21/07/14

CONGAR - A NOVA ECLESIOLOGIA (V)

(continuação da IV parte)

2. A influência de Chenu
Professor de história das doutrinas cristãs no Saulchoir, o Pe. Chenu foi tomando cada vez mais importância após 1926. Nos anos trinta, elaborou uma espécie de nova teologia, que pretendia honrar S. Tomás de Aquino (cujos ensinamentos eram obrigatórios), mas que na realidade, tentava relativizá-la: "Não nos faltou a audácia para pegarmos de repente, num dos maiores Doutores da Igreja, separando-o das verdades eternas para o inserirmos no espaço temporal", separando-o das verdades eternas para o inserirmos no espaço temporal", explicava Chenu; enquanto o Pe. Congar ao entrar em 1925 para os dominicanos, era nomeado professor no Saulchoir em 1931, e sofrendo directamente toda a influência do Pe. Chenu, relatava o seguinte: "Quando entrei para o Sauchoir, já tinha uma certa experiência do tomismo (...). No domínio da filosofia, S. Tomás já estava certamente ultrapassado. A sua psicologia racional, por exemplo, a sua crítica do conhecimento (a epistemologia) não podiam ser suficientes. O Pe. Roland-Gosselin, nosso professor, comentava Descartes, Kant... . No entanto, o Tomismo constituía o pano de fundo da nossa formação intelectual. A Suma de S. Tomás era o nosso manual; nós comentávamo-la artigo a artigo. Já não o poderíamos fazer hoje, à excepção talvez de alguns tratados. Devo explicar que S. Tomás de Aquino estava, de novo, inserido no seu contexto histórico. Já não era considerado por nós como uma espécie de oráculo, dominando os tempos, e que teria iluminado de uma vez por todas as grandes verdades da fé." [quanto ao estudar no contexto, o autor quer referir aquele artifício dos nossos tempos com o qual se se quer fazer acreditar que uma obra, ou autor, são mero fruto de um contexto, e afastando assim o leitor e o estudioso de olhar em si mesmas as ideias do autor.]

Ou seja "o método e os princípios que serviram aos antigos doutores escolásticos para a instrução da teologia, já não responderiam às exigências do nosso tempo, nem ao avanço das ciências": o problema todo é que se trata aqui de uma proposição condenada por Pio IX, e depois mais tarde por São Pio X na Encíclica Pascendi!

Pio XII, na sua Encíclica Humani Generis (1950) condenou igualmente esta forma de inserir S. Tomás apenas no seu "contexto histórico": os inovadores, como o deplorava este papa "dizem que a filosofia que ensinamos nas nossas escolas, com a sua apresentação clara das questões e das suas soluções, as suas noções cuidadosamente estabelecidas e as suas claras distinções, pode ser útil para iniciar à teologia escolástica, e estava marvilhosamente adaptada aos espíritos da idade-média; mas, dizem eles, já não se apresenta como o método de filosofar que responde à nossa cultura e às nossas necessidades". São Pio X já tinha, denunciado esta táctica própria aos modernistas: "A filosofia escolástica é relegada para a história da filosofia, entre os sistemas caducados." (Encíclica Pascendi).
Cardeal Suhard

Em 1932, o Pe. Chenu foi nomeado reitor dos estudos no Saulchoir, e em 1937 publicou um pequeno livro audacioso, onde expunha a sua maneira de ensinar S. Tomás de Aquino: "Une école de théologie, le Saulchoir". O Santo-Ofício ficou preocupado, o Pe. Chenu deu mostras de se retrair. Em 1942, sob Pio XII, este livro foi colocado no Índex, e o Pe. Chenu foi destituído do seu cargo de reitor do Saulchoir pelo motivo que "desacredita a teologia escolástica, o seu carácter especulativo, o seu método, o valor das conclusões que tira da revelação; e todo este descrédito recai sobre S Tomás". No entanto, o dominicano modernista teve o apoio de cúmplices, mesmo entre os cardeais: "O Cardeal Suhard confrontou-me nessa altura. Fez-me chegar até ele, e disse-me textualmente: 'Pequeno Padre, não se perturbe, daqui a vinte anos, todos falarão como o senhor'. Isto passou-se em 1942; em 1962, João XXIII dava abertura ao Concílio."

(a continuar)

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