(continuação da III parte)
Assim animados com a confiança que lhes incutia a presença do Santo Lenho, os portugueses atacaram os granadinos. Foi dura e longa e terrível a peleja. Começavam já a enfraquecer os nossos:
"... os membros com que haviam de ferir lhes enfraqueciam assim que os não podiam reger senão muito gravemente. As vozes deles eram baixas e tão mudadas que se não entendiam uns aos outros, como aqueles que começaram a lide à hora de Prima [seis da manhã] e estuam passante meio dia. Os mouros refrescavam-se cada vez mais e mais dos que estavam folgados."
"... os membros com que haviam de ferir lhes enfraqueciam assim que os não podiam reger senão muito gravemente. As vozes deles eram baixas e tão mudadas que se não entendiam uns aos outros, como aqueles que começaram a lide à hora de Prima [seis da manhã] e estuam passante meio dia. Os mouros refrescavam-se cada vez mais e mais dos que estavam folgados."
A fraqueza corporal foi felizmente vencida pelas fortalezas da fé. Continuemos a dar a palavra ao cronista do Livro das Linhagens:
"Esta hora foi para os cristãos de angústia. E diziam contra Jesus Cristo "Senhor porque entraste no ventre da Virgem Maria e nasceste dela e foi virgem ante parto e pós parto, Senhor porque te prouve de receber morte por salvação dos cristãos, Senhor porque ressurgiste ao terceiro dia a tirar os que jaziam em trevas e em coita, Senhor porque nos mostraste caminho de salvação pelos sacramentos que nos destes, Senhor porque nos mostraste em como fazer igrejas em que te louvássemos e seguíssemos pois de todo isto hoje faleces a toda a cristandade?."
Foi então que, na aflição da derrota iminente, deram pelo desaparecimento do Lenho Santo:
"Estando os cristãos nesta pressa e coita aventura sem esperança chegaram três cavaleiros ao Prior D. Álvaro de Pereira e disseram-lhe: "Senhor que fazeis? Os cristãos estão em perdição, as azes de cunha e de curral [Az de cunha: disposição das tropas em forma de cunha; Az de curral: disposição do exército em forma circular para envolver o inimigo] e cinco magotes estão folgados e não é coisa que como veerem a lidar os que posades sofrer. E uvera cruz não tendes aqui! O Prior foidissto muito coitado pelo que ele dissera ao Rei D. Afonso que por a bem aventurada santa vera cruz havia de vencer primeiro. E disse em alta voz: "ai Deus poder-me-ieis dizer onde e ficou?". E os cavaleiros aí disseram "Senhorse cá nos viemos ficar o crerigo neste vale."
Correram pressurosos a buscar o Santo Lenho e operou-se logo a reviravolta:
"Estando em esta presa e esta coita chegou o cavaleiro de foi em busca da vera Cruz com seus três criados bem armados eles e seus cavalos e trazia a vera Cruz ante seus braços em grande asta, e os três cavaleiros [estes cavaleiros forma sepultados com D. Álvaro Gonçalves Pereira na igreja do mosteiro da Flor da Rosa, junto do Crato, pois "que com ele se criaram", como explica o autor do fragmento do Nobiliário] ante ele e viam a maior parte dos mouros ali entrava com a vera Cruz [...]. [Os portugueses] que estavam já muito esmagados pela força que perderam, olharam para ela e viram-na andar entre os mouros, e logo em si sentiram que a graça de Deus estava com eles porque se acharam naquela hora valentes e esforçados como em começo da idade [...]. Ali se mudou a quentura que estava em choro "e de lágrimas e de grande lástima" e amargura a toda a cristandade e tomasse em toda a lidice e em todo o goyo, os cristãos seguiram a vera Cruz por um dia".
Os destroços na mourama foram ingentes, porque os portugueses - acrescenta a crónica medieval - "entendiam que andavam cobertos com a graça da vera Cruz em que traziam os olhos" e cresceram "como leões bravos", pondo em debandada os maometanos, que já diziam mal de Mafoma, que "não havia poder para os defender".
Os próprios infiéis confessaram que a sua derrota se deveu à aparição da Cruz. De feito, quando o turco Alcarac segurou o cavalo do Rei de Marrocos, Abul-Háçan (O Albofacem do Livro das Linhagens e o Aben Amorim da Lápide da Sé de Évora) impedindo-o de voltar-se contra os cristãos que o perseguiam, a fim de o salvar da morte certa, perguntou-lhe este: "Como sabes tu que eu recebera morte?". Disse ele, "Senhor sei porque eu vi coisas estranhas e tão maravilhosas que por homens não se poderia pensar".
(a continuar)
Correram pressurosos a buscar o Santo Lenho e operou-se logo a reviravolta:
"Estando em esta presa e esta coita chegou o cavaleiro de foi em busca da vera Cruz com seus três criados bem armados eles e seus cavalos e trazia a vera Cruz ante seus braços em grande asta, e os três cavaleiros [estes cavaleiros forma sepultados com D. Álvaro Gonçalves Pereira na igreja do mosteiro da Flor da Rosa, junto do Crato, pois "que com ele se criaram", como explica o autor do fragmento do Nobiliário] ante ele e viam a maior parte dos mouros ali entrava com a vera Cruz [...]. [Os portugueses] que estavam já muito esmagados pela força que perderam, olharam para ela e viram-na andar entre os mouros, e logo em si sentiram que a graça de Deus estava com eles porque se acharam naquela hora valentes e esforçados como em começo da idade [...]. Ali se mudou a quentura que estava em choro "e de lágrimas e de grande lástima" e amargura a toda a cristandade e tomasse em toda a lidice e em todo o goyo, os cristãos seguiram a vera Cruz por um dia".
Batalha do Salado |
Os próprios infiéis confessaram que a sua derrota se deveu à aparição da Cruz. De feito, quando o turco Alcarac segurou o cavalo do Rei de Marrocos, Abul-Háçan (O Albofacem do Livro das Linhagens e o Aben Amorim da Lápide da Sé de Évora) impedindo-o de voltar-se contra os cristãos que o perseguiam, a fim de o salvar da morte certa, perguntou-lhe este: "Como sabes tu que eu recebera morte?". Disse ele, "Senhor sei porque eu vi coisas estranhas e tão maravilhosas que por homens não se poderia pensar".
(a continuar)
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