24/07/11

DA ANTIGA LUSITÂNIA - AGIOLÓGIO LUSITANO


(Retirado da secção "Advertências   Necessárias ao Agiológio Lusitano" da obra Agiológio Luitano. A divisão do texto pelos pequenos títulos não é original, é iniciativa da casa)

§ III
DA ANTIGA LUSITÂNIA

"Todos os autores que trataram das coisas de Portugal, por conseguinte, incluem nelas (como próprias) as da antiga Lusitânia, por compreender ele (ainda hoje) a maior parte da dita Província. Por este respeito, com justo título conserva o nome de toda ela, e pelo mesmo tem por próprias todas as excelências, e prerrogativas de qualquer das partes daquela antiga Província, posto que muitos lugares dela pertençam agora á coroa de Castela. Metrópole da Lusitânia foi antigamente a famosa cidade de Mérida, mais ilustre pelos insignes Mártires, Santos Confessores, e Apóstolos varões que naqueles felizes séculos deu á Igreja Católica, e que pela sumptuosidade de seus soberanos edifícios, e riqueza de moradores, em que foi singular, os quais reconhecem por seu primeiro Apóstolo, que lhes denunciou a luz do sagrado Evangelho, a S. Epitácio, a quem (segundo Dextro, no ano 50) andando S. Pedro em Hespanha, como universal pastor e Vigário de Cristo na terra, constituiu em Bispo dela.

Mérida, Primeira Capital

O nome de Emerita Augusta (conforme a mais verdadeira opinião) tomou de Augusto César, que de vencidos e sujeitos os Cantábros e ter alcançado deles gloriosas vitorias (vendo-se absoluto e pacífico senhor de toda a Hespanha) a concedeu aos soldados velhos (que nas ditas guerras o haviam servido) por habitação e morada, para que naquele abundante terreno (que é dos mais férteis de toda a Hespanha) vivessem e o cultivassem, ficando a dita cidade Colónia Romana. De modo que de Emériti, que a povoaram, que em Latim significa “ soldados velhos”, e de Augusto, que a fundou e lha deu por orada, se formou o nome de Emerita Augusta, e não de Mirmidones, como tiveram para si Venero e Marieta.


[A Mérida] depois o Imperador Constantino Magno, ano de 324 (demarcando as dioceses das Igrejas de Hespanha) fez metropolitana assinando-lhe por sufragâneas Beja, Lisboa, Évora, Osonoba, Idanha, Coimbra, Viseu, Lamego, Calábria, Saragoça, Caniora, Ávila e Coria, Esta demarcação renovou-a Vumba no ano 675 assinando certo limites a cada uma das ditas catedrais, Porem hoje vê-se despojada de toda esta antiga glória, porque depois de recuperada do pode dos Mouros a dita cidade, antiga metropolitana cadeira, foi transferida a Compostela e, por isso, de então até ao presente, não retém mais (com grande sentimento de seus naturais) que a memória, ruínas, e vestígios de sua passada grandeza.

Limites da Lusitânia Antiga

Antes de passarmos a diante, parece-nos necessário assinarmos neste lugar os próprios limites da antiga Lusitânia e as principais cidades, vilas e lugares que compreendia, para que quando tratarmos de alguns santos naturais delas, dado que hoje (como fica dito) estejam na demarcação de Castela, entendam os que lerem, que falamos deles como de coisa própria nossa, pela razão sobredita e não nos arguam o Catelhanos (usurpadores de alheias glória) que nó atribuímos, o que nos não pertence por justo título, pois seguimos nesta matéria todos os autores, que dela escreveram (que sem discrepância) nomeiam por santos de Portugal os que o foram da antiga Lusitânia, posto que alguns deles pertenceram a cidades e lugares que hoje são de Castela. O que sempre se há-de entender dos que floresceram nela da primitiva Igreja até o infeliz ano de 714 em que houve a geral invasão dos árabes, que é o tempo em que Mérida dói metrópole da Lusitânia, Para o que havemos de supor (segundo Florião do Gampo, e outros autores) que no ano 214 antes do Nascimento de Cristo, vieram os Romanos a Hespanha e a sujeitaram, os quais de quatro divisões, que fizeram dela, até o tempo de Adriano, a terceira que serve a nosso intento, foi repartindo-a em três Províncias, a saber: Terraconense, Bética, e Lusitânia, chamando Citerior àquela, e Ultrior a estas duas juntas.

Mas deixando a Bética, e Tartaconense, que não fazem o nosso intento, trataremos somente da Lusitânia a qual no ano 1509 antes da vinda de Cristo (como quer Plínio) pelo que respeitando estas duas opiniões, os antigos umas vezes a nomearam não Lusitânia; outras Lysitania. Mas por ser mais universal opinião, que Lusitânia. Esta compreendia toda a terra que se estende entre os dois caudalosos rios Douro e Guadiana, que ambos desaguam, aquele no Oceano Ocidental, este no Atlântico, ficando-lhe o Douro ao Norte e Guadiana ao Meio dia. Do Oriente a Província Tarraconense, do Ocidente o mesmo Oceano.

E para sabermos os términos do Oriente até onde ela se estendia de ambas partes do Norte  e Sul, por dentro dos ditos rios Douro e Guadiana, que correm quase de Leste a Oeste, excepto o Guadiana que chegando a Mérida, deixa o Ocidental curso que leva e faz volta contra o Meio dia, entrando depois no Oceano Austral entre Castro Marim, e Ayamonte, áquela vila hoje de Portugal  , esta de Castela. Pois começando a descreve-la pela parte do Guadiana, estendia-se a Província Lusitânia por dentro do próprio rio e da dita vila de Castro Marim, por Alcoutim, Mértola, os Pedrogãos, Juramenha, Elvas, Mérida, Medelhim) vila, que de presente cá e na Bética por um torcicolo, que por discurso do tempo fez Guadiana (e daqui até Calatrava a velha e nova de onde contando do Sul a Norte por linha recta a comarca da cidade de Ávil a, último termino da Lusitânia inclusive até o rio Douro, por cuja linha se extrema da Província. Tarraconense, em cujas ribeiras de Alverche se conserva uma pedra de Romanos que declara como até ali chegava a Província Tarraconense, e dali começava a Lusitânia, a inscrição de uma parte contem: “Hic est Terraco, non Lusitania“ e da outra “Hic Lusitania, non Tarraco”. Da banda Oriental torna a virar por dentro do mesmo Douro, ribeira abaixo até à vila de Gaia, fronteira da cidade do Porto. De maneira, que toda a terra que se contem dentro nesta linha da parte Oriental de um a outro extremo, e dentro de ambos rios e mar Oceano, se chamava Lusitânia. As cidades, vilas, e lugares dela, que agora estão nos reinos de Castela são os seguintes: Mérida, Albuquerque, Trugilho, Guadalupe, Caceres, Capara, Vilarpedroso, Ponte do Arcebispo, Talaveira, Oropesa, Calatrava a velha, Alcantara, Coria, Placencia, C,amora, Ávila, Salamanca, Segovia, Cidade Rodrigo, Alva de Tormes, Ledesina, Bejar, Medina del Campo, Penharanda, e outras de menos nome, cujos cidadãos e moradores eram tidos pelos antigos por Lusitanos e por conseguinte Portugueses. Assim que esteé o legítimo direito, que temos por conjunto título contarmos (como nosso) aos antigos santos desta Província, como S. Eulalia, Lúlia, Lucrécia de Mérida, Vincência e Maxência de Coria, Frutos, Engracia, e Valentim irmão de Sgovia, Paula de Ávila, Raimundo Pastor de Medelim, Marcos e seus companheiros Mártires de Capara, Arcádio, e deus companheiros de Salamanca e outros muitos, não ficando defraudadas estas cidades e lugares de os terem também por próprios seus.

Advertimos ao leitor que de diversas demarcações que os antigos Romanos fizeram em vários tempos de Hespanha, couberam duas à nossa Lusitânia, uma mais antiga, e estendida, que incluía em si a Estremadura e a Província de entre Douro e Minho com toda a Galiza, a qual assina Strabo em vários lugares do 3º livro a quem em parte imita Pompónio Mella: porem nós não seguimos esta, que ficava muito mais em nosso favor, senão outra mais moderna, e menos dilatada (como fica dito) em que não houve variedade, de qual trataram os antigos geógrafos Plínio e Ptolomeu.

Dividia-se a Lusitãnia (antor Plínio) entre conventos jurídicos, isto é Chancelarias, ou Relações em: Pacense, Scalabitano, e Emeritense. Cinco Colónias, Mérida, Medelim, Nobra Cefareia (lugar próximo á vila de Alcantara, que hoje se vê arruinando) Beja, e Santarem, a que chamavam os Romanos: Praesidium Julium, E quatro Municípios, três do anti go direito de La cio, que eram as cidades de Évora, Mertola, e Alcaçer do Sal e um só de privilégio de cidadãos romanos, bastava para honrar toda a Lusitânia, pois 14 anos alcançou deles gloriosas vitórias. Quem quizer ver esta matéria por inteiro, leia demais dos antigos Geografos, aos historiadores modernos, Vaseo na His t. de Hesp. C. 8. André de Resende por todo o L.1 de suas antiguidades, F. Fernardo na Geografia Lusitana, Duarte Nunes na descrição de Portugal c.1 e finalmente F. Amador Arrais Dialogo 4 da gloria, e triunfo dos Lusitanos e outros." 

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES