02/04/19

O MASTIGÓFORO - F ("Fanatismo")

letra
F


Fanatismo - Que palavrão este para me encher longas páginas, se eu pretendesse recensear as coisas, e os objectos a que os Mações têm posto o Sobre-escrito "Fanatismo". Ora o fanatismo denota um zelo de religião, porém cégo, e desmarcado, e também se diz figuradamente de todo o excesso, ou demasia em algum sentimento bom e louvável, como por exemplo, o Senhor da Trofa, que se precipitou da ponte de Coimbra abaixo para se livrar dos rendimentos, que lhe seria necessário fazer ao Rei de Castelhano, que ali passava, foi rigorosamente um Fanático de Realismo. O Regimento Transmontano, que se deixou cortar até aos último soldado na guerra da Grande Aliança, foi um fanático de brio, e coragem militar; porém agora já se não trata desses fanatismos, apareceu outro de maior monta, que os Pedreiros, como inimigos de todas as crenças, definem assim.

"Fanatismo é a crença de qualquer religião que seja, é o apego à crença de seus pais, é a convicção da necessidade de um culto público, é a observância dos seus  ritos, e cerimónias, é o respeito aos seus Símbolos. Tudo isto é fanatismo. Quem estiver iscado dele é um inimigo da pátria, e deve ser exterminado."

Ora esta definição traçada por quem pertenceu quarenta anos à Seita dos Filosófico-Pedreiral, não é para desprezar, nem para ficar no tinteiro (Não há nenhum remédio senão conformar-se o homem à linguagem recebida - são palavras de Mr. de Laharpe Tomo 13 pág. 379. "Sabe-se que há muito tempo a palavra Religião foi riscada da Língua Francesa. Todos os povos do mundo que até agora tinham uma religião, já não tem senão fanatismo. É para notar, o que não escapará aos historiadores, que quando os Filósofos sem calções traziam diariamente à Barra da Convenção os vasos sagrados, e os ornamentos do culto, não se lembraram nunca de dizer, os despojos da Religião, os despojos do Culto, guardavam-se de o dizer; eram sempre os despojos do fanatismo. Que coisas vão metidas nesta expressão para quem estiver em circunstâncias de reflectir… Eu escrevia em 1791. Que homem honrado se esquivará de pertencer à Religião de Fenelon? Conto pôr agora em uma nova edição." Que homem honrado se esquivará de ser fanático como era Fenelon?); porém deve-se acrescentar, que por fanatismo entendem os Mações com muita especialidade a Santa Religião de Jesus Cristo. Desde o tempo que a Maçonaria se entronizou neste Reino (que já vai há um par de anos) era fanatismo ouvir Missa todos os dias, quando a Igreja nossa Mãe quisera que fizéssemos ainda coisas melhores durante o Sacrifício! era fanatismo rezar estações com os braços em cruz, não obstante ser esta a prática dos fieis dos primeiros Séculos, segundo nos consta dos escritos de Tertuliano; era fanatismo confessar-se a miúdo, como se os fiéis assaz cuidadosos de remediarem logo as feridas do corpo, não devessem mostrar ainda maior emprenho por acudirem às feridas da alma; era fanatismo rezar cada um as suas contas, e fazer um bocado de oração, ou vocal, ou mental, como se um homem, dias e dias esquecido de um Deus, que o criou, e o enche de benefícios, não fôra uma espécie de monstro!! E se há 20 ou 30 anos já havia tantos fanatismos, vejam lá o que subiria a conta de 24 de Agosto de 1820 por diante!! Os Sacramentos do Corpo, e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo já era vilipendiado de tal maneira, que dentro em poucos meses não seria possível levá-lo aos enfermos, sem que víssemos apedrejado a ponto de que o seu Ministro era chamado, e por quem ensinava meninos. "O Azemel, ou Almocreve das almotolias"" Enfim tudo era fanatismo, e pouco tardaria, que o Sacerdote pelos exercícios da confissão, e pregação fosse arguido de fanatizar os povos, e como tal, ou espingardeado, ou posto pela barra fora, como praticaram os Mestres Franceses.

Fanatismo - E cuidavam os maçons que eu tinha acabado. Não senhor, ainda falta o eminentemente ridículo Fanatismo Pedreiral. São uns maníacos de nova espécie, que deitando-se de uma ponte abaixo, todos se afligem, e se enraivam de que lhe não façamos a destinta hora de os acompanhar-mos nos seus saltos (para o inferno). Ainda não houve seita mais fanática de momices, de toleimas e de ritos os mais provocantes de riso e mofa… Que é senão um fanático de pedra e cal, e um tresloucado, quem estima o seu Candeeiro triangular acima dos que se fabricaram para o Templo de Salomão, uma trolha a um ceptro, e uma espada do Irmão vigilante a um diadema Imperial!!

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