portuguesa, e chamada pelas Leis Fundamentais do Reino à Sucessão do Trono, na falta ou impedimento do Senhor D. Pedro IV, havia perdido por aquele alheio facto Seus Inauferíveis Direitos à Coroa Portuguesa. Um bando de homens todos rebeldes, todos traidores, todos perjuros, todos ilegitimamente convocados, e a maior parte deles até ilegalmente eleitos, mas que se disseram - Os Três Estados do Reino - vieram consumar a obra da iniquidade fazendo e publicando o Assento de 11 de Julho do corrente ano, É a análise e refutação jurídica deste monstruoso Assento forjado nas cavernas da rebeldia e da traição, que eu tenho a honra de oferecer a Vossa Majestade. Empreendimento muito superior a meu talento pela grandeza dela, porem mui conforme ao leal ânimo de um súbdito Português Mártir da Legitimidade, que procura manifestar aos Reis e Povos do Mundo a Justiça com que Vossa Majestade sobe ao Trono de Deus Maiores. Dê Vossa Majestade Seu Real Amparo a este Serviço feito igualmente a Vossa Majestade, e ao Reino

Deus Guarde a Pessoa de Vossa Majestade por largos anos, como lhe pedimos todos, e havemos mister.

Beija as mãos de Vossa Majestade
Deu respeitador Súbdito


O DESEMBARGADOR

ANTÓNIO DA SILVA LOPES ROCHA"

Pode já o leitor adivinhar pelo estilo do transcrito discurso introdutório, ainda mais por ser dedicado a uma senhora e Rainha, a tranquilidade e clareza argumentativa em falta. Este escrito, publicado em forma de livro em Londres, saiu com uma versão em português e uma outra em inglês, demonstra a intenção de procurar adeptos na Europa (nomeadamente em Inglaterra) à base de confundir ou ocultar a fundamentação pela qual D. Miguel foi sagrado e proclamado Rei. Trata-se de uma acção de propaganda que não é de estranhar num liberal (pois gradualmente tudo se lhes vai parecendo relativo - tudo poderia valer se estivesse ao serviço do maior proveito).

Na leitura desta obra, comecei por pensar que o autor era um bem intencionado liberal, mas ao adiantar-me na leitura começou a figurar-se alguma maldade de um liberal de carreira, com culpa, e já afectado e comprometido. Nota-se uma razão ao serviço de pressupostos falsos que tornam a obra pesada com  muitas referências assentadas sobre argumentação equivocada. O autor não é original, transparecendo a versão liberal previamente estudada e que fazia parte da posição dominante no Brasil (suponho que estaria ligado a certas forças organizadas e internacionais). António Lopes Rocha, pasme-se, foi agraciado com a Ordem da Imaculada Conceição...

A argumentação do Desembargador é aquela que correu depois da vitória e estabelecimento definitivo do liberalismo. São estes os mesmos erros sobre os quais tantos escritores assentaram as suas conclusões e se ouvem hoje por toda a parte. Esta difusão diabólica deve ser combatida com o esclarecimento que, por haver hoje tão pouca gente que o queira fazer, e por ser pouco o tempo e estar tão necessitado o mundo de outras coisas de gravidade igual ou superior, irá demorar.

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