(continuação da I parte)
Quem disse, ou prometeu a essa grei de estouvados, e furiosos, que hão de ser bem sucedidos nesta, como guerra, dos gigantes, que pretendiam escalar o Céu.... Acham toda a Europa vigilante, e preparada, e nestas circunstancias é, que se lisonjeiam de um infalível triunfo!.. E porque lhes não servem de escarmento as lições do passado? Que intentassem desentronizar os Reis, quando não havia a experiência de uma Revolução, como foi a de 1789, era sim arrojo temerário, porém não faltaria nesse tempo, quem os acreditasse, e que se deixasse embaír de suas esplêndidas, mas fraudulentas promessas! mas que sendo geralmente conhecidos pelas suas façanchas, que achando-se estampados os títulos da sua condenação nos Monumentos destruídos os títulos da sua condenação nos Monumentos destruídos pelo Vandalismo Pedreiral, que fica muito acima dos seus modelos, nas Nações empobrecidas, e aniquiladas, e em os progressos da imoralidade, que se estende com uma rapidez incrível por todos os lugares, onde bafejar o maçonismo, queiram assim mesmo, teimem, e porfiem na projectada regeneração, ou total perdição do género humano, é coisa que me espanta, e me confunde ao mesmo tempo, que me convence perfeitamente de que é insondável a malícia, e perversidade do coração humano?
Nenhum destes Gracos modernos tem a força necessária para dizer a uma Revolução "hás de conter-te nos limites, que eu muito quiser, e não te será dado excedê-los" e por isso temos visto, que os Demagogos mais queridos do Povo, cujos melhores interesses eles se diziam promover, acabam ordinariamente à maneira dos Gracos, isto é, feitos em postas pelo mesmo Povo, a quem desencaminharam, e seduziram.
É pois uma verdade assaz conhecida, e mui bem demonstrada pela história das Revoluções antigas, e modernas, que os seus autores bem longe de conhecerem o fruto desejado, que é a mudança de fortuna, são engolidos no próprio vórtice, que eles prepararam, e dirigiam... Sabendo-se isto perfeitamente, donde vem, que os Pedreiros Livres não cuidam, nem pensam em outra coisa, que não seja fazer revoluções, e mais revoluções? Porque não deitam os olhos a outra coisa mais, que à facilidade, com que os seus companheiros de armas têm subido ao cume das grandezas em tempos de revolução, e porque no meio da sua obstinada cegueira, não se lembram da Sentença de Horácio, que é aplicável a tantos homens, e a tantas coisas, e vem a ser "que o cabeço das montanhas está mais preto do raio, que o fundo dos vales."
Quanto melhor não teria ido aos Mações Portugueses, se fazendo tréguas com o espírito revolucionário, que de contínuo os move, e os agita, fossem vivendo tranquilos, e ainda que não contentes ao menos sossegados! É todavia o que eles não tem, nem podem ter na sua mão.... Tanto que sopra algum vento favorável, e aparece na Cidade das Revoluções um Carriço, que para guardar a sua patente de Coronel interessa, em que se faça dentro em poucas horas uma Revolução..... ei-la feita a pedir de boca, e padeça quem padecer, ou siga-se uma aluvião de males, que ainda seria maior, se o Povo Lusitano já com os olhos abertos, não tivesse enxotado os seus pretensos Regeneradores.
Enfim, o mais rústico dos nossos paisanos conhece, que não há Seita pior, que a dos Mações, e que ser governado por eles é o máximo de todos os males; e persuadem-se os tais heróis, que puderam enganar a seu salvo os Reis da Europa, e que não terá lugar uma Cruzada para o extermínio da Seita? Oh se há de ter! É exigida, e mui fortemente pela necessidade da própria conservação do Mundo, e por consequência há de existir, e acabar de uma vez com os Pedreiros Livres, sob pena de caírem por uma vez todos os Tronos da Europa, e de se trasladar o inferno para a terra, pois a terra assenhoreada pelos tais filhos da Luz, que outra coisa seria mais que um vivo retrato daquela morada de horror, de confusão, e de tormento..?
E serão acaso destituídas de fundamento as minhas conjecturas? Deitemos um volver de olhos ao que tem feito os principais Gabinetes da Europa nestes últimos tempos, relativamente ao Maçonismo. A Casa de Áustria levou até demonstração a existência de um plano, traçado pelos Carbonários de Itália, de inteligência com os de Alemanha, pelo qual se resolvia não só esbulhar o Imperador dos seus Estados da Itália, mas dividir-lhe, retalhar-lhe o Império todo em pequenas fracções, ou Repúblicas, o que é muito do gosto Maçónico, para terem cópia de Lugares, em que acomodem a bicharia dos Irmãos vadios, parasitas, e sem emprego. A Prússia bem ensinada pelas suas desgraças, também acordou a tempo, e achou, que as Universidades eram o ponto de reunião, em que a Maçonaria despregava o seu poderio, e incansável actividade.... Havia professores, cujo verdadeiro emprego era o de fazerem grandes recrutamentos para a Maçonaria. Um deles foi o decantado Professor Jahon, e cuja residência foram achados papeis da maior consequência, e um avultado número de punhais, com a Letra Ornato do Cidadão, e talvez mui parecidos com esse, que de ordem da Sociedade Teutónica atravessou o coração do célebre Kotzbue. Mostrou-se evidentemente por esta ocasião, que grande é o perigo das Sociedades Secretas, pois uma, que principiara debaixo da influência, e protecção da tão formosa, como desgraçada Rainha da Prússia, e que dirigindo-se inteiramente a quebrar os ferros, que o Corso Bonaparte havia lançado aos descendentes de Frederico II, por isso era denominada "a união da virtudes" pelo andar do tempo degenerou, e seria o fatal instrumento da escravidão da sua pátria, se lhe não cortassem os voos... Na própria Dieta Germânica se traçaram eficazes providências, para se atalharem completamente os danos do maçonismo, que já tinha urdido a sua costumada teia, quero dizer, Toda a Alemanha República, mas dirigida por uma Sociedade Central, ou Areópago, donde se repartissem as Luzes por toda a Europa.... Falta-me a Rússia, e ainda me falta o melhor. É voz constante, que a Maçonaria foi levada para este Império pelos Oficiais, que fizeram as Campanhas da França em 1814, e 1815; porém o Club, ou Loja de Martinista, erigido em Moscovo pelo famoso Príncipe de Repniw, logo depois da conclusão dos Preliminares da Paz entre a Rússia, e a Porta a 11 de Agosto de 1791, é alguma coisa anterior a 1814, e o caso é ter-se descoberto, que os Irmãos, filhos da Luz tratavam mui seriamente de desentronisar a Imperatriz Catarina II, que fazendo nesta ocasião, e magistralmente, como era do seu costume, o papel de Soberano, fez prender os Sócios, e castigá-los em proporção de seus delitos sendo a menor pena o desterro para a Sibéria.... Perdoem-me os Sábios deste Reino esta digressão, pois como escrevo só para o me adorado Povo de Deus, ou Povo Lusitano, é do meu interesse, que ele fique sabedor de todas estas miudezas, e não vá por aí dar crédito aos Palinuros, que dão a Rússia, por isso mesmo, que está longe, como se fosse uma Aliada firme do Maçonismo, que a tanto chega, como eu já vi, a estranha audácia de tais noveleiros, e impostores. Ainda há bem poucos anos deu a Rússia uma Caçada Geral aos Pedreiros Livres, e foi o Imperador tão bem servido pelos seus Ministros, que se chegaram a descobrir todas as ramificações da Seita, que levou um corte, de que ainda não há exemplo nos outros Reinos da Europa.
Daqui se vê mui resumidamente, e é o que basta para os meus fins, a disposição actual dos Gabinetes da Europa, e o favor, que a Maçonaria deve esperar de todos eles. Estão os Reis certos, e certíssimos, que o Espírito Revolucionário os designa como o primeiro alvo das suas fúrias; e havemos de crer, ou imaginar que se tornem umas estátuas impassíveis, e que já nem tenham ao menos olhos, para verem, que a desgraça de Carlos X, é uma lição, em que eles devem aprender a terrível sorte, que os ameaça, assim como a necessidade de empregarem todas as suas forças, para esmagarem de tal arte o maçonismo, que nem sequer lhe fiquem restos de vida, ou a mínima sombra de esperanças para o futuro?
Podia ser muito mais largo, porém já tenho dito o rigorosamente necessário, para verificar as minhas proposições; e para se ver, o que elas são de verdadeiras, e justificadas pela experiência, concluirei com uma autoridade Liberal. Será com uma autoridade Liberal, e nada menos, que do insigne Arcebispo de Malinas = Mr. de Pradt, que na sua Obra intitulada O "Congresso de Viena" deu por fim, (e no fim da mesma Obra se podem ler) saudáveis conselhos ao seu dilecto, e sobre todos querido Liberalismo Francês. Desviai para sempre (diz ele, e creio que ainda vive, assim como estou certo que a leitura dos seus escritos deitou a perder muitos Portugueses velhos, e novos, que eu conheço) desviais para sempre os olhos desse campo de Política, onde a final só colhestes espinhos, e onde sempre encontrareis a Europa em armas contra vós.... E que outra coisa tenho eu querido provar?
Coimbra 5 de Dezembro de 1830.
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