06/11/14

1514 - EMBAIXADA DE D. MANUEL AO PAPA LEÃO X

Papa Leão X
A duas maiores embaixadas de Reis a Papas são feitas por reis portugueses. A maior de todas, depois da qual durante muitos anos não se atreveram outros reis a enviar embaixadas alguma a Roma, foi a de D. João V (séc. XVIII). A segunda maior embaixada tinha sido a de D. Manuel (séc. XVI). É esta de D. Manuel que vou transcrever do "Os Portuguezes em África, Ásia, América, e Occeania" (... Volume III, 1849, pag. 99-101):

ElRei D. Manuel Manda um Rico Presente ao Papa Leão X

D. Manuel, Rei de Portugal
"(...) No Monarca [D. Manuel] sobresaia a piedade a par das outras virtudes e dotes grandiosos de alma, e não deslembrava as coisas do Céu pelas da terra; por isso o Pntífice Leão X, Vigário de Cristo, não esqueceu ao Soberano, que fez a ventura destes Reinos.

[...]

Tinha o dia 12 de Março [dia de S. Gregório Magno] de 1514 sido escolhido para Tristão da Cunha dar Embaixada pública em Roma, e foi ela pelo seguinte modo: Às duas horas da tarde um luzidio cortejo saía do palácio de sua habitação segundo o Embaixador extraordinário, e dois Fidalgos, a quem ElRei dera também o carácter de Embaixadores; grande número de trombetas, charamelas, pífaros, e atabaldes de ElRei, acompanhavam o cortejo luzidamente vestidos, e a cavalo: seguiam-se muitas azemulas, que homens com várias e ricas librés levavam de rédea, as quais iam cobertas de ricos panos de seda de várias cores, e insígnias: seguia-se o Rei de Armas de Portugal, vestido de roupa de pano de ouro, com as Armas do Reino coroadas, e cercadas de pérolas, e rubis. Logo mais de cinquenta nobres, vestidos de peles, e brocados, com chapéus ornados, e cobertos de pérolas, e aljofares, e a tiracolo talabartes de ouro e pedraria, montados em cavalos, com selas, peitorais, e mais arreios de ouro maciço, ou de lavor esmaltado de pérolas, e pedras preciosas. Cada um destes Cavaleiros levava grande número de criados com ricas librés. Seguia-se um elefante índio, sobre o qual ia um rico cofre com o presente, coberto de um pano tecido de ouro com as Armas de Portugal, que não só cobria o cofre, mas também o elefante até arrastar pelo chão; ia também sobre ele um Naire que o mandava, vestido de roupa de ouro e seda; ia mais um cavalo pérsico, que ElRei de Ormuz mandára a ElRei D. Manuel, e uma onça, com um caçador também pérsico, que a levava nas ancas do mesmo cavalo. Este brilhante trem, a que se juntaram os Embaixadores de todas as Côrtes, que se achavam em Roma, e todas as grandes personagens daquela Côrte, fazia a mais aparatosa comitiva que jamais se viu em semelhantes acções. Logo que o elefante avistou o Papa, que no castelo de S. Ângelo estava com todos os Cardeais admirando a magnificência deste brilhantissimo acompanhamento, ao sinal que lhe fez o Naile, se humilhou três vezes, e tomando na tromba grande quantidade de água de cheiro, que estava preparada, rociou com ela ao Papa, e Cardeais, e depois a todos em circuito. A onça também executou vários movimentos, que admiraram a todos. O presente para o Papa constava de um Pontifical completo bordado a ouro, guarnecido de riquíssima pedraria, em que se viam muitas romãs de ouro maciço, cujos bagos eram finíssimos rubis. Foram também mitra, bago [báculo], anéis, cruzes, cálices, e turíbulo, tudo em ouro batido, coberto de pedraria, e muitas moedas de ouro de quinhentos cruzados cada uma. O Pontífice dirigiu aos Embaixadores as mais distintas expressões em louvor de ElRei, e do Reino de Portugal. Este presente não só espantou a Itália, mas também a Europa, pois se estimou em mais de um milhão da nossa moeda (Esta soma era reputada nesta época de grande consideração)."

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