23/01/12

CARTA DO P. TEILHARD DE CHARDIN

T. de Chardin estava empregando de mentalidade evolucionista































"Ontem enviei-lhe três pequenos trabalhos para explicar-lhe a minha posição actual (o cerne do problema é, efectivamente, um trabalho enviado a Roma, mas sem resultado, portanto, não tenhamos expectativas).

Fundamentalmente, defendo consigo que a Igreja (como toda a realidade vivente, depois de certo tempo) chega a um período de "muda" ou de "reforma necessária". Depois de depois mil anos, tal é inevitável. A humanidade está sofrendo uma mutação. Como não haveria de fazer de forma idéntica o cristianismo? Creio mesmo que a reforma mencionada (muito mais profunda que a do séc- XVI) não seja uma simples questão de instituições e de costumes, senão da Fé. De certa forma, a nossa imagem de Deus desdobrou-se.

Transversalmente (por assim dizer) ao Deus tradicional do Alto, está surgindo para nós, desde há um século, uma espécie de Deus do Adiante, na direcção de algo "ultra-humano". Na minha opinião, tudo está nisto. Para o homem trata-se de repensar a Deus já não em termos do Cosmos, mas sim da Cosmogénese: um Deus ao qual não se adora e ao qual se pode encontrar só através da culminação de um Universo ao qual ilumina e harmoniza (e torna irreversível) a partir de dentro. Se, o do Alto e o do Adiante chegam a uma síntese ao de Dentro.

Pois bem, este acto fundamental do nascimento de uma nova Fé para a Terra. Fé no do Alto unida à Fé no do Adiante, creio (e imagino que também compartilha do meu parecer) somente o cristianismo pode consegui-lo, partindo da maravilhosa realidade de Seu "Cristo Ressuscitado": não como uma entidade abstracta, senão como objecto de uma ampla corrente mística extraordinariamente adaptável e viva. Estou convencido disso: a Religião do futuro está a ponto de surgir da nova Cristologia dilatada até alcançar as dimensões orgânicas do nosso novo Universo.

Este facto (e aqui é onde não coincidimos, mas não avança a vida pela pela boa vontade dos homens que vão apalpando terreno?), de facto, não vejo eu mesmo um meio melhor de promover aquilo que anticipo, que o de trabalhar pela reforma (tal como a defini antes) desde dentro: ou seja, permanecendo sinceramente aderido  ao "phylum"(3), cujo desenvolvimento aguardo. Com franqueza (e sem querer criticar a sua decisão), vejo que apenas o tronco romano, tomado integralmente, pode prestar ao apoio biológico suficientemente vasto e diverso para realizar e manter a transformação esperada. E esta não é uma mera suposição. Durante cinquanta anos vi revitalizar-se o pensamento e a vida cristã à minha volta - apesar de todas as encíclicas - demasiado de perto como para não ter uma enorme confiança nas forças renovadoras do velho tronco romano. Trabalhemos cada umna sua esfera. Todos os impulsos em direcção ao alto convergem.

Cordialmente seu
Teilhard de Ch."

Ao meditar estas duas cartas e o estado do catolicismo, aparece como indispensável ter mais em conta que nunca a sentença de S. Vicente de Leris, Doutrod da Igreja:

"E se algum contágio novo se esforçar para envenenar não a uma pequena parte da Igreja, senão mesmo toda a Igreja, então a sua grande preocupação será apagar a antiguidade que, por sua característica, não poderia ser já seduzida por tal novidade enganosa."

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