(continuação da IV parte)
ELEIÇÕES
POPULARES – Termo ilusório. O Povo tem direito de eleger seus Representantes. O Povo não pode errar nesta eleição, etc.
Pois veja Vm. aqui que o Povo de Bolonha, Modena, e Ferrára elegeu os seus,
porém não elegeu ateus, malvados, nem franchionotes: ei-lo aqui subitamente
declarado incapaz de eleger. Anuliam-se as eleições feitas, e pelo bem do
mesmo Povo, que não sabe o que se faz, tem a tirania maçônica que tomar o improbo trabalho de fazer umas novas, e
verdadeiras eleições á democracia. — Porém,
como é isso! O Povo é que tem o direito de eleger. — Optimamente: porém os tiranos tem o de
cassar, e anular as eleições, que o Povo faz. — Senhor, que não concorda a
dança com o pandeiro. — Valha-te o diabo agoureiro! Se não concorda, a
Filosofia democrática sabe o segredo de fazer concordar. — Por tanto, em resumo
de contas, a Soberania do Povo consiste em eleger seus Deputados, e vê-los logo
depois anulados, desterrados, e metidos em cárceres? Pois então claro fica
demonstrado que a Soberania do Povo
democrático é uma coisa bastante irrisória, e fantástica.
CONSTITUIÇÃO
– Sempre é a obra mais divina que hão visto os humanos, e em cuja formação tem
consumido seu calor vital a moderna Democracia. Sem embargo disto, a uma
Constituição democrática sempre acontece a mesma desventura, que ao porco, que
um ano nasce, engorda, e é levado ao matadouro. Apenas é dada à luz uma
Constituição democrática, eis que em desfilada correm os Filósofos, arqueando
as sobrancelhas, e batendo palmas para levantar-lhe o horóscopo. Que coisa tão
divina!? A uma voz se grita, ela é o suprassumo da política, o non plus ultra da sabedoria humana, e a
fonte perene da felicidade dos Povos. Aceita-se, jura-se sua observância,
deve defender-se à custa da vida, e do sangue. Por felicidade nossa todas estas
protestações e juramentos democráticos significam menos que nada, uma vez que
se não haja de roubar, e assassinar, porque então conservam todo o seu vigor, e
inteireza. Porém volte Vm. a folha. Passou já o ano? Pois bem, já o porco está
gordo: ao chão com ele. Que desgraça!... A coisa divina, o chefe d’obra, o ápice da bemaventurança de
repente se há convertido em uma coisa miserável, em uma sementeira de
desventuras para o Povo Soberano!
Adeus juramentos! A obra original vai-se
a eito e a esmo, sem o menor perigo do sangue democrático. Concebe-se
profundamente uma outra Constituição, tão felicitante (dizem os arquitectos)
como a primeira, e debaixo dos mesmos horóscopos. Isso não obstante, toda a
Constituição Democrática deve ser sempre imutável, indivisível, eterna, etc.
etc. Daqui coligimos o significado de um outro Vocábulo Democrático, que é "ETERNIDADE" (veja-se no fim da
Nota que segue.)
(*
Julgamos necessário fazer algumas reflexões sobre esta palavra Constituição,
para nós o símbolo da desventura, e da desgraça! ... E para que procedamos com
clareza, nós a distinguimos em duas classes "Constituição Democrática" e
Constituição Carteira = Em quanto à 1.ª, a experiência tem mostrado ser
verdadeiro, o que o Autor diz da sua aparição prodigiosa, dos encômios, que
os Filósofos lhe tributam, dos presságios venturosos, que se anunciam, bem
como há curta duração de semelhante antro luminoso, que quando parecia
difundir mais brilhantes raios, então começa a declinar de seu Zenith, até se
ocultar em um horizonte nebuloso, donde quase sempre rompem horrorosas
tempestades! E se acaso se não tem acabado em um só ano, como acontece à vida
do porco, do segundo até o terceiro não escapa. Os Povos bem instruídos por
eles mesmos, e convencidos pela experiência, que os revolucionários não são
mais que ladrões, impostores, malvados, que lisonjeiam a classe mais ínfima da
Nação, prometendo-lhe coisas grandes, e que depois de a chamarem ao seu
partido, se servem dela como degrau para subirem aos lugares e aos empregos, e
logo a esmagam debaixo dos mesmos seus próprios pés; eles mesmos tem tomado o partido de lhes darem o pago, e de reduzirem a pó um edifício, que era a obra
mais perfeita, que ainda apareceu na Sociedade: protestam, juram os Senhores
Deputados, que são os Representantes do Povo, que não querem outra lei senão a Divinal, que não reconhecem outros
princípios de direito publico e particular senão as bases da divinal, que não
querem outra economia, senão as finanças da Divinal,
que não querem outras armas nem tropas, que não sejam cívicas, criadas pela Divinal, e declaram à face do Mundo em o
Salão das Necedades, que eles mais
valentes que um Cícero, hão de morrer pela liberdade da Pátria, assentados em aquelas cadeiras!!... Bravo! Que valência!! Mas de língua, porque no outro dia
evaporam-se: lá se vêm muitos em Vila Franca misturados com o Povo, que
gritada = Rei Absoluto = isto é, Rei
sem grilhões de pedreiros =, e beijando aquela mão, que desejavam ver cortada
bem lhe importam os Povos suas ameaças, e juramentos: se eles tiveram direito
para querer a Divinal, tem eles por consequência o direito de a rejeitar, e
mandar para o inferno semelhantes Procuradores: cujus est dare, cujus est tollere: e assim acaba quase sempre esta farsa, ou entremezam, em que figuram todos, doidos, e velhacos, e todos eles
esfomeados, e ladrões.
(continuação, VI parte)
(continuação, VI parte)
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