20/02/12

ATENTADO SACRÍLEGO de 1552 - REPARAÇÃO MANDADA POR D. JOÃO III de PORTUGAL

"Sempre os portugueses demonstraram o maior amor e a mais profundo respeito pela Sagrada Eucaristia. Os grandes erros antieucarísticos não tiveram entre nós consideração aceitável, até mesmo o que pôs a Europa em fogo desde o século dezasseis, com o protestantismo, e o jansenismo. As primeiras controvérsias acerca da Eucaristia, desde o século XI até à Reforma, pode dizer-se que não deixaram quaisquer sinais duradouros entre nós. Compreende-se, por isso, com que sentimentos de horror e de mágoa o país deplorava qualquer atentado contra as Sagradas Espécies sacramentais [presença real de Nosso Senhor]. O primeiro desacato [crime] sacrílego foi o cometido por uma mulher de Santarém, em 1226 (?), na igreja de Santo Estêvão; o segundo registou-se na catedral de Coimbra, em 1362, mas o que de facto mais impressionou a nação ocorreu na Capela Real, em 11 de Dezembro de 1552, penúltimo domingo do Advento.

Festejava-se imponentemente o casamento do Príncipe D. João, filho de D. João III, com a Princesa D. Joana, filha de Carlos V. Estava a Família Real, Prelados e toda a Nobreza a assistir à Missa solene. Quando o sacerdote, Julião Soares, capelão de El-Rei, levantou a Hóstia, após a consagração, um calvinista inglês, chamado Roberto Gardner ou Gardines, judeu mercador de Bristol, velocíssimo como diabo que era (*), sobe pelas costas do oficiante, que era de alta estatura, tira-lhe das mãos a sagrada Hóstia, atira-a ao chão e derruba o cálice que ia ser consagrado.

D. João III
Todo o Reino vibra de intensa dor, ao saber do nefando crime. Em Lisboa, fez-se logo uma devota procissão de desagravo em que o Soberano, descalço e vestido de luto religioso, foi a pé da Sé até S. Domingos, seguido de todos os Nobres e Cavaleiros que se encontravam na Corte, por motivo do casamento.

As Ordens Religiosas e o povo também se incorporaram na procissão,descalços e vestidos de luto.

D. João III esteve muitos dias encerrado no seu gabinete, sem ver a luz do dia, nem receber ninguém na sua presença. Nunca mais o viram alegre, nem depôs o luto e não tornou a comer senão em louça de barro, até que morreu em 11 de Junho de 1557. Fizeram-se ainda outras devotas procissões e penitências públicas."

(fonte: MANUEL VAZ GENRO, O Lausperene em Portugal )


(*) Carta de Mons. Pompeu Zambecari, Bispo de Volva e Sulmona, representante da Santa Sé em Portugal, ao Santo Padre, datada de 30 de Dezembro, transcrita no 3º vol., pg. 194-202, de Portugal no Concílio de Trento, por Mons. José de Castro.

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