CHRONICA
DOS
EREMITAS
DOS
EREMITAS
DA SERRA DE OSSA
No Reyno de Portugal e dos que floreceram em todos os mais Ermos da Christiandade; dos quaes nos seguintes seculos se formou a Congregação dos Pobre de Jesu Christo; e muitos depois a Sagrada de S. Paulo primeiro Eremita, chamada dos Eremitas da Serra de Ossa.
LISBOA, M.DCCXLV
LISBOA, M.DCCXLV
CAPÍTULO XVII
Prova-se Serem os Anacoretas daSerra de Ossa os Primeiros Eremitas da Cristandade
151 Neste precedente Capítulo deixamos provado com assaz evidência, que os primeiros Anacoretas, e Cenobitas no estado da Lei Escrita foram os grandes Profetas Samuel, Elias, e o Sagrado Percursos de Cristo; e no estado da Lei da Graça foram o mesmo Senhor, e todos os seus Sagrados Apóstolos. Resta agora no presente Capítulo mostrar com aquela certeza, ou conjectura provável, que contra tantos séculos de antiguidade, quais são aqueles esclarecidos Varões solitários, a quem (depois do seu Divino Exemplar, que Deus primeiro mostrou em figura da Moisés no deserto de um monte, e que depois de se unir à nossa passível natureza, foi levando na realidade para o monte de um deserto) se deva o principado deste, e a glória primazia da sua perpetua habitação neste santíssimo estado da Lei da graça? Resolvemos pois, que neste são os nossos Anacoretas da Serra de Ossa os primeiros, que depois de Jesus Cristo, e seus Sagrados Apóstolos, habitarão a solidão, e serão princípio ao estado Monacal. Todo o Capítulo 15 deste primeiro Livro, e Século, em que vamos escrevendo, é a mais eficaz prova desta nossa resolução, porque estabelecida a grande antiguidade dos nossos santos Ermitas, dela bem claramente se manifesta a sua primazia no presente estado da Lei da Graça. Neste, como temos dito, e provado, começaram a povoar os desertos da Serra de Ossa no ano 36 do nascimento do nosso Redentor, que foi o segundo da nossa copiosa redenção, e o segundo também da primeira Apostólica Missão do primeiro Pontífice Eborense, e Proto-mártir da Lusitânia o glorioso S. Manços: e como neste referido ano ainda não tinha começado a pregação dos Sagrados Apóstolos na Hispanha [Península Ibérica], bem se vê não haver nele ainda solitários conhecidos por tais, senão os nossos da Serra de Ossa filhos da Cidade de Évora, e mandados dela para aquele santo deserto pelo mesmo seu Mestre, e Apóstolo S. Manços, os quais não só têm a excelência de serem os primeiros Essénios, Offios, ou Cristãos, e Santos da Hispanha [Península Ibérica], mas também os primeiros Eremitas de toda a Cristandade. Assim o afirmam as nossas perenes tradições, os nossos sinceros cartórios, e o confessa o já citado acima P. Mestre Fonseca na sua Évora Gloriosa, na qual diz, que Os primeiros Eremitas de toda a Igreja Católica foram os Eborenses mandados por S. Manços para a Serra de Ossa; como também são os únicos, que se conservaram na Igreja, quando os outros se extinguiram, ou reformaram. O mesmo repete este doutíssimo Historiador mas adiante, afirmando, que Os Primeiros Eremitas de todo o Mundo Católico (como dissemos) foram os da Serra de Ossa, que nasceram no tempo de : Manços nos primeiros crepúsculo, e infâncias da Igreja, e viveram sempre com tanta inteireza varam.de vida, que extintos por diplomas Pontifícios todos os Eremitas da Hispanha [Península Ibérica], só os da Serra de Ossa se conservaram.
152 Este mesmo ilustre Jesuíta referindo a primeira perseguirão, que padeceram os primeiros católicos Eborenses, da qual se seguiu a segunda pregação, e o martírio do seu Apostólico Mestre S. Manços, diz as seguintes palavras: Não falta quem diga, que muitos destes afligidos Cristãos se embrenharam na Serra de Ossa, e deram princípio de vida Ermítica muito antes que S. Paulo, a que chamamos primeiro Ermitão, que proreceu em 245 o que se pode confirmar com a História de S. Félix, que já no ano de 46 era Ermitão com seu sobrinho Etc. Muitos anos antes do P. Mestre Fonseca tinha o Padre Manuel Fialho, já acima citado, dado também nos seus doutos, e difusos escritos a primazia da vida solitária aos nossos Eremitas da Serra de Ossa, a respeito de todos os mais da Cristandade, como bem se deixa ver das suas já referidas palavras, as quais aqui têm o seu próprio lugar, e são as seguintes: Também aqui na Serra de Ossa tiveram o seu primeiro princípio, e domicílio, primeiro que em toda a Hispanha os Monges Negros; e primeiro que eles desde o princípio da Fé floresceram na mesma Serra os primeiros Eremitas de toda a Cristandade pela pregação, e instrução do nosso glorioso, e primeiro Apóstolo, e Bispo S. Manços. E acrescenta depois o mesmo Padre, que Os primeiros Monges Negros da Hispanha, e os primeiros Eremitas de toda a Cristandade, foram os da Serra de Ossa. Bem confirma o parecer, e autenticidade destes doutíssimos Jesuítas o não se ler em Autor algum Eclesiástico, que antes da pregação do sagrado Evangelho fossem conhecidos alguns solitários em toda a Cristandade, senão os nosso da Serra de Ossa; e por isso se lhes deve só a eles, e não a outros, a primazia do sagrado Instituto Ermítico. Nem pode obstar a esta em primeiro lugar o afirmarem comummente os Historiadores, com o Doutor Máximo, que os primeiros Eremitas da Cristandade foram os do Egipto, primeiro instruídos, e depois mandados para aquelas vastas solidões pelo Evangelista S. Marcos: por quanto os tais Historiadores seguiram as notícias, que mais universalmente corriam daqueles Ermos; e não as tiveram dos nossos da Lusitânia por mais distantes; porque a tê-las, necessariamente haviam seguir a Cronologia dos tempos, segundo a qual consta que os solitários do Egipto começaram a habitar os seus desertos depois do ano 45 do Senhor; porque neste tal ano, diz o Cardeal César Barouio, que entrara o Sagrado Evangelho em Alexandria do Egipto, onde pelos anos seguintes mandou a muitos dos Gentios convertidos pela eficácia da sua pregação para o retiro dos Ermos: e os nossos Ermitas Eborenses, nove, ou dez anos antes, ou ainda mais, povoavam já os dezertos da Serra de Ossa como largamente fica provado; cuja antecedência de tempo dá a estes, e nega àqueles toda a primazia.
153 Não obsta por parte desta em segundo lugar dizerem o Breviário Bracarense na legenda do seu primeiro glorioso Arcebispo S. Pedro de Rates, os doutros Padilha na História Ecclesiástica de Hespanha; Manuel Severim de Faria na já muitas vezes citada Relação da Vida Ermítica; Cardozo nos Comentários do seu Agiológio Lusitano, e o Doutor Fr. António Brandão na sua, e nossa Monarquia Lusitana, que a vida Eremítica teve princípio neste Reino de Portugal por S. Feliz, o qual floresceu na solidão de um monte junto a Rates pelos anos 45 do Senhor: demos as palavras deste ultimo citado, as quais foram as seguintes. Uma das coisas que mais ilustram o Reino de Portugal é haver-se dado nele princípio de vida Ermítica, que tem sido de tanto proveito, e ornamento da Igreja Católica. Foi o primeiro, que instituiu esta vida um Santo Varão chamado Félix, o qual viveu num em um monte junto a Rates em tempo do primeiro Arcebispo de Braga S. Pedro, o qual (como é sabido) foi discípulo do Apóstolo S. Tiago, e faleceu pelos anos de Cristo de 45. De Félix, e seu modo de vida faz menção o Breviário de Braga na vida do mesmo S Pedro. Este Instituto de vida Eremítica floresceu depois por todas as partes da Cristandade, e aprece que se derivou de Portugal; por quanto em todas as Províncias se acha, que uzaram do mesmo nome, e hábito, que trouxeram os Eremitanos Portugueses antigos; e se conservou até nossos tempos nos Religiosos da Serra de Ossa. Até aqui o douto Brandão, cujo parecer seguem os famosos Antiquários D. Francisco de Padilha, Jorge Cardoso, manuel Severim de Faria, já acima citados; o primeiro e último dos quais reconhecem a S. Félix pelo primeiro Ermita de Hispanha; e o segundo começa a sua nunca assaz louvada História no Comentário ao primeiro de Janeiro por estas palavras: Damos princípio aos Santos de Portugal com S. Félix (dado, que lhe não sabemos dia próprio) por ser o primeiro fundador, e pai da vida Ermítica, e Monacal neste Reino.
153 Não obsta por parte desta em segundo lugar dizerem o Breviário Bracarense na legenda do seu primeiro glorioso Arcebispo S. Pedro de Rates, os doutros Padilha na História Ecclesiástica de Hespanha; Manuel Severim de Faria na já muitas vezes citada Relação da Vida Ermítica; Cardozo nos Comentários do seu Agiológio Lusitano, e o Doutor Fr. António Brandão na sua, e nossa Monarquia Lusitana, que a vida Eremítica teve princípio neste Reino de Portugal por S. Feliz, o qual floresceu na solidão de um monte junto a Rates pelos anos 45 do Senhor: demos as palavras deste ultimo citado, as quais foram as seguintes. Uma das coisas que mais ilustram o Reino de Portugal é haver-se dado nele princípio de vida Ermítica, que tem sido de tanto proveito, e ornamento da Igreja Católica. Foi o primeiro, que instituiu esta vida um Santo Varão chamado Félix, o qual viveu num em um monte junto a Rates em tempo do primeiro Arcebispo de Braga S. Pedro, o qual (como é sabido) foi discípulo do Apóstolo S. Tiago, e faleceu pelos anos de Cristo de 45. De Félix, e seu modo de vida faz menção o Breviário de Braga na vida do mesmo S Pedro. Este Instituto de vida Eremítica floresceu depois por todas as partes da Cristandade, e aprece que se derivou de Portugal; por quanto em todas as Províncias se acha, que uzaram do mesmo nome, e hábito, que trouxeram os Eremitanos Portugueses antigos; e se conservou até nossos tempos nos Religiosos da Serra de Ossa. Até aqui o douto Brandão, cujo parecer seguem os famosos Antiquários D. Francisco de Padilha, Jorge Cardoso, manuel Severim de Faria, já acima citados; o primeiro e último dos quais reconhecem a S. Félix pelo primeiro Ermita de Hispanha; e o segundo começa a sua nunca assaz louvada História no Comentário ao primeiro de Janeiro por estas palavras: Damos princípio aos Santos de Portugal com S. Félix (dado, que lhe não sabemos dia próprio) por ser o primeiro fundador, e pai da vida Ermítica, e Monacal neste Reino.
(tem continuação)
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