07/05/19

O PUNHAL DOS CORCUNDAS Nº 32 (II)

(continuação da I parte)

Não me foi estranho que soasse logo o canhão de alarme, e fosse decretada solenemente nesses covis pedreirais a minha perseguição (ao mesmo tempo me elogiava pelo Maço Férreo na própria Gazeta Universal, e me excitava a combater os Mações uma personagem de alta hierarquia, e assaz conhecida pelo seu acrisolado realismo, e pelo seu tão vasto como profundo saber. Assim eu merecera os seus louvores como ele [o Excelentíssimo Senhor D. Luís António Carlos Furtado de Mendonça] as merece pela sua elegante e incontestável demonstração dos erros do Cidadão Lusitano, e pela excelente carta latina ao Santo Padre Pio VII, em que tão sucinta como eloquentemente deplora os males da Igreja Lusitana no governo constitucional!!). Um devoto militar foi o denunciante oculto, e uma ordem expressa do Ministro da Justiça fez pôr em movimento os austeros e incorruptíveis Jurados de Lisboa, que me deram por incurso na mais formal transgressão das leis coercitivas do exercício da liberdade da imprensa… Se eu blasfemasse de Nosso Senhor Jesus Cristo, dizia um piedoso Mação Conimbricense, não era nada, nem ele me dicaria aborrecendo por isso… mas ter eu a louca presunção de atacar o mimo da sabença, o corifeu, o dulce decus, et praesidium da Maçonaria Lusitana, era no seu conceito uma acção iníqua, atroz, e digna de muito mais que o perder a cadeira de grego, e direitos de cidadão, e os cinco anos de cadeia!!! Vi pois formar-se a negra e medonha tempestade, e sem grandes receios ou pavores tratei de poupar aos Mações Coimbrões o gostinho de me verem prezo na cadeia da Portagem, e tomei de tal sorte as minhas medidas, que me seria mais fácil e mais doce o morrer nas planícies de Castela, então um infestadas de guerrilhas de ambos os partidos realista e constitucional, do que ser uma vítima sacrificada ao ídolo Tomasiano (bem quisera eu especificar aqui pelos seus nomes todas as pessoas a quem fui devedor de especiais atenções e obséquios neste porventura o mais arriscado lance da minha existência. Enquanto se me não deparar ocasião de satisfazer estes meus desejos, farei ao menos especial memória do actual Prior de Vila Cova de Subavô Manuel Lopes Garcia, e de seu sobrinho o Padre Manuel  Garcia, residente em Gramassos, que me facilitaram a saída desde Vila Pouca até ao Mosteiro de Aguiar, onde fui cordialmente recebido e agasalhado pelo D. Abade Fr. Manuel de Melo, e pelo Celeireiro Fr. Sebastião de Morais. Eu não passaria neste Mosteiro alguns dias tranquilos se o actual Juiz de Fora de Castelo Rodrigo António Pinto Machado, tão bom Ministro como leal vassalo de ElRei Nosso Senhor, me não tivera sossegado nomeio dos meus bem fundados temores. Quando se começou a murmurar da minha longa demora naquele Mosteiro foi-me necessário mudar de terra, e no concelho de Selores, em Trás os Montes, achei refúgio até passar a tempestade, por conselho e por indústria de meu amigo Fr. Dionísio de Mesquita, Monge de S. Bernardo, que para o diante, como zeloso e ardente realista que sempre foi, militou na guerra Transmontana, o qual me fez viver sem receio em casa dos seus parente por espaço de cinquenta dias; e é bem digno de observação que constando aquele concelho de milhares de pessoas só ali houvesse um Constitucional!!!! Custa-me a deixar em silêncio o quanto devo ao meu Prelado local o Reverendíssimo Padre Mestre Fr. Francisco de Melo, e às duas Comunidades de Vila Pouca da Beira do Instituto do Louriçal, e de Lourvão da Ordem Cisterciense. Naquela mal posso notar preferência, excepto se for na actual Vigaria do Mosteiro Soror Maria do Santíssimo Coração de Jesus, natural de Alcobaça, onde me ensinou a ler, escrever, e contar; e nesta merece o primeiro lugar D. Ana Bárbara de Faria a actual Abadessa, que já o era nesse tempo, e que mereceu no sistema constitucional a distinta honra de ser denunciada no Astro da Lusitânia por ter feito recitar ou cantar um Te Deum em acção de graças pela declaração da Santa Aliança no Congresso de Verona. Em ambos estes Mosteiros se fizeram Orações fervorosas e incessantes, para que eu fosse livre da perseguição dos ímpios). Revela porém confessar ingenuamente que seriam talvez infructuosas estas medidas se a Providência não tivesse posto em Coimbra naquela época um desses homens, que seguindo imperturbavelmente os caminhos da honra, da probidade, e da justiça, parecem destinados para consolar os homens enfastiados de verem à roda de si cópia de baixezas, de perfídias, e de injustiças. Foi este homem o Corregedor, e actualmente Desembargador do Porto, António José da Silva Peixoto, que mais para o diante havia de figurar com os seus nobres e honrados sentimentos em causa de maior vulto, e mais graves consequências de que podiam ser todas quantas lhe apareceram em Coimbra durante o seu para mim, e para todos os Realistas, sempre memorável e saudoso triénio… De Lisboa se intimou a este digno Magistrado que me fizesse condenar a todo o custo!! Assim procede o Maçonismo em a execução dos seus palavreados de igualdade, liberdade, direitos de cidadão, e de livre comunicação dos pensamentos do homem!!! A minha retirada para o território espanhol fez demorar tanto a minha causa, que só veio a decidir-se em tempo do actual Corregedor Pedro Henriques de Castro, que não desmentiu nem um só ápice da nobre firmeza e imparcial justiça do seu antecessor, e bons três meses depois da jurídica e bem fundada pronúncia de Lisboa fui unânime e triunfalmente absolvido no Conselho dos Jurados de Coimbra, que nunca soube marchar em sentido constitucional, e que tanto em a minha causa, como em outras, que lhe foram devolvidas, mostrou a mais escrupulosa observância das lis, pondo de parte as tímidas contemplações, e os respeitos humanos, que tantas vezes empecem a boa administração da justiça, e conseguintemente a felicidade pública…. Se me esquivei de nomear os Juízes que me condenaram em Lisboa, e de fazer agora imprimir o libelo do Promotor de Coimbra, não praticarei o mesmo, nem com os Juízes que me absolveram, nem com os que me defenderam por escrito.

(continuação, II parte)

2 comentários:

Anónimo disse...

nada de suevos, os portugueses são os portucalenses visigodos-ostrogodos, essas historietas de suevos é coisa de viajantes tresloucados. assim. LSouza

anónimo disse...

Caro L. Souza, obrigado por comentar.

Os suevos evaporaram!?

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