13/10/11

Fátima, Dakar, Mons. Lefebvre, Portugal, França (I)


Ao passar a imagem de Nossa Senhora de Fátima muitos se converteram ao catolicismo. Assim foi em Dakar numa interessante ocasião na qual se juntaram os portugueses aos franceses e a Mons. Lefebvre. Tudo isto é relatado pelo Dr. José Dias Sanches, Cônsul de Portugal:

Ao chegarmos a Dacar, em Abril de 1951, a fim de ocupar o cargo de Cônsul de Portugal naquela cidade, fomos procurados pelos principais elementos da nossa colónia ali residente, ao apresentarem seus cumprimentos. Ao tempo, essa colónia, devia compor-se de uns vinte mil indivíduos, oriundos não só da metrópole, como principalmente de Cabo Verde, exercendo diversas actividades naquele vasto território francês.
Catedral de Dakar
Então, um grupo de Senhoras, informou-nos que a devoção a Nossa Senhora de Fátima, naquela cidade, era grande, não só por parte dos portugueses, como também pelos franceses, o que justificava ali a presença de uma imagem, a fim de se prestar culto à Mãe de Deus que, em Fátima, falou aos três pastores da Serra de Aire.

Depois de organizada uma comissão que tratou de angariar donativos para a aquisição da imagem, foi escolhida uma, entre diversas propostas apresentadas, cujo transporte de Lisboa para Dacar, foi gentilmente cedido pelo então Director da C.U.F. [Companhia União Fabril] num dos navios daquela empresa, o qual faria escala por aquele porto.

O Arcebispo de Dakar, Mons. Marcel Lefebvre
Logo que comunicámos o ocorrido ao Arcebispo da África Ocidental Francesa, Monsenhor Marcel Lefebvre, espírito curtíssimo, dotado de profundos sentimentos religiosos, mostrou-se deveras entusiasmado por tão luminosa ideia, oferecendo, desde logo, uma capela lateral, da catedral de Dacar, então por concluir, para o culto a Nossa Senhora de Fátima.

As obras de conclusão da referida capela, importavam em avultada quantia, segundo orçamentos apresentados, e como não houvesse dinheiro para aquelas obras, resolveu-se, entre os portugueses, ali residentes, que todos dariam a sua quota parte, no sentido de se realizarem as obras, num gesto de verdadeira solidariedade e de sincero sentimento religioso.

Ali, em cada português, longe da Terra Mãe, ardia a chama sagrada da Pátria, aliada a uma Fé cristã, deveras emocionantes. Quantas vezes tivemos a suprema felicidade de verificar esses nobres sentimentos, desde os mais humildes, que para ali foram em busca de melhores dias, até aos mais bem colocados na vida social daquela cidade cosmopolita.

A "irrupção do sobrenatural" produzida em Fátima, como se expressou Paul Claudel, deu-se por toda a orbe, conduzindo as almas para a renovação da cristandade, cujo fenómeno se verificou também ali entre a nossa colónia.


Como exemplo, tratámos de executar um grande quadro a óleo, representando uma das aparições de Nossa Senhora de Fátima aos humildes pastores, para ser colocado na mencionada capela. Operários de todas as especialidades, cooperaram naquela simpática obra, em quanto que, outros portugueses ofereciam materiais de construção, paramentos, objectos litúrgicos, etc.

A ideia germinara e resplandecera em realidade, apreciada por todos, que revelava também, obra prodigiosa erguida pelo auxílio da Mãe de Deus.

Cúpula da capela de Nossa Senhora de Fátima na Catedral de Dakar
Em 10 de maio de 1952, o jornal "Afrique Nouvelle" impresso naquela cidade, dava grande relevo às solenidades religiosas que se iriam realizar ali, por ocasião da inauguração da nova capela que de Nossa Senhora de Fátima, cujo programa era o seguinte:

- 12 de Maio. (21:30 h). Grande procissão das velas em volta da Catedral, seguindo-se um sermão, em português, por Sua Ex.ª Reverendíssima o Perfeito Apostólico de Bissau, D. José de Magalhães;
- 13 de Maio. (10:00 h). Missa pontifical, celebrada por Sua Excelência Reverendíssima D. José de Magalhães, proferindo um sermão o Arcebispo da África Ocidental Francesa, Monsenhor Lefebvre; Segundo-se a introdução solene da imagem de Nossa Senhora de Fátima na respectiva capela.


O que resta da capela
A esta solenidade assistiram os Guardas marinhas e toda a oficialidade e praças do aviso "Afonso de Albuquerque", que fora a Dacar, propositadamente, para tomar parte naquelas festividades religiosas, tendo sido autorizado que a força dos marinheiro se apresentasse com o respectivo armamento, bandeira e fanfarra.

Naquela noite, foi exibido um filme sobre as províncias portuguesas do ultramar, gentilmente cedido, pela Agência Geral do Ultramar, tendo o erudito Professor Mouni, proferido brilhante conferência sobre a primeira passagem dos portugueses na África Ocidental.

Esta festa, celebrou-se na Sala de Honra, do Instituto Francês da África Negra, que estava repleto de numerosa assistência.

Como os portugueses, residentes em Dracar, nos manifestassem vontade de que a procissão das velas percorresse algumas ruas da cidade, avistámo-nos com o Alto Comissário em Dacar, Monsieur Cornut Gentill, a quem apresentámos aquela sugestão, pedindo-lhe respectiva autorização, ao que, nos respondeu que seria perigosa tal manifestação pelas ruas, onde a maior parte dos habitantes professava a religião maometana. Disse-nos também que não assumiria a responsabilidade por qualquer desacato particado pelos indígenas talvez que, confiados na nossa Fé, respondemos-lhe que, nada de anormal se iria passar, em virtude de tratar-se de uma cerimónia de carácter espiritual, cujo sentimento anda arreigado à maior parte daqueles povos, apesar de professarem outras religiões. Assim sucedeu: A procissão saiu da Catedral, com o maior respeito, seguindo-se numerosa assistência que rodeava o andor onde ia a imagem de Nossa Senhora, engalanada de flores. À frente viam-se as bandeiras de Portugal e de França, seguindo-se um estandarte com a reprodução da aparição da Mãe de Deus aos pastorinhos. Os nossos marinheiros e guarda marinhas, ladeavam o andor, e na rectaguarda do Aviso Afonso de Albuquerque, representante do Alto Comissário e outras entidades francesas, civis e militares.

A noite fazia brilhar, com intensidade, as luzes das velas, transportadas, por milhares de fiéis que se incorporaram naquela manifestação de Fé. Os indígenas, de olhares absortos por tão deslumbrante espectáculo, descobriam as cabeças, e alguns curvavam-se, perante a passagem da imagem branca, de mãos postas, ensinando a rezar. Outras, num ímpeto de conversão irreprimível, arranjaram velas e incorporaram-se na procissão com o maior respeito.

Este espectáculo, impressionante e nunca visto em Dacar, teria influído profundamente, no íntimo de tantas almas, pelo que se verificou avultado número de conversões,não só de protestantes europeus, como até de indígenas afeitos a outras crenças religiosas.

A nós, se dirigiam inúmeras dessas pessoas, confessando a revelação em Cristo, que aquela cerimónia proporcionou, pela sua grandiosidade, pela lição que os portugueses davam naquele momento, pela Fé comunicativa que, desde então, lhe iluminara as lamas.

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