RESPOSTA
ÀS
REFLEXÕES
REFLEXÕES
DO
CONSELHEIRO JOÃO PEDRO RIBEIRO
SOBE
A BREVÍSSIMA RESPOSTA
DO
P. M. Fr. FORTUNATO DE S. BOAVENTURA
DADA POR
Fr. FORTUNATO DE S. BOAVENTURA
SOBE
A BREVÍSSIMA RESPOSTA
DO
P. M. Fr. FORTUNATO DE S. BOAVENTURA
DADA POR
Fr. FORTUNATO DE S. BOAVENTURA
LISBOA
Na Impressão Régia
1830
1830
Com Licença
I
Começando pela Introdução digo e afirmo, que é a coisa mais notável, que tem aparecido neste governo. Começa por erguir a minha Ordem de duas faltas gravíssimas: 1.ª porque não mandou alguns Monges a Lisboa, para estudarem os elementos da Arte Diplomática: 2.º por lhe faltarem Censores inteligentes, que examinassem a minha História Chronológica, e Crítica da Real Abadia de Alcobaça. Respondo à primeira: Não os mandou, porque tem na Capital do Reino apenas um começo de fundação, sem os necessários rendimentos para a subsistência de Monges, a ponto de ser indispensável, que os Mosteiros da Ordem contribuem, para que ali exista um Esmoler Mor, e um Procurador Geral. Se tivéssemos em Lisboa um Mosteiro, como o de S. Bento da Saúde, não teríamos faltado a esta aplicação, posto que, a dizer a verdade, não era preciso, que para este fim nos deliberássemos a fazer grandes sacrifícios. Quando entrei na minha Ordem (1794) tinha ela uns três Paleógrafos distintos; e se o Cronista dos Cistercienses Fr. Manuel de Figueiredo mereceu os elogios, que se lhe fazem na pág. 301 das memórias da Literatura Portuguesa, publicadas pela Academia Real das Ciências de Lisboa, como poderia ele gozar os créditos de Historiador, se lhe faltasse um dos primeiros subsídios para escrever em tais matérias? Em que Aula estudou, ou aprendeu o meu Censor o que sabia ao tempo, e que foi nomeado Lente de Diplomacia? Foi tudo nascido da própria, e nunca assaz louvada indústria; outro tanto sucedeu a Fr. António Brandão; e posto que mui longe de ombrear com este grande homem, dou graças a Nosso Senhor, que me concedeu os meios necessários para estudar a Arte Diplomática, de que tenho dado tais quais provas no meu Comentário Latino sobre os Manuscritos da Livraria do Mosteiro de Alcobaça, e na publicação de três tomos da Colecção dos Inéditos Portugueses da mesma Livraria; e o caso é, que nenhuma destas Obras se poderia fazer sem uma contínua, e aturada leitura de Códices, que foram todos escritos entre os séculos XI e XV.
II
Pelo que toca à segunda arguição, direi, e não o direi sem protestar o mais vivo agradecimento aos meus Prelados, que assim estes, como o todo da minha Ordem tiveram para si, que eu não seria tão arrojado, e louco, que sem ter um cabedal de notícias, ao menos suficiente, para entrar nas grandes empresas Históricas, de que estava, e ainda estou encarregado, me abalançaria a enxovalhar o meu crédito de envolta com o dos meus Irmãos. Entretanto não me faltou a Censura, sabiamente determinada por leis da minha Ordem; e dois Professores escolhidos de entre os melhores, que ela tem, interpuseram o seu juízo sobre a minha Obra, antes que fosse cometida às Censuras, exigidas por determinação das Leis deste Reino. Considero-me, e gostosamente me considero, numa distância quase infinita dos grandes homens, que me precederam na minha Ordem, e repare o meu Censor, que se eu me dei a escrever História sem os mais importantes, e absolutamente indispensáveis subsídios para este fim, é certíssimo que nunca será possível, que ofusquem o nome de Brito, Bradões, Santos, e Figueiredo, segundo afirma (que oxalá fosse tão verdadeira, como obsequiosamente) o meu Censor pág. 15, em conclusão do seu Opúsculo!
Da primeira Reflexão do meu Censor, e que responde ao 1º§ da minha Brevíssima Resposta, se conclui a olhos vistos a causa verdadeira, porque tanto se insiste, e porfia em que os Coutos de Alcobaça fossem povoados ao tempo, em que se fez a primeira Doação do Senhor D. Afonso Henriques. Parece dar-se a entender, que o Soberano lhe doou meramente a sua herdade, e que o mais foi usurpado pelos Monges, que não seguiram a modestíssima reserva dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, que sendo-lhes doada a herdade de Tamuge em Torres, até agora se tem contentado com ela. Pergunto ao meu Censor, se algum ocioso quisesse impugnar os títulos, por que ele é Cónego, e Lente, é Cronista do Ultramar, é Conselheiro, ficaria ele de bom ânimo, e se lhe chegassem ao vivo, deixaria de queixar-se de tão monstruosa injustiça? Não se encheria de mais justa indignação, a ponto de não evitar o próprio estilo declamatório, que mais de uma vez me tem lançado em rosto? Desengane-se o meu Censor, e com ele toda a grei de conspiradores, que tem jurado arrasar, e nivelar com o chão o antigo Mosteiro de Alcobaça, desenganem-se todos por uma vez, que a verdade nua, e crua é esta. À excepção e alguns pedaços de terreno cultivado nos distritos de Porto de Moz, e Óbidos, tudo o mais era ermo, e inculto, e que os próprios nomes de Cela Velha, Cela Nova, Vestiaria, Valado, Salir do Mato, e outros muitos estão mostrando a novidade das Povoações, e os principais autores, a que elas se devem; e para dizer tudo por uma vez, tal era a penúria de argumentos, em que laborava o meu Censor, que a pág. 9 das suas Breves Reflexões escrevia assim: "Como poderia o Conde Henrique sustentar as guerras, que teve; como seu filho conquistar Santarém, sitiar Lisboa, e vencer em Ourique cinco Reis Mouros, se do seu estreito Principado fossem inclusas, e inabitadas terras tais como as de Alcobaça?" Pois não é líquido, e fora de toda a controvérsia, que os Portugueses das Províncias do norte foram os conquistadores da Província da Estremadura? Se a Praça de Santarém foi escalada por duzentos e cinquenta Portugueses, era talvez necessário, que forçosamente se completasse este número com as imaginadas recrutas dos Coutos de Alcobaça? Não dariam as Províncias do Norte esse apoucado número de combatentes, que se mediram no Campo de Ourique com o poderio imenso da Mauritânia? E que maior prova de moderação posso eu dar, que o remeter-me ao silêncio, e abster-me de censurar neste lance, e mui amargamente, o meu Censor? Sem haver mudança de folha acharei coisas mais sérias, e mais dignas de uma completa refutação.
III
Da primeira Reflexão do meu Censor, e que responde ao 1º§ da minha Brevíssima Resposta, se conclui a olhos vistos a causa verdadeira, porque tanto se insiste, e porfia em que os Coutos de Alcobaça fossem povoados ao tempo, em que se fez a primeira Doação do Senhor D. Afonso Henriques. Parece dar-se a entender, que o Soberano lhe doou meramente a sua herdade, e que o mais foi usurpado pelos Monges, que não seguiram a modestíssima reserva dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, que sendo-lhes doada a herdade de Tamuge em Torres, até agora se tem contentado com ela. Pergunto ao meu Censor, se algum ocioso quisesse impugnar os títulos, por que ele é Cónego, e Lente, é Cronista do Ultramar, é Conselheiro, ficaria ele de bom ânimo, e se lhe chegassem ao vivo, deixaria de queixar-se de tão monstruosa injustiça? Não se encheria de mais justa indignação, a ponto de não evitar o próprio estilo declamatório, que mais de uma vez me tem lançado em rosto? Desengane-se o meu Censor, e com ele toda a grei de conspiradores, que tem jurado arrasar, e nivelar com o chão o antigo Mosteiro de Alcobaça, desenganem-se todos por uma vez, que a verdade nua, e crua é esta. À excepção e alguns pedaços de terreno cultivado nos distritos de Porto de Moz, e Óbidos, tudo o mais era ermo, e inculto, e que os próprios nomes de Cela Velha, Cela Nova, Vestiaria, Valado, Salir do Mato, e outros muitos estão mostrando a novidade das Povoações, e os principais autores, a que elas se devem; e para dizer tudo por uma vez, tal era a penúria de argumentos, em que laborava o meu Censor, que a pág. 9 das suas Breves Reflexões escrevia assim: "Como poderia o Conde Henrique sustentar as guerras, que teve; como seu filho conquistar Santarém, sitiar Lisboa, e vencer em Ourique cinco Reis Mouros, se do seu estreito Principado fossem inclusas, e inabitadas terras tais como as de Alcobaça?" Pois não é líquido, e fora de toda a controvérsia, que os Portugueses das Províncias do norte foram os conquistadores da Província da Estremadura? Se a Praça de Santarém foi escalada por duzentos e cinquenta Portugueses, era talvez necessário, que forçosamente se completasse este número com as imaginadas recrutas dos Coutos de Alcobaça? Não dariam as Províncias do Norte esse apoucado número de combatentes, que se mediram no Campo de Ourique com o poderio imenso da Mauritânia? E que maior prova de moderação posso eu dar, que o remeter-me ao silêncio, e abster-me de censurar neste lance, e mui amargamente, o meu Censor? Sem haver mudança de folha acharei coisas mais sérias, e mais dignas de uma completa refutação.
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